Pintar com tintas aquarelas é algo que eu ainda tenho dificuldades. Exige-se compreender os efeitos e transparências, trabalhar com quantidades distintas de água, ora com precisão, ora sem, mas exige-se, principalmente, muita paciência. Eu admito que demorou bastante até que eu conseguisse essa façanha de aguardar que a tinta se seque pra fazer mais camadas de cor. Demorou para que eu entendesse que tinta sobre papel seco e tinta sobre papel molhado também criam resultados distintos. Antes deu saber disso, eu pintava com a tinta muito concentrada direto no papel seco, como se fosse uma acrílica. E é óbvio que eu sempre acabava perdendo o ponto de diluição ou de passagem tonal. No final das contas, ficava tudo muito marcado pelo exagero e por grandes contrastes de cor. Não que isso seja ruim, mas acho que não era o resultado que eu buscava.
Foi vendo amigos aquarelistas pintando que eu fui compreendendo várias coisas que poderia fazer diferente, novas técnicas que eu poderia utilizar, e percebendo que a paciência realmente é necessária para alcançar alguns resultados. Artistas como Daniel de Carvalho e Prisca Paes me ensinaram bastante coisa em uma conversa que tiveram em uma Live no Instagram durante a pandemia. Curiosamente, ambos são formados em serigrafia (que é uma das minhas especialidades) mas se dedicam à pintura em aquarela, e ambos já trabalharam comigo aqui na serigrafia. Foi essa conversa e alguns vídeos que eu vi do processo de produção deles é que me fizeram mudar muito meu estilo de pintura, a buscar mais essa paciência de esperar cada processo se completar, de aguardar a secagem, de saber quando e como utilizar água. E é impressionante como que eu acho que deu certo.
Observando “Fotografias de Rua”
Uma das minhas paixões recentes é essa categoria de fotos conhecidas como “Fotografias de Rua” (Street Photography). Esse tipo de fotos eu já curtia, porém não sabia que havia essa categoria específica. São fotos que registram momentos nas ruas, sobretudo de pessoas interagindo com o ambiente urbano de alguma forma. Dentre as que mais me chamam atenção posso destacar aqui, sem sobra de dúvidas, fotos em que se sente o calor vindo do sol, cuja superfície vertical ao fundo fica evidente e a sombra dos objetos sempre muito marcada. Esse estilo tem me chamado atenção, o que me despertou interesse, inclusive, em sair para fotografar esses momentos dessa maneira. Ainda não consegui fazer isso, mas já tracei como metas em dias ensolarados.
Utilizando essa ideia, essa foi a primeira pintura que fiz. A sombra da luminária projetada distorcida na parede, a sombra do sujeito marcada no piso, um ambiente caloroso com um sol forte vindo de frente, amanhecer ou entardecer? Não sabemos. O sujeito caminha em direção ao sol, cabisbaixo.
A parede foi feita com tinta em papel molhado e o chão foi feito com manchas transparentes sobrepostas. Os elementos mais definidos foram feitos com camadas sobrepostas para dar forma, luz e sombra.
A segunda pintura que fiz utilizando essa mesma ideia, representa uma mulher caminhando em frente a um portão de grades. O portão foi isolado com máscara, e toda a parede surge como um elemento mais fresco ao olhar, se contrapondo à mulher que se protege do sol forte com uma sombrinha, óculos escuros, roupas leves. A sombra bem marcada no chão indica um sol a pino, próximo de meio dia na região entre Trópicos.
Nesta outra pintura, o sol vem de lado, forte e intenso, em um fim de tarde ou início da manhã de uma cidade qualquer. O semáforo, aberto para pedestres, também sofre interferência da luz solar. A sombra esticada indica o sol próximo à linha do horizonte, provavelmente entre o Ártico e o Trópico, o asfalto traz uma sensação mais fresca à imagem. O ciclista, sujeito da foto, pedala tangencialmente aos raios de luz, provavelmente fazendo um percurso norte-sul (ou vice versa). É uma imagem que traz consigo algo de paz e tranquilidade, um momento suave e pleno, sem o caos do horário de pico dos grandes centros urbanos. O efeito no asfalto foi produzido com tinta bem molhada e sal grosso, para fornecer uma textura mais rugosa. A sombra, que infelizmente eu escureci mais do que deveria, foi feita apenas com aquarela líquida diluída (ou mal diluída, rs).
Esta última pintura que analisarei talvez tenha sido a que menos curti o resultado. Nesta, a ideia do tempo passando enquanto o sujeito espera algo fica bem evidente. O sujeito está tranquilo apesar do sol direto de meio de tarde. Um período de relaxamento e contemplação do ato de esperar algo (um ônibus, uma companhia?). Uma das questões aqui foi tentar trabalhar a sombra bem marcada em níveis diferentes de paredes. O que me incomodou foi o alto contraste do toldo e da vidraça da porta que está a direita. Sem querer eu errei a mão na diluição e acabou ficando muito marcado, fugindo um pouco da estética que eu usei no restante da pintura. O céu foi feito também com tinta muito molhada e sal grosso, e o rejunte dos tijolos foi feito com máscara vencida.
Enfim, fazer esse tipo de estudo tem me agradado muito, inclusive muitas das minhas pesquisas visuais no Pinterest e no Reddit acabam indo um pouco por esse estilo de fotografias. Buscar o sol, a sombra, sujeitos e o ambiente urbano me permitem sonhar um pouco mais com o artista aquarelista fotógrafo que crio em mim.
Até já.