Parece uma coisa boba, mas falar sobre isso é algo que me parecia tão óbvio, que nem precisava ser dito. Mas não, hoje é algo necessário.
Já faz um tempo que eu percebi que o punk perdeu o sentido de existência, talvez porque aqui em BH a atuação tenha sido muito confusa, talvez desorganizada, e muita gente não compreendeu muito bem do que se tratava.
Digo punks de forma bem generalizada, porque a atuação coletiva sobreviveu durante pouco tempo por aqui. Ser punk é muito mais do que ter uma banda ou um visual a caráter, rebelde. Ser punk é aliar teoria e prática de ação direta buscando sempre o bem coletivo. Em BH houve vários grupos atuantes que dialogam com o anarquismo, promovem ação direta, grupos de discussão e reuniões de confraternização, mas não necessariamente essas pessoas são ou foram punks.
Em uma LIVE recente promovida por integrantes das bandas Mercado Negro (CE) e Las Calles (RJ), esse assunto veio em pauta, relacionando o atual hardcore e punk rock conservador e/ou politicamente isento, com essa questão da falta de organização e de crítica coletiva da galera que participa do rolé. E qual o papel da galera envolvida com o punk, com o anarquismo e com o hardcore nesses tempos de ascensão do ultra nacionalismo, do moralismo religioso e da extrema direita?
Muitas pessoas apenas esperam as coisas acontecerem, nunca correm atrás de organização, e me lembro até do pessoal do No Gods No Masters Distro falar sobre isso também, o quanto a galera rala muito para fazer as coisas acontecerem enquanto o público apenas tece críticas sem ajudar em nada.
O movimento hoje tem suas falhas, talvez, por essa falta de diálogos e de organização entre a própria galera no decorrer do desenvolvimento do punk, do anarquismo e do hardcore. Só de pensar que o Brasil foi um terreno fértil de bandas nos anos 90 e na primeira metade dos anos 2000, e que muitas dessas bandas hoje não existem, suas ideias se perderam, e a força geradora desse sonho em comum também enfraqueceu muito. Não me levem a mal, mas se hoje há pessoas que se dizem punks mas possuem comportamentos fascistas e intolerantes, alguma coisa foi compreendida de forma muito equivocada.
Vejo muita gente envolvida com o hardcore, mas pouca gente realmente ativa, que faz as coisas acontecerem. Isso é uma crítica à mim também, tive que lidar com as minhas questões e o coletivo ficou de lado, mas nunca parei o ativismo na forma de arte urbana, na forma de difusão de ideias, mesmo que em micro escalas.
Eu estou disposto a retomar essas conexões e voltar a formar uma rede, afinal, só conseguiremos chegar a algum lugar se o coletivo for forte o suficiente para tal.
Deixar de lado a ideia de ser o melhor em algo (afinal, não queremos nenhum tipo de competição) e focar no bem coletivo, em atitudes positivas, em agitação, em cultura, em ideias.
Essa estampa tem a ver com isso.
Isso não é uma competição.

