NUH! Festival de Artes Gráficas

Dias 16, 17 e 18 de junho eu estarei na Funarte participando do NUH! Festival de Artes Gráficas. Serão 3 dias de atividades, mostras de vídeos, feiras, palestras, exposições, mostra de vídeos, live-painting, DJ´s, etc… Estarei com todo meu leque de gravuras, camisetas, adesivos, zines, spokecards, prints e cartazes para venda.

16 de Junho – Sexta – das 18 às 21h
17 e 18 de Junho – Sábado e Domingo – das 11 às 19
Funarte – MG: Rua Januária, 68 – Centro de BH

Feira Urucum

Dias 4 e 5 de fevereiro (a.k.a. próximo fds) estarei com banquinha montada na Feira Urucum. Esta Feira é organizada pela Editora Impressões de Minas, e fará parte do evento Verão Arte Contemporânea na FUNARTE. Só chegar chegando, que o evento tem uma programação bem daora, e durante todo o tempo estarei com minha banquinha aberta para receber vocês, colocar o papo em dia, fazer novas amizades, e pá.

Pinturas com acrílica

Aproveitando 3 telas de pinturas pequenas, de 20×20 cm, e várias fotos que tirei a partir de edifícios altos no Centro de BH, finalmente retomei minhas habilidades de pintar com tinta acrílica.
A ideia é representar essa cena comum na paisagem urbana Belorizontina, onde topos de prédios (rooftops) levam os nomes daqueles que ousaram escrever por ali, juntamente com essas antenas, emissoras e receptores das diferentes frequências oriundas de sinais diversos.

As pinturas podem ser adquiridas através da nossa Loja Online. O vídeo com parte do processo de produção de uma das pinturas pode ser visto a seguir. Saludos!

Nostalgia em meio ao distanciamento social

Em meio a vídeos de asiáticos construindo casas de madeira com piscinas, recordes de dominós derrubados em sequência e que formam desenhos, trens em miniatura rodando por trilhos em toda a casa e vídeos impressionantes de pessoas descendo toboáguas ao redor do mundo, há coisas mais interessantes que merecem espaço na minha memória. Não estou falando dos vídeos impressionantes do tsunami de 2011 no Japão, ou dos vídeos informativos do Meteoro ou do Greg News, e, na real, nem tem a ver com vídeos de YouTube. A real é que eu fui um jovem que, como muitos nascidos no final dos anos 80, cresceu antes do mundo virtual, e isso foi muito massa.

Ontem estava conversando com minha esposa e com uma amiga, e ficamos lembrando, um pouco, como era na nossa época de jovens, onde circulamos em show de punk e hardcore no início dos anos 2000. Tivemos realidades bem diferentes, pois as criações sempre mudam dependendo dos pais, do local em que vivemos e dos nossos interesses. E aqui eu vou escrever sobre as minhas experiências.

Quando jovem, eu passava boa parte do meu tempo no final de semana andando de skate, bebendo bebida barata (famoso tubão) e indo em portas de show de punk e hardcore. Sim, eu ia na porta dos shows, raramente entrava, pois nem sempre eu tinha dinheiro o suficiente para pagar por um ingresso. Falando assim parece bobo, mas essas portas de eventos me proporcionaram grandes amizades, ótimos momentos ao lado de amigos e foi onde conheci muitas ideias e bandas novas. Os eventos, ou shows/gigs, eram importantíssimos na época para a gente conhecer bandas e ideias. Eu conhecia muitas bandas vendo as camisas que as pessoas usavam, trocávamos fitas k7, cd’s, e muita informação vinha através de zines. E vários amigos que fiz na época me ensinaram a fazer uma “intera” para pagar ingresso de algum evento.

Acho que foi importantíssimo para a nossa formação frequentar diferentes eventos, entrando ou se mantendo na porta, porque a informação sempre circulava. Os zines e as camisas de bandas eram diferentes se você ia no Dias de Caos, na União Punk dos Becos das Favelas de Santa Luzia, num show grande no Lapa Multishow que vinha bandas de fora do estado e/ou do país, algum evento no Matriz, um Goró Punk, ou um evento em alguma pista de skate. Circulavam pessoas diferentes, e era massa, porque, apesar das tretas que rolavam, eu sentia muita união entre todo mundo. Frequentei eventos de anarquistas, punks, hardcores, rap, metal, bandas mais melódicas, bandas locais, e sempre encontrava com alguém conhecido. A quantidade de pessoas que conheci sentado na porta ou no meio do Mosh, enquanto rolava um cumprimento após cada música da banda que estava tocando, são memórias que seguem ricas até hoje.

Ainda que eu entenda a falta de maturidade que eu tinha para lidar com as ideias e com as informações, reconheço que foi um período em que tudo circulava nesse submundo. Os zines eram feitos de maneira bem caseira, bem artesanal, os k7 também eram gravados de discos e cd’s e assim eram colocados para circular, e a cópia foi uma ferramente de disseminação de ideias. Pensando bem, talvez por isso eu goste tanto de gravura, de reproduzir minha matriz. Está comigo desde muitos anos.

Repensar a importância desta época tornou-se fundamental para pensar em algumas questões contemporâneas. Hoje os eventos são poucos e estão bem vazios, com pouco público. As informações não circulam impressas, e o profissionalismo faz com que muitos optem pela venda de zines e publicações do underground. Conhecer pessoas e músicas se tornaram tarefas puramente virtuais, e muitas das relações acontecem apenas aí. As ideias hoje circulam mais rápido, e temos acesso a muito coisa que é produzida nos quatro cantos do mundo, inclusive o que produzimos consegue chegar mais rápido a todos esses lugares. Mas as relações humanas físicas e presenciais seguem diminuindo, e acho que isso é uma tendência mundial com toda essa tecnologia da internet mantendo todos dependentes de aplicativos todo o tempo.

Lembro disso tudo, pois foi uma época muito boa. A maioria das músicas que eu escuto hoje são de bandas que conheci nessa época, e muitas das letras das músicas me formaram como pessoa. E sou muito agradecido por isso. Aos amigos da época, que hoje se dividem em conhecidos, grandes amigos e família, deixo aqui meu profundo agradecimento por fazerem parte da época, a tornaram tempos inesquecíveis.

É uma pena perceber essa queda do movimento, sobretudo já há alguns anos, mas feliz por saber que muita gente foi marcada por experiências como as minhas.

Existe vida além do shopping

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A enfermeira Fulana trocou o cinema pelo Netflix e cortou shows e teatro da rotina. Beltrana deixou de passear com os filhos em shoppings para ir a praças e parques públicos levando o próprio lanche.

Este trecho foi retirado do jornal “O Tempo” de 01/09, de uma matéria de capa que fala sobre crise financeira, cortas gastos e fazer bicos. Aparentemente nada de anormal na matéria, mas esse trecho em específico me fez repensar duas questões.

A primeira delas é “trocar o cinema e o teatro por Netflix”, como se ambos fossem exatamente a mesma coisa. No cinema (e eu digo bons cinemas, não esses de shoppings) você assiste a bons filmes, tem uma qualidade de som e imagem, ajuda a financiar filmes interessantes, muitas vezes independentes, que te fazem refletir sobre algo. Ao sair do cinema, você estará na rua, podem sentar-se em uma praça, conversar/debater sobre o filme, estreitar laços de amizade, ocupar o espaço urbano de uma maneira sadia. Ao sair do cinema, há milhões de outras programações gratuitas esperando público. No teatro a mesma coisa. Você colabora com grupos e artistas, com ideias, discussões, compreende o trabalho das várias pessoas envolvidas no processo da peça. Netflix é algo muito impessoal. Você assiste (há um pagamento também, porém mensal), geralmente compra algo em um desses aplicativos de comida (Rappi, iFood, UberEats, Glovo…), e logo depois vai dormir (ou fazer sexo, ou qualquer outra coisa). O que importa nessa minha fala é que tudo se repete, é sempre dentro de casa, local fechado, fazendo as mesmas coisas. A cidade é dominada por carros, enquanto deveria ser dominada por pessoas e atividades. E eu tenho minhas dúvidas se isso é realmente uma “economia”.

A segunda delas é o fato de que somente com uma crise financeira as pessoas descobrem que há uma vida urbana que vai além de shoppings centers e suas praças de alimentação e lojas. Ainda não consigo compreender a ideia de que as pessoas vão a esses lugares para passear, pois shoppings são locais de compra, tudo ali é pensado e planejado para que você compre. Praças e parques são locais de passeio, de descanso, de atividades ao ar livre, de encontros, de desfrute, de lazer. Eles foram feito e pensados para isso. São locais que quebram o caos e o cinza da cidade caótica, é onde você respira melhor, pode sentar-se e observar a movimentação da vida urbana. Belo Horizonte não é o lugar mais adequado para isso, eu sei, pois fora da Avenida do Contorno, a quantidade de praças e parques significativos é muito baixa. No bairro Padre Eustáquio, por exemplo, são consideradas praças uma rotatória e o estacionamento da igreja. Esses locais não possuem espaços verdes em abundância, nem locais satisfatórios para sentar e descansar, além de estarem situados em locais caóticos. Praças e parques significativos devem ocupar o espaço de um quarteirão, onde os moradores locais podem passear e descansar, podem exercitar-se, ler, observar, relaxar. Fugir desse caos que é BH. Você já parou para pensar se no seu bairro há praças ou parques que são significativos? Grandes e ocupados pelos moradores? Com áreas verdes, locais para sentar, gramado e arborizados?

Eu não culpo @s pais por levar os filhos para passear no shopping, afinal, tenho quase certeza que o bairro em que el@ mora não deve haver praças e nem parques. Eu até imagino el@ descendo para a garagem de seu prédio, entrando na SUV com os filhos, e dirigindo por BH buscando algum lugar em que ela consiga estacionar próximo a uma praça ou parque, para que os filhos possam se divertir. É difícil achar, sobretudo na área central, onde se concentram essas estruturas. “Espaços urbanos são perigosos, há muita gente, de diversas classes sociais, não há segurança, não há limpeza” dizem @s pais na minha imaginação, por isso el@ busca os shoppings. El@ paga um estacionamento e não existem flanelinhas. El@ desce do carro, caminha pelo estacionamento entre os carros, pois os estacionamentos não possuem locais seguros para pedestres (e aparentemente ninguém se incomoda com isso), e lá dentro há várias opções de vitrines para ver, filmes campeões de bilheteria, praça de alimentação com comida merda, ar condicionado, seguranças, e el@ realmente entende que aquele passeio é a melhor forma de entretenimento e lazer.

É uma lógica que eu não entendo.

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La Plata, Argentina. Fotografia aérea

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Belo Horizonte, Google Earth

La Plata é uma cidade em que, em teoria, serviu de base para o mapa urbano de Belo Horizonte. Uma coisa que me impressiona muito são as quantidades de áreas verdes e de regularidade viária que La Plata possui. Tenho dois amigos que fizeram intercâmbio lá e posso perguntar sobre a cidade para falar melhor posteriormente. Olhando do alto, Belo Horizonte possui pouquíssimos parques e praças, pois são coisas que, se feitas de forma significante, se destacam em meio ao cinza da área construída. A diferença é gritante. A área que corresponde ao bairro Padre Eustáquio nem demonstra sinal de que há algum espaço ali considerado praça ou parque. Onde estão as áreas verdes de BH? Esse processo de não haver espaços públicos de boa qualidade, amplos e acessíveis, talvez tenham feito com que os shoppings sejam mesmo os locais adequados para para passear. Há banheiros, chão regular, temperatura constante, locais para sentar-se, locais para comer… E Belo Horizonte se torna cada vez mais esse caos. Ninguém aguenta mais não. Transformaram em regra o que era para ser exceção. Enquanto seguir essa política urbana de construir praças em rotatórias, e fingir que há praças em estacionamentos de igrejas, a cidade seguirá essa masmorra. Dediquem 2  quarteirões em cada bairro para áreas verdes. Isso sim é qualidade de vida.

 

 

Adendo: BH se mostra carente de espaços públicos significativos, basta ver as ciclovias da cidade. Elas se tornam pistas de corrida e de caminhada. Não há espaços para a prática esportiva nos bairros.

Reflexões sobre a oficina no Memorial

No dia 27/07 eu fui convidado para propor uma oficina voltada para crianças no Memorial Minas Vale. Enviei duas propostas e a equipe do educativo curtiu a proposta de uma oficina de impressão de estêncil. Colocamos as diretrizes: média de idade entre 7 e 12 anos, público passante, estêncil com referências ao acervo do local, máximo de 15 pessoas na oficina para não tumultuar, oficina com 2 horas de duração. Tudo certo. Eu e minha esposa fomos ao Memorial fotografar algumas peças para usar de referência e tivemos várias surpresas. Não sei se é o meu preconceito com Museus e Galerias, ou com o Circuito da Pça da Liberdade, ou com as grandes empresas que dominam tudo, mas o local me impressionou bastante. Muitas obras sobre Minas Gerais, praticamente contando a história da Estado, tem pintura rupestre, objetos, maquetes, referências contemporâneas, literárias, tem coisa do Sebastião Salgado, sala multimídia… te confesso que me deu um certo pesar de não conhecer este espaço antes.

A oficina foi em um sábado e eu passei toda a sexta feira cortando estêncil para a oficina. A maior parte das matrizes foram sobre pinturas rupestres. Fiz também o mapa regional de Minas Gerais em três matrizes, fiz um de uma decoração do Memorial e outro de um objeto bem específico, mas que representa bastante MG.

Chegamos em ponto e começamos a arrumar a mesa. Alguns membros da equipe do educativo me auxiliaram durante o processo, bem como minha esposa, parte essencial da fluidez do trabalho.

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Logo foram chegando o público do museu, e muitos já chegavam cedo para a oficina, para não perder lugar. A partir daí foram as duas horas mais curtas pelas quais eu já passei na minha vida. Chegavam e chegavam pessoas, traziam seus filhos, perguntavam coisas, pediam papel, eu e Natália, minha esposa, naquela correria de tentar atender todo mundo, explicar como funcionam as técnicas de impressão, como fazer com a tinta, etc. Nusga, quando vi já estava quase na hora de encerrar a oficina. Crianças e adultos de todas as idades acabaram fazendo a oficina. Isso mesmo, não se limitou à faixa entre 7 e 12 anos. Tinham crianças mais novas, adolescentes, jovens, adultos, muitos pais fazendo acompanhando filhos mais novos, sobrinhos e sobrinhas, muitas pessoas de outros estados passaram por ali, e eu pensando em quão rica pode ser uma experiência assim em uma manhã de sábado. Uma mãe presente me disse que gosta de ir fazer essas oficinas porque são os momentos em que ela consegue distrair do cansaço do dia a dia. Outro pai foi ajudar o filho, e o filho não gostou, então ele mesmo foi fazer a pintura/impressão dele. Vários familiares perguntando sobre os materiais, pois viram que são coisas simples de se fazer, e que, apesar da bagunça, entretém as crianças muito mais que um celular brilhando na cara delas. Algumas crianças se sujavam, pintavam com as mãos, outras eram mais sérias, queriam fazer algo esteticamente interessante, outras fizeram várias composições. Cabuloso. Muitas crianças vieram me agradecer ao final da oficina, e nisso eu me derreto. Adoro quando me agradecem por algo que eu compartilhei/ensinei/ajudei. Talvez seja o grau de satisfação que me eleva e me faz entender que estou na área certa, apesar dos pesares.

Enfim, só tenho a agradecer a todxs que participaram e ajudaram nesse rolé. Foi muito massa.

Feira do Núcleo paNe!!

Olá amigxs, bom dia.

Dia 27/04, das 13h as 20h, eu participarei de uma Feira de Impressos na Usina da Cultura, no Centro Cultural Nordeste (Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga). Será um dia cheio de atividades, com uma programação bem massa. Parte dos organizadores, também eram produtores do Mercado Faísca, que eu expus durante muito tempo, então pode ter certeza que o evento será fino.

Clique aqui para visualizar a página do evento no Facebook.

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Aguardo vocês lá!!

Pedalar sempre, desistir jamais!

Terça-feira, 19 de Março de 2019. Saio de casa, monto na minha bicicleta e sigo para meu atelier. Trajeto simples, apenas 6 km, alguns morros bem singelos. Enquanto pedalava, um ônibus me ultrapassou guardando uma distância que não era maior que a palma da minha mão. Susto na minha lateral esquerda. O motorista joga o ônibus na minha frente antes mesmo de terminar de me ultrapassar. Sou obrigado a reduzir e a jogar a bike em direção ao meio-fio. 5 metros adiante o motorista para em um ponto de ônibus. Eu o ultrapasso pela esquerda, soltando alguns xingamentos. Ele arranca e me ultrapassa de novo, desta vez mudando de faixa e me ultrapassando da maneira correta, porém volta a me fechar, me obrigando a frear bruscamente para não bater. 10 metros adiante o semáforo fecha, e eu volto a ultrapassá-lo. Paro na sua frente e tiro uma foto do ônibus. O motorista ria da minha cara. Eram 14:04 quando tirei a foto.

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Ônibus que tentou me atropelar

Eu pedalo no meio urbano desde 2008 e quase todos os dias eu passo por alguma situação semelhante. Esse caso de ontem eu sei que vai ficar marcado por ver a expressão sádica do motorista enquanto eu tirava foto do ônibus. Ele não se importava com a minha vida, e acho que nem se importaria se eu morresse. Seria um ciclista a menos ocupando as ruas. Ele queria me amedrontar. Assim como muitos outros motoristas querem me amedrontar, querem amedrontar outrxs ciclistas, e eu fico imaginando a razão disso tudo.

Trânsito não é guerra ou disputa, é locomoção. Você não precisa ser o mais rápido, nem o que é mais hábil ao mudar de faixas, nem aquele que consegue passar em espaços minúsculos sem encostar em algum outro objeto. Esse último sujeito, inclusive, é o pior para quem pedala, pois constantemente passam tirando tinta de nossas bikes, tirando pêlos dos nossos corpos, para parar em algum semáforo ou engarrafamento logo em seguida.

Os motoristas ditos profissionais são os piores. Estatisticamente, na minha cabeça, eu diria que 79% das tensões que eu passo no trânsito são causados ou têm o envolvimento de ônibus, transportes escolares, táxis, caminhonetes de pequeno porte e esses fuckin Uber. Essa galera dirige muito mal. Passam raspando próximos de ciclistas, nos fecham o tempo todo para buscar passageiros, aceleram na nossa traseira e buzinam o tempo todo, achando que nós vamos simplesmente desaparecer da rua ao escutar a buzina.

Escutem bem: EU NÃO ENTENDO O QUE A SUA BUZINA ATRÁS DE MIM SIGNIFICA!

Eu coleciono acidentes enquanto pedalo. Em duas oportunidades eu caí por entrar com a roda dianteira em bueiros que estavam abertos e eu não enxerguei a tempo de desviar; já caí escorregando em óleo de carro que estava na pista enquanto descia um morro; um carro uma vez saiu do acostamento sem dar seta, me pegou de lado e ainda passou por cima do meu tornozelo com a roda dianteira; e eu já fui atropelado por um ônibus, que simplesmente ignorou minha presença ali e me pegou por trás, em cheio. São muitas as situações que eu já presenciei, e felizmente estou vivo, firme e forte.

O discurso da bicicleta como meio de transporte não é para todxs. Essa frase pode soar estranha, e por muito tempo para mim a bicicleta foi a solução para o mundo. Não é mais. Em Belo Horizonte, utilizar a bicicleta como meio de transporte requer muito mais que vontade de ajudar o meio ambiente e ser saudável. Requer paciência, disposição, preparo físico e um psicológico muito estável para lidar com todas essas situações diárias. Os carros não querem nem saber se você vai seguir direto em uma Via ou se você vai fazer uma conversão à direita, eles simplesmente te esmagam contra o meio fio, te fecham a fazem a conversão à direita na sua frente. São 3 ou 4 segundos que o condutor do automóvel poderia esperar até que um ciclista passasse. Mas, pelo jeito, esses segundos são muito especiais e não podem ser perdidos.

Passei por tanta coisa, e a maioria das pessoas que eu conheço me dizem sempre o mesmo: “Mas BH não tem ciclovia, aí fica difícil pedalar!”. Discordo. BH é difícil de pedalar por que o asfalto é ruim, tem bueiro aberto, tem capa de costela e remendo o tempo todo, e não há respeito. E é nesse ponto que eu firmo o pé no chão contra as ciclovias ou ciclofaixas. Para mim, elas têm utilidade apenas em vias muito engarrafadas, que facilita para o ciclista ao invés de pedalar nos corredores dominados pelas motos. As ciclovias não possuem utilidade nenhuma, na minha opinião. Elas começam em lugares aleatórios, e terminam em lugares aleatórios. Elas possuem muitos obstáculos, muitas são em cima das calçadas, e os carros te fecham em toda entrada de garagem ou esquina, ignorando o fato de que a preferência é do ciclista.

Muitos carros fazem a ciclovia de acostamento. Muita gente coloca os sacos de lixo para a coleta na ciclovia. Todo o lixo jogado na rua vai para as ciclovias. O asfalto da ciclovia está sempre mal cuidado. Há uma quantidade enorme de pessoas caminhando e correndo nas ciclovias. Esse último fator está altamente relacionado com o fato de que as calçadas são horríveis e possuem muitos obstáculos, por isso os pedestres preferem transitar pela ciclovias, e não há pista de corrida para a galera que corre. Pedalar na ciclovia virou sinônimo de interrupção todo o tempo, são muitos obstáculos, nenhuma continuidade, e os mesmos perigos do trânsito comum. Além disso, quando termina o trajeto de uma ciclovia, o ciclista tem que ir para a rua do mesmo jeito.

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Van na ciclofaixa da Rua São Paulo

Só para você ter uma ideia, no meu trajeto de casa para um dos meus trabalhos, não há sequer uma ciclovia. São 12 km de ida no meio dos carros. Na maioria dos meus trajetos diários, há ciclovias em apenas algumas partes. Uma destas ciclovias está situada acima da calçada, e ela muda de lado da Avenida em 4 situações, obrigando o ciclista que transita nele a se portar como pedestre, atravessando na Faixa Zebrada para seguir viagem do outro lado. É bizarro!

Sou contra as ciclovias, mas sou a favor de um trânsito mais humano e respeitoso.

11 anos ocupando meu espaço nas ruas de bicicleta, e não vou parar.