Seguiremos

Com os últimos suspiros de 2023 vem a vontade de escrever algo. Hoje estava pensando no que pudesse ser algo similar a uma certa retrospectiva desse ano que termina, mas acho que nada que eu escrevesse poderia representar tudo que foi. Em 2023 minha vida mudou drasticamente, teve aumento do número de clientes, de parcerias, de parceragens, de produção autoral e/ou terceirizada. Ingressei no mundo acadêmico e, ainda que eu esteja tentando me encontrar neste espaço, tenho curtido muito as pesquisas que tenho feito. Me propus a circular mais também, participei de algumas feiras em outras localidades e com isso acho que tenho conseguido firmar alguns laços importantes e ampliar as redes, conheci muita gente que significou muito para mim também. Muitas trocas importantes aconteceram nessas interações. Li bastante, tanto literatura quanto teoria, e produzi muito também na área criativa. Consegui escrever sobre minhas obras no blog, consegui inventar histórias e escrever relatos sobre minhas experiências também. Tenho me arriscado mais, sobretudo em situações em que eu havia perdido algumas das minhas habilidades. Também vivi fora das redes sociais por um tempo e, ainda que eu tenha desaparecido das timelines e feeds, foi a melhor ideia que tive em muito tempo. Vamos ver como será no próximo ano. Enfim, foi um ano ótimo. Obrigado por tudo.
Pego todas essas experiências e só consigo imaginar no porvir. O que será que teremos pela frente? Não importa, tô mais confiante que nunca.
Pego referências de DISCARGA e de FUN PEOPLE para encerrar este ano com um convite à luta, à memória, à resistência, e todas as possibilidades de vida que nos foram negadas/retiradas/arrancadas. Foi graças ao processo de resistir ao poder e às formas de dominação, de conseguirmos nos associar para firmar laços e de construir possibilidades distintas de vida que não desistiremos. Por AMOR seguiremos todxs de pé. Façamos nós mesmos o mundo que almejamos.
Pode vir 2024, estamos preparadxs!

Homenagem a Nêgo Bispo

Antônio Bispo dos Santos faleceu dia 3 de Dezembro de 2023. Eu me lembro bem do momento em que fiquei sabendo da triste notícia. Eu estava em Brasília, participando da Feira Gráfica MOTIM, que teve esta edição no Museu Nacional. Eu olhava para minhas gravuras expostas, e com destaque na minha banquinha havia a “Transfluência“, a gravura que fiz a partir de uma entrevista com Nêgo Bispo presente no livro “Mobilidade Antirracista“. Eu me inspirei muito na época ao ler cada palavra de Bispo. Já fazia um tempo que não produzia nada tão significativo e profundo, e esse foi um trabalho de pesquisa conceitual e imagético que me fez gastar muita energia no desenvolvimento. E é curioso porque muitas pessoas se interessam pela gravura, pela postagem que fiz falando sobre o processo de produção dela, mas ela está longe de ser um produto lucrativo pra mim. Acho que até hoje eu vendi apenas 1 cópia dela, para um casal de médicos que haviam parado na minha banquinha numa feira em BH. Mas talvez esse diálogo sobre tentar ~viver de arte~ não seja o mais adequado para este momento. Desde o dia 3 que eu fico pensando no que poderia fazer para prestar essa homenagem à uma pessoa que me tirou um pouco da inércia de ideias, e me fez repensar um pouco sobre a forma como eu produzia algumas coisas, sobre algumas associações que fazia enquanto artista visual. A entrevista dele me fez voltar a pesquisar para produzir. E eu digo que estava em dúvidas se fazia uma homenagem ou não com o receio de cair no oportunismo capitalista de almejar lucro aproveitando o momento do óbito de alguém. E isso não é e nunca será minha intenção aqui. Hoje eu entendo o quanto eu gostaria de agradecê-lo pelas ideias que ele expressou e que ecoaram na minha cabeça. Talvez ele nunca saiba da importância que ele teve na minha vida. Hoje mesmo eu estava pensando se eu tomei conhecimento da existência dele tarde demais… Mas acho que eu o conheci no momento certo em que suas ideias dialogavam as minhas. Tudo vibrou na mesma frequência.

Hoje eu fiz uma ilustração do Nêgo Bispo usando a referência de uma fotografia em que ele apoiava a cabeça nas mãos que se entrecruzavam na nuca. Ele olhava para cima, descansado e tranquilo. Um momento de paz e suavidade. Ao fundo, coloquei a imagem em marca d’água da gravura que fiz baseado nele, Transfluência. Nessa ideia, o conhecimento dele seguirá viagem através de outras matérias, e se recriará em outros povos. Tudo segue conectado.

VIDA LONGA NÊGO BISPO! OBRIGADO POR TUDO!

[ilustração] Ride in hell

Essa ilustração foi feita sem nenhum propósito aparente. Tava testando alguns efeitos enquanto esboçava alguma coisa e acabei me dedicando à esta tarefa mais que o necessário. Queria testar essas texturas de luz e sombra com retículas, e acabou que virou um emaranhado de retículas, rs. Mas talvez o que eu mais curti foi a brincadeira que tinha feito no Insta. A ideia era abrir a caixa de mensagens para que as pessoas pudessem sugerir uma fala ou uma descrição da imagem. Surgiram alguns muito bons como “Estou indo ver o filme da Barbie” ou “Até o capiroto é mais saudável que eu”. Algumas mensagens que arrancaram gargalhadas de minha pessoa foram “Pedalar, porque essas coxas não vão se definir sozinhas”, “Indo pra casa do boy sedento de tesão”, “Aff, esqueci a mochila do ifud” e “Preciso cortar a unha, tá agarrando no pedal”.

La Idea, 2023

Enfim, ilustração foi feita no iPad, com texturas do pacote gratuito da True Grit. Obrigado à todxs que participaram. Curti muito compartilhar esses momentos de risos com vocês.

[ilustração] Beco do Chá

Meu amigo Sanchez que cria uns blends de ervas que fazem parte do cardápio do O Infusionista me convidou para ilustrar a lata que iria embalar um novo sabor de CHAI, parte de uma coleção dos 4 elementos. Eu fiquei com o elemento TERRA. Chai é uma das minhas misturas favoritas, e o Sanchez faz uma versão especial, bem tropical.
Eu não perdi tempo. O Sanchez me deu total liberdade de criação com minhas ideias e meu estilo e é lógico que eu já pensei num beco mais underground, quente, com diversidade de pessoas, várias referências estéticas, intervenções, animais e qualquer coisa que a minha cabeça sugerisse na hora.

La Idea – Ilustração Original

E assim surgiu esse beco. Passagem de pessoas e mercadorias, com cartazes e adesivos colados, pixações, graffitis, personagens icônicos que vivenciam o dia a dia daquele espaço, tributos a atrações locais, ervas e temperos pendurados, gente mascarada preparando e servindo infusões, animais exóticos vivendo… Toda uma cena que rodeia o chá.


Obrigado pela confiança Sanches, curti muito o chá e a experiência de ter feito parte desse processo.

Você pode encontrar os produtos clicando AQUI ou AQUI.

Tatuagem da velha escola

Não é nenhum segredo o fato de que as tattoos estilo Old School são as que mais me agradam. É incrível o fato do artista sintetizar vários elementos em traços, sobras e coloridos simples. Claro que existem diferentes níveis de detalhamentos, e cada artista acaba colocando características próprias nas suas criações, mas isso não deixa de ter um papel especial no meu gosto por tatuagens. O estilo Old School, também conhecido como tradicional americano, teve sua origem com o lendário artista Saylor Jerry que, alistado na Marina dos Estados Unidos, teve contato com as tatuagens orientais e após a sua “aposentadoria” passou a tatuar os próprios marinheiros no Hawaii, com temáticas presentes na vida destes e com equipamentos e cores que haviam disponíveis na época. Hoje é um estilo muito disseminado, com várias ramificações, mas o tatuador que trabalha com Old School sabe muito bem porque o faz, e deveria conhecer bem sua história e como fazer bem feito.

Essa ilustração é uma homenagem a esse primórdio das tatuagens tradicionais ocidentais, representando a vida dos marinheiros (que eu boto muita fé, apesar de ser contra o militarismo e as forças armadas). O pôster impresso em alta resolução pode ser adquirido na Loja Online.

Para esse texto, utilizei como referência esse artigo.

Pintura digital

Esses dias comecei a fazer uma composição em perspectiva para mostrar em uma de minhas aulas de desenho virtuais como funciona o processo. Eu gostei tanto da composição que decidi continuar desenhando, transformando o que era um esboço em uma pintura digital, feito com o aplicativo Pro Create. A imagem foi produzida com registros manuais ou no “olhômetro”, portanto, as linhas tortas ou côncavas se fazem presentes. Utilizar de proporções matemáticas e exatas não foi uma solução na qual eu quis trabalhar.

Foi bem massa esse processo mais longo de um meio digital, tentei fazer detalhes bem minuciosos, trazer elementos das cidades grandes, graffitis, pixações, stickers, edifícios, propagandas, antenas, etc. O processo de desenho e pintura foi bem longo mesmo, e logo após o esboço, eu comecei a aula de desenho, para algumas explicações sobre o processo. O time-lapse do vídeo pode ser visto no link abaixo.

Marshall “Major” Taylor

Essa ilustração foi feita para homenagear o grandioso ciclista Marshall Taylor (Major Taylor), que conseguiu bastante notoriedade nas provas mais duras do ciclismo na época, enfrentou e combateu o racismo estrutural (apartheid) existente na época, e conseguiu registrar seu nome na história tanto do esporte quanto na do movimento negro. Um exemplo a ser seguido e admirado. O racismo não acabou. No esporte, tanto amador como profissional, vemos casos de racismo até mesmo entre integrantes da mesma equipe. Em 1896, Major Taylor foi expulso das competições de ciclismo em Indiana, USA, por obter mais vitórias e melhor desempenho que os atletas brancos. Pouco mais de 100 anos se passaram, e ainda vemos casos de situações similares.

O pôster desta ilustração pode ser adquirido clicando aqui.

Cansei do Coronavírus

Eu estou lidando muito mal com essa ideia que ficou conhecida como “o novo normal”. Usar máscara o tempo todo, seguir evitando aglomerações, não trombar com ninguém… Ahhhhhh. Que desespero essa situação. Já levamos 1 semestre de isolamento, paranóias, fake news e políticas incapazes de ajudar em algo. Brasil já passou dos 100.000 mortos, BH recém chegou aos 1.000 óbitos registrados (porque sabemos que os números são maiores), e não há previsões para o fim. Pode ser que hajam novas ondas, que retomemos isolamentos mais severos, e ainda tem muita história para acontecer nesse capítulo pandêmico.

Os médicos que ajudaram a combater a praga da Gripe Espanhola há 100 anos atrás possuíam várias teorias sobre a pandemia. As pessoas eram contaminadas pelo cheiro putrefato no imaginário popular e científico. A vestimenta dos médicos incluía uma máscara feita de madeira, com ervas na região do nariz, da respiração, para evitar o mau cheiro dos cadáveres. Durante, pelo menos, três anos a Gripe Espanhola seguiu ativa, contaminando e matando uma renca de gente através do globo. Minhas saudações à todos que ajudaram a combatê-la na época, e minhas saudações àqueles que tentam combater o Covid-19 hoje. Esse desenho é uma singela homenagem.

Mais Participação, Menos Expectativa

Em 2002 a banda Discarga lançava a música “Contracultura”, e em seu refrão esse grito ecoava em minha cabeça. O movimento punk/anarquista/contracultural possui a coletividade em sua raíz. Toda ação é construída pelos próprios sujeitos, e a junção de teoria e prática se torna uma ferramenta possível. O diálogo construído de forma coletiva produz mudanças positivas para a sociedade. É necessário, então, descruzar os braços e parar de esperar que as coisas aconteçam de cima para baixo. Devemos nos organizar e planejar/praticar ações que servem de faísca para novas ideias. No punk/anarquismo eu sempre escutei o lema “Faça você mesmo/Do It Yourself”, e talvez isso seja uma crítica e uma auto crítica à nossa inércia.

Digo isso até sobre a minha atuação também. Tenho o desejo de fortalecer os coletivos e retomar esse espaço de estudo, agitação e propaganda, fortalecer as redes de apoio e de diálogo que construímos/construir novas.

Eu acredito na influência que as ideias punk/anarquistas exercem na sociedade, e essa estampa diz muito sobre isso.

Sobre as referências que utilizei nesta colagem, são basicamente ideias de tudo que me fez sair do lugar. Essas referências me dão ideias para produzir, para viver. Aí vai uma lista das imagens que utilizei nesta colagem:
– Emma Goldman;
– Piotr Kropotkin;
– Buenaventura Durruti;
– punks ingleses sentados em um banco;
– punk com cara tapada e moicano de pé;
– foto de faixa “No Pasarán” durante a Guerra Civil Espanhola;
– Combatente da FAI (Federação Anarquista Ibérica);
– Ian Mackaye da banda Minor Threat;
– Isabella da banda Dominatrix;
– Rebeca da banda Anti-Corpos;
– Manifestante do Maio 68 em paris;
– Reunião de greve;
– Stage Dive/Mosh, capa do disco do GBH;
– “Mais participação, menos expectativa”letra da banda Discarga.

“Essa é a nossa contra cultura
Mais participação, menos expectativa
Centenas de pessoas envolvidas
Meia dúzia de sempre que organiza
É mais fácil do que pensam
Faça você mesmo
Não seja um mero expectator
Faça você mesmo
Não seja um mero expectator
Atue e conteste”

Discarga – Contracultura