[Stencil] A Grande Onda de Kanagawa

Interesse

Não me lembro bem quando foi que essa imagem se fixou tanto no meu imaginário. Mas gosto de pensar que o interesse que tenho em fenômenos da natureza geraram essa fixação. Em 2004, acompanhei atentamente todos os vídeos curtos e de baixa qualidade que circulavam na internet mostrando o tsunami da Indonésia. Tragédia que eu assistia o tempo todo, cada segundo de gravação. Quando entrei no curso de Geografia em 2009, devorava os livros de geologia e de cartografia, minhas áreas preferidas. A primeira e única vez que vi um vulcão foi em 2012, sobrevoando a Cidade do México. Paixão à primeira vista. Vejo vídeos de terremotos em diferentes localidades e fico imaginando como será essa sensação da terra se mexendo. Vi praticamente todos os vídeos do tsunami de Fukushima, 2011, além de ver vários vídeos de erupções vulcânicas, inclusive o canal ao vivo das Ilhas Canárias. Me lembro bem da minha professora Mônica, de geologia, falar sobre vulcões que expeliam lava continuamente na América Central. E até hoje eu tenho o desejo de ver isso ao vivo. Natureza que tudo destrói. Não é um sonho de destruição, mas uma certa admiração da nossa pequenez frente ao mundo.
Esse interesse que eu tenho de vivenciar certos fenômenos que inexistem atualmente nesse pedaço de terra em que vivo são algo que me movem. Imagino que observar a gravura “A Grande Onda de Kanagawa”, do mestre Katsushika Hokusai, talvez me traga um pouco dessa sensação. Não me lembro qual a primeira vez que a vi, mas me lembro bem de analisar cada centímetro desta gravura.

Produção

Foi em 2013 que eu tive a ideia de começar a reproduzir “obras de arte” com a técnica do stencil. Me propus a cumprir o desafio de logo começar com a imagem que circula no meu imaginário. De tanto observar os elementos da gravura, já tinha uma noção de como fazer. O processo não foi nada fácil. Na época, eu não sabia fazer separação de cores no Photoshop, e o processo foi completamente manual. Fiz uma impressão da gravura em tamanho aproximado de A3. Separei uma dúzia de radiografias, papel carbono branco, e fiz o decalque e as separações de cores de forma completamente manual. Não tinha noção de como iria ser o resultado, até porque tinha dúvidas se meu daltonismo me permitiria compreender as diferenças tonais. Mas não perdi muito tempo com a ansiedade e logo já comecei os cortes.
As camadas possuíam diferentes níveis de complexidade. O que era água, seriam três cores, sendo a primeira com muitos detalhes e dando contra forma à parte branca da onda, e outras duas camadas tonais complementares.
O céu, apenas duas camadas, envolvidas em borrifos e degradês para simular os tons da gravura original. As canoas, duas camadas de cores, tom sobre tom. As pessoas, apenas a camada das roupas.
Por último, o mais complexo. Uma camada de linhas finas que estariam em toda a imagem; repleta de pequenos detalhes essenciais para uma boa visualização; e uma última camada com as bolhas brancas saindo das ondas, além do papiro de informações sobre a obra que, nesta imagem, está presente no céu. Ambas camadas apenas funcionariam se todo o encaixe das cores anteriores estivessem perfeitos.

Uma questão que me deixou bastante inseguro no início foi a utilização das cores. E, nesse sentido, me esbarrei em duas questões:
– Em primeiro lugar, cada referência da imagem que eu encontrava nas buscas online me traziam cores distintas para a água e, de forma ainda mais evidentes, para o céu ao fundo. As variações eram enormes.
– Em segundo lugar, eu estava sujeito à disponibilidade das cores em spray que eu encontrava. Não é uma tarefa fácil achar a tonalidade certa, depende da marca e da disponibilidade da loja em ter o que precisamos. Isso, sem contar, que a cor de referência da lata nem sempre é a mesma da tinta quando pintada.

Lágrimas

Em 2015, tive a oportunidade de ver uma impressão da gravura ao vivo, no Metropolitan Museum. Vi tudo com meus próprios olhos e boatos dizem que algumas lágrimas escorreram. Ver a gravura in loco é muito diferente de ver as digitalizações, com suas correções de matiz e contrastes. Ver de perto cada veio da madeira que aparecia na impressão, a utilização das cores e degradês, cada detalhezinho de entalhe. Tudo isso me emocionou bastante.

Acho que essa experiência me trouxe uma sensação de que tudo que eu tinha visto antes era bem diferente, que as imagens de internet são em muito superadas pelas experiência ao vivo. Pra quem curte pensar na técnica, no processo, penso que somente o contato direto dos olhos com a impressão nos permite ver a grandeza e a riqueza dos detalhes, a forma de entalhe e tratamento da madeira, o sangue e o suor que ali foram depositados.
Por incrível que pareça, ver a gravura ao vivo me deixou mais confiante em experimentar outras combinações de cores, tentar criar outras atmosferas, ousar mais.

Acho que a experiência de ter feito esse stencil, todo de forma manual, me trouxe uma sensação das próprias limitações das técnicas, apresentando suas diferenças estéticas e uma sensação de que, cada vez mais, a xilogravura é algo muito mais complexo que uma mera estética.
“A Grande Onda de Kanagawa”, com toda sua fúria e sua beleza, abraçando o Monte Fuji, enquanto navegantes são espectadores e participantes deste momento, é algo que me toca profundamente.

Vídeo curto sobre as etapas de produção

Talvez as pessoas não tenham noção do que foi pensar e produzir essa impressão em stencil. Do trabalho em cortar, do trabalho em imprimir todas as 9 camadas de matrizes, com aproximadamente 14 cores sendo utilizadas. A dimensão disso tudo se perde com o tempo, e apenas o produto é apresentado, com suas falhas de impressão, borrões de tintas, inexatidão de cores. Mas acho que talvez tenha sido um processo tão relevante e significativo para mim que não posso ignorá-lo do meu histórico. O tempo de observação, os cuidados com o corte, a reflexão sobre as cores. O processo de impressão em time-lapse pode ser conferido a seguir. Produção de várias impressões em spray, muitas delas com cores experimentais e muita paciência.

Processo completo de impressão de todas as camadas

Seguiremos

Com os últimos suspiros de 2023 vem a vontade de escrever algo. Hoje estava pensando no que pudesse ser algo similar a uma certa retrospectiva desse ano que termina, mas acho que nada que eu escrevesse poderia representar tudo que foi. Em 2023 minha vida mudou drasticamente, teve aumento do número de clientes, de parcerias, de parceragens, de produção autoral e/ou terceirizada. Ingressei no mundo acadêmico e, ainda que eu esteja tentando me encontrar neste espaço, tenho curtido muito as pesquisas que tenho feito. Me propus a circular mais também, participei de algumas feiras em outras localidades e com isso acho que tenho conseguido firmar alguns laços importantes e ampliar as redes, conheci muita gente que significou muito para mim também. Muitas trocas importantes aconteceram nessas interações. Li bastante, tanto literatura quanto teoria, e produzi muito também na área criativa. Consegui escrever sobre minhas obras no blog, consegui inventar histórias e escrever relatos sobre minhas experiências também. Tenho me arriscado mais, sobretudo em situações em que eu havia perdido algumas das minhas habilidades. Também vivi fora das redes sociais por um tempo e, ainda que eu tenha desaparecido das timelines e feeds, foi a melhor ideia que tive em muito tempo. Vamos ver como será no próximo ano. Enfim, foi um ano ótimo. Obrigado por tudo.
Pego todas essas experiências e só consigo imaginar no porvir. O que será que teremos pela frente? Não importa, tô mais confiante que nunca.
Pego referências de DISCARGA e de FUN PEOPLE para encerrar este ano com um convite à luta, à memória, à resistência, e todas as possibilidades de vida que nos foram negadas/retiradas/arrancadas. Foi graças ao processo de resistir ao poder e às formas de dominação, de conseguirmos nos associar para firmar laços e de construir possibilidades distintas de vida que não desistiremos. Por AMOR seguiremos todxs de pé. Façamos nós mesmos o mundo que almejamos.
Pode vir 2024, estamos preparadxs!

Homenagem a Nêgo Bispo

Antônio Bispo dos Santos faleceu dia 3 de Dezembro de 2023. Eu me lembro bem do momento em que fiquei sabendo da triste notícia. Eu estava em Brasília, participando da Feira Gráfica MOTIM, que teve esta edição no Museu Nacional. Eu olhava para minhas gravuras expostas, e com destaque na minha banquinha havia a “Transfluência“, a gravura que fiz a partir de uma entrevista com Nêgo Bispo presente no livro “Mobilidade Antirracista“. Eu me inspirei muito na época ao ler cada palavra de Bispo. Já fazia um tempo que não produzia nada tão significativo e profundo, e esse foi um trabalho de pesquisa conceitual e imagético que me fez gastar muita energia no desenvolvimento. E é curioso porque muitas pessoas se interessam pela gravura, pela postagem que fiz falando sobre o processo de produção dela, mas ela está longe de ser um produto lucrativo pra mim. Acho que até hoje eu vendi apenas 1 cópia dela, para um casal de médicos que haviam parado na minha banquinha numa feira em BH. Mas talvez esse diálogo sobre tentar ~viver de arte~ não seja o mais adequado para este momento. Desde o dia 3 que eu fico pensando no que poderia fazer para prestar essa homenagem à uma pessoa que me tirou um pouco da inércia de ideias, e me fez repensar um pouco sobre a forma como eu produzia algumas coisas, sobre algumas associações que fazia enquanto artista visual. A entrevista dele me fez voltar a pesquisar para produzir. E eu digo que estava em dúvidas se fazia uma homenagem ou não com o receio de cair no oportunismo capitalista de almejar lucro aproveitando o momento do óbito de alguém. E isso não é e nunca será minha intenção aqui. Hoje eu entendo o quanto eu gostaria de agradecê-lo pelas ideias que ele expressou e que ecoaram na minha cabeça. Talvez ele nunca saiba da importância que ele teve na minha vida. Hoje mesmo eu estava pensando se eu tomei conhecimento da existência dele tarde demais… Mas acho que eu o conheci no momento certo em que suas ideias dialogavam as minhas. Tudo vibrou na mesma frequência.

Hoje eu fiz uma ilustração do Nêgo Bispo usando a referência de uma fotografia em que ele apoiava a cabeça nas mãos que se entrecruzavam na nuca. Ele olhava para cima, descansado e tranquilo. Um momento de paz e suavidade. Ao fundo, coloquei a imagem em marca d’água da gravura que fiz baseado nele, Transfluência. Nessa ideia, o conhecimento dele seguirá viagem através de outras matérias, e se recriará em outros povos. Tudo segue conectado.

VIDA LONGA NÊGO BISPO! OBRIGADO POR TUDO!

[xilogravura] Andina

O ano era 2014. Havia pouco tempo que eu havia ingressado, a partir do processo de transferência, ao curso de Artes Visuais da UFMG. Eu andava bem frenético no que referia à produção artística. Em 2012 havíamos vivenciado um cotidiano fronteiriço em Ciudad Juárez, México, e minha energia produtiva andava bem aquecida e estimulada por esta riquíssima experiência.
Eu conheci a linoleogravura enquanto estudante de Artes Visuales, no Taller de Grabado que eu frequentava em Cd. Juárez. Foi amor à primeira vista. No México, o acesso a materiais de gravura, matrizes, ferramentas e referências é muito mais amplo que aqui no Brasil. Inclusive, as ferramentas que comprei lá, e que eram as mais baratas, são as mesmas que uso até hoje.
São técnicas beeeem populares, pois existiram (e ainda existem) várias gráficas populares na região. No Brasil, a gráfica ficou restrita por muito tempo apenas à família real, e as ideias não circulavam tanto quanto na parte do continente colonizada pelos hispânicos (Mas essa história do desenvolvimento e popularização da gráfica talvez seja uma pesquisa para outra postagem).
Na minha tentativa de desenvolver mais a técnica, passava boa parte do meu tempo pesquisando artistas, processos, técnicas e temáticas. Que eu incorporei a cultura da região do México na minha produção não é novidade para ninguém. Basta ver meu portfolio que essa temática fica escancarada. Mas algo que eu incorporei foi esse amor ao processo gráfico artesanal, de pensar, refletir, produzir, e trazer ao público minha produção de maneira acessível.
Por isso me recuso a vender gravuras por valores irreais às condições econômicas de pessoas comuns, ainda que algumas tenham valor mais elevado, mas isso se deve, muito, aos materiais que aqui nos custam muito caros. Não gosto de fechar e limitar edições de gravuras cujas matrizes ainda podem ser reproduzidas, e sempre tento levar meu trabalho para outros suportes, como lambe-lambe e camisetas. Assim, garanto uma forma de acessibilidade visual que foge à lógica de galerias, por exemplo.


Os esboços em meus caderninhos são algo que eu curto fazer enquanto processo produtivo. Acho que é a forma mais sincera de se começar algo. Me lembro bem que eu treinava desenhos a partir de fotografias de pessoas, e eu curtia muito trabalhar os tecidos que apareciam. Gostava de observar e de representá-los de alguma maneira gráfica.

Não sei exatamente como essa fotografia surgiu na minha vida. Mas várias coisas me chamam atenção nela. A quantidade de pano, com muitas tonalidades e texturas; o olhar da mulher; o olhar da criança; a paisagem. É uma fotografia interessante aos meus olhos em vários aspectos. Até porque, nesta época, os temas que envolviam maternidade, mulheres e crianças em processos históricos (sobretudo de lutas) era algo que me chamava muita atenção.
Não pude perder a chance de praticar desenhos e logo abri meu bloquinho A5 para esboçar alguma coisa. As tramas do pano foram algo que me trouxeram a ideia de transformar a imagem em uma xilogravura. Várias linhas paralelas, de diferentes espaçamentos e espessuras, ditavam o ritmo. Essa textura parecia maravilhosa para um gravador iniciante.
O processo foi relativamente simples. Digitalizei a página do bloquinho, ampliei para um formato A3, imprimi. Na folha impressa, trabalhei com marcadores a base de álcool na cor preta, para criar os preenchimentos, volumes, vazios. Criei de forma manual uma imagem com linhas e formais mais rígidas, já pensando em uma estética própria da xilogravura. Após todas as marcações em preto estarem prontas, fiz uma cópia em impressora de toner, e fiz uma transferência pra placa de compensado de pau-marfim com thinner e prensa.
Daí, foi só começar o processo de gravação. Utilizei, majoritariamente, goiva faca para todas as bordas, e goiva em V muuuuito afiada pra fazer os detalhezinhos da textura do pano.
Foram algumas semanas gravando, mas acho que valeu a pena.

Após um longo processo de gravação e de testes, acho que fiquei satisfeito com a matriz que eu havia gravado. Precisava de um papel que estivesse à altura, que fosse tão delicado quanto à suavidade e serenidade da imagem. Optei por um papel de arroz tão fino, que praticamente não aparecia. Dava a impressão de que a impressão ríspida flutuava no ar. A impressão foi feita completamente com colher de pau, sem a utilização de prensa, com todo cuidado para que o papel não rasgasse por conta de sua espessura. Processo delicado, trabalhoso, mas que me trazia muita satisfação.
Logo abaixo seguem os resultados.

A única questão sobre esta gravura, é que eu acabei fazendo poucas cópias dela. Em 2015 ou 2016, não me lembro, houve uma infestação de ratos lá em casa. Eu tinha uma gaveta onde guardava todas as matrizes, bem como algumas impressões e revistas. Quando abri a gaveta, havia fezes e urina de ratos para tudo quanto é lado, tudo estava roído e/ou descascado. Eu preferi não arriscar. Coloquei luvas, juntei tudo em um saco de lixo e descartei. Perdi muitas coisas nesse processo, mas o que foi feito, pelo menos, tem fotos…

Testando marcadores “tons de pele”

Uma das coisas que mais sinto dificuldades quando vou fazer trabalhos que envolvem pessoas é compreender, a partir de cores comuns, como reproduzir tons de pele. Meu daltonismo me impede de ter segurança para fazer essas coisas. Nesses kits de marcadores, tintas ou lápis de cor eu nunca sei exatamente o que estou vendo ou usando. Ultimamente, para conseguir fazer alguns estudos (e eu tenho certeza que meu amigo Daniel de Carvalho iria dizer que eu não precisaria disso, rs) eu tenho adquirido kits que já vem com a denominação “tons de pele”. Foram 2 kits de marcadores e 2 kits de lápis de cor (esses eu faço um post mais adiante falando sobre). Nesse post eu escrevo apenas sobre os marcadores Cis Graff Dual e o Faber-Castell Super Soft.
E o estudo começou com esboços feitos a partir de fotografias retiradas do Pinterest.

Esboços feitos a lápis numa folha de papel A3

Eu curto fazer o esboço de forma bem solta, sem me apegar muito a proporções ou exatidão à imagem original. Coloco poucos detalhes, poucos preenchimentos. Uso mais como uma referência inicial mesmo. Eu curto fazer assim para usar de uma maneira menos pragmática quando estiver preenchendo com os marcadores na mesa de luz. Eu curto essa maneira mais livre de fazer preenchimentos e detalhes, não me apego muito à representação “ideal” do real não.

Para a versão definitiva, utilizei papel Canson Bristol XL 180g A3, que não possui superfície tão porosa e a tinta adere bem, conferindo um resultado bem suave ao aplicar a tinta dos marcadores. Os brushes Faber-Castell Super Soft possuem uma boa transparência, reagindo bem às superposições de tonalidades, porém deixam em seu rastro uma leve textura, não sei se é por causa do papel. Também achei interessante as tonalidades que são bem quentes e terrosas, com o tom mais claro sendo bem contrastante com o tom mais escuro. Achei que os tons escuros são bem parecidos, fizeram pouca diferença ao meu olhar daltônico.
Os marcadores CIS Graff Duo possuem ponta dupla, uma chanfrada e uma fina, que não é brush, e ambas são bem rígidas. Elas possuem um bom grau de transparência também, e a sobreposição das tonalidades dá uma estética bem massa. Elas não deixam tanta textura no papel como as brushes Super Soft, ficam com uma aparência mais suave a meu ver. Achei a cor das tampas bem diferentes das tintas no papel e senti falta de tonalidades mais escuras. As cores são bem quentes, mas acho que caminham um pouco pr’uma coisa mais “pastel”.
Para alguns acabamentos, utilizei Uni-Pin brush preto e Posca branca 1-M. O resultado está a seguir.

São bons marcadores, fiquei com vontade de adquirir uma gama maior de cores e tonalidades, pra testar de outras formas também, mas acho que dá pra fazer umas peles com o que tenho nesses dois kits. Gosto de me divertir bem solto enquanto desenho e faço os testes, e com certeza essa foi uma experiência bem daora. Podem esperar que em breve eu soltarei mais testes desse tipo.

[litografia] Coruja Cholo

No auge da minha monitoria na disciplina de litografia, lá na EBA/UFMG, andei testando técnicas pra poder compartilhar com xs alunxs um pouco do conhecimento que eu desenvolvia no atelier.
Nesta gravura, eu usei tousche (bastão gorduroso para desenho na matriz litográfica) diluído e aplicado com bico de pena na coruja, aplicado com pincel na moldura oval, e criei uns efeitos com tousche queimado com aguarrás pra dar uma estética meio envelhecida, manchas de mofo/umidade.

Caracterizando os elementos representados – CORUJA

A Coruja tem essa representação ligada ao conhecimento, sabedoria. Durante algum tempo eu curtia muito essa ave, tinha pequenas esculturas de coruja, em 2012 até cheguei a tatuar uma coruja no meu antebraço. Também as usava como personagens de meus desenhos, gravuras e pinturas.
Enfim, a imagem da coruja foi algo que permeou minha criatividade durante muito tempo, e tê-las feito dentro de temas específicos foi algo que curti bastante nesse período. Foi minha porta de entrada pra trabalhar diferentes estéticas a partir de um mesmo referencial. Também foi minha porta de entrada para vestir animais a caráter, algo que faço com mais frequência atualmente. Ao lado está o esboço que fiz no meu bloquinho A5, utilizando canetas nanquim, Posca e marcador Sharpie Tank.
Esta ideia foi especial, uma coruja com vibe meio Ron Swanson Chicano.

Identidade CHOLO

CHOLO diz respeito a uma identidade fronteiriça existente, sobretudo, na divisa entre México e Estados Unidos. Ciudad Juárez (México) e El Paso (Estados Unidos) são cidades surgidas a partir da separação do povoado de Paso del Norte (México), que foi separada na Guerra de 1846, quando os Estados Unidos usurpou metade do território mexicano e decidiu-se que o Rio Bravo, que cortava a cidade, fosse a fronteira entre os países. Apesar de serem divididas por limites transnacionais, as cidades estão situadas no meio de uma região desértica, e elas possuem trocas muito fortes entre si. Grande circulação de mercadorias e pessoas cruzam a aduana, e o fechamento da fronteira é um fenômeno relativamente recente.
Atualmente, uma cerca do lado norte do Rio separam os países, mas como as cidades são co-dependentes, famílias, negócios, movimentos pendulares, comunidades indígenas e recursos foram divididos, criando uma situação ainda mais complexa de circulação. É nesse contexto que surgem os Cholos. Ainda que eu tenha usado essas duas cidades como exemplo, o fenômeno é algo comum em várias localidades da fronteira, não se limitando à fronteira Chihuahua/Texas.
Cholos são caracterizados como seres fronteiriços, que utilizam da estética para se diferenciarem dos estadunidenses, portanto, são mexicanos (ou, atualmente, descendentes de famílias mexicanas).
É uma identidade que foi desenvolvida a partir dos Pachucos, e isso sim tem um teor geográfico mais localizado, pois El Paso também é conhecida como “Chuco”, e Pachuco seria um termo derivado do “Para el Chuco” (Pa’Chuco), pois muito mexicanos faziam o movimento pendular de morar em Cd. Juárez e trabalhar em El Paso.
Caracterizando a estética Chola, calças pantalones (derivadas do Zoot Suit Pachuco), camiseta canelada branca, camisa flanelada xadrez com apenas o botão superior abotoado, muitos usavam bigode e cabelo penteado para trás (alguns usavam um tipo de redinha para manter o cabelo no lugar), outros usavam bandana (marca registrada de muitos grupos até os dias de hoje). O uso de tatuagens também era muito comum, bem como associação com gangues e grupos identitários como forma de defesa.


Moldura

Pensando na questão dos elementos que eu propus nessa gravura, a moldura é algo realmente especial. Com um estilo bem rococó, com arabescos volumosos e bem marcados, a moldura traz um ar de algo clássico, envelhecido, mas que mantém sua nobreza estética. A mesma ideia eu tive com os efeitos de envelhecimento da “foto”, conferindo um caráter de algo antigo, mas que se mantém ainda firme, apesar das adversidades.
A memória é algo que se cultiva, para que não desapareça.

La Idea, 2015 – Litografia sobre papel Hahnemühle, 300g, 33×44 cm

A litografia pode ser adquirida clicando aqui.

Aquecendo os dedos com doodles

Uma forma de exercitar um pouco a criatividade é criando personagens aleatórios a partir de formas aleatórias. Eu pedi pra minha companheira desenhar formas numa página virtual, e a ideia era criar rostos com essas formas. É uma atividade bem divertida, que te ajuda a fugir do bloqueio criativo.

Nenhuma atividade é sem sentido. Eu gosto de usar essa técnica pra testar cores, efeitos, pra aquecer os dedos e os punhos, pra fugir do bloqueio criativo e pra me divertir também, porque não? Imaginar é uma ótima maneira de construir algo, e as diversas artes nos possibilitam materializar o que está em nossas mentes.
Segue abaixo time-lapse da atividade.

La Idea presente na Feira Vendo / Nossa Feira

Anota na agenda aí:
Dia 12/08, das 10 as 18h, estarei no Arreda Galeria e Estúdio com banquinha montada participando da Feira Vendo.

Será um dia de evento de flashes tattoos, exposições e muita gente cabulosa mostrando seus trabalhos, com muita coisa massa sendo vendida pra aproveitar a celebração do dia dos pais também pra fazer girar uma verba pra quem é artista.

Feira Vendo / Nossa Feira
Sábado, 12/08, 10 as 18h, Rua dos Aimorés, 1167 (Arreda Galeria Estúdio), BH/MG

MOTIM – Um fim de semana em Brasília

Sexta-feira, 05/05 foi um dia agitado. Após dois turnos tendo aula e apresentando trabalho sobre Foucault, retorno à minha casa para me preparar pra viagem. Enquanto organizo minhas coisas, o Wallison, da Editora Impressões de Minas, passa na minha casa pra deixar as caixas de livros pr’eu levar pro Motim também. São 3 volumes e eu ainda levaria minha mochilona mensageira de 48 litros e mais uma pasta A2 com minhas gravuras. Eu não andava tão empolgado por conta de uma alteração que a Buser fez na minha passagem de ida. Transformou o Leito que eu comprei, já imaginando que eu estaria cansadérrimo, em um Semi-Leito. Inclusive, mudou a empresa terceirizada que faria a rota também. Alegaram problemas mecânicos no ônibus contratado.
Chegando no local do embarque, o motorista me informa que as caixas não são bagagens, são mercadorias, e que eu deveria pagar R$15 por volume. Eu pergunto se eu deveria pagar pelo aplicativo e o motorista me pergunta se sou professor. Sim, também estranhei na hora. Eu disse que era professor de artes visuais, e ele me diz que “vai me dar uma moral na mercadoria” por eu ser professor e guardou as caixas e a pasta A2 no bagageiro do veículo.
O ônibus saiu às 20h em ponto com destino a Brasília. Talvez o meu cansaço me impediu de processar toda aquela situação. Eu apaguei durante a viagem.

Plano Piloto

Como é de costume, despertei pouco antes do nascer do sol. Adentramos Brasília já nos primeiros minutos de luz e a chegada ao Hotel Nacional para o desembarque ocorreu às 7h em ponto. A pontualidade me impressionou bastante. Como a montagem do evento seria somente a partir das 8:30, liguei pro meu amigo Dois Sete pra dar um pulinho na casa dele antes do evento. O Dois Sete e sua companheira Natália iriam me alojar durante minha estadia na Capital, e essa passadinha na casa deles antes do evento foi fundamental para usar o banheiro, me alimentar, conversar um pouco sobre a cidade e dar um tapa na aparência, pois a cara de derrota era evidente. O Dois Sete é amigo meu há uns 20 anos se pá, e nesse rolé em Brasília foi fundamental o apoio que ele me ofereceu em meio à minha correria.

É curioso como as imagens imaginárias que temos de lugares que nunca fomos são sempre diferentes, e os lugares in loco nos surpreendem muito. Não fazia a menor ideia de que haviam árvores em Brasília. Eu sei, é bobo pensar assim, mas é um imaginário que eu tinha. Também imaginava uma cidade só de prédios, sem gente. Mas o final de semana que passei pude perceber muita gente nas ruas, de verdade. Pode ser que seja por causa do fim de semana e nesse recorte espacial do evento, mas é uma impressão que tive.
Mas o Dois Sete e a Natália estavam me dizendo várias curiosidades sobre a cidade, a quantidade de parques e áreas verdes, parques abertos, locais de práticas esportivas, de lazer, como funcionam os setores do comércio. Fiquei muito curioso pra entender qual a lógica dessa cidade, como ela funciona. Eles me disseram que as Regiões Administrativas (Cidades Satélites) são bem diferentes do Plano Piloto, e que depois vale a pena ir com mais calma pra conhecer esses locais.

Chegando no evento

O Dois Sete me ajudou a colocar minhas coisas no carro e me deu carona pra Galeria dos Estados, onde ocorreu o evento. A Galeria fica embaixo do “Eixão”, como os locais chamam a via que faz uma ligação Asa Norte/Asa Sul, e é um vão livre, todo grafitado, com áreas verdes ao redor. Se servir de comparação (e eu não sei se estou certo) me lembrou um pouco a parte debaixo do Viaduto Santa Tereza em BH, pensando nas intervenções artísticas, no espaço em si, e em como a população utiliza o local.
Rapidamente encontramos as mesas, que estavam numeradas, colocamos o forro preto que foi disponibilizado pela produção do evento, e já começamos a montar tudo. Digo ambos, porque o Dois Sete me ajudou a abrir as caixas, dispôs os livros e organizou boa parte da mesa da Impressões de Minas. Também me ajudou e passar um barbante pelo cabo de aço que estava no teto para podermos criar um varal para deixar as gravuras mais a mostra.

Motim no Sábado

No sábado o público demorou um pouco para começar a chegar, pelo menos na mesa em que eu estava. Já eram mais de 14h quando as vendas começaram. E tudo que foi tranquilo nas primeiras horas, virou um caos chegando no final. Como eu estava cuidando de duas banquinhas, percebi, e acabei aceitando, que sempre uma delas ficaria negligenciada. Não dá pra atender à todos com a calma necessária para explicar tudo. (E se alguém que passou pela mesa não curtiu o atendimento, peço minhas mais sinceras desculpas aqui).
Participar de feiras, ter contato com o público, trocar ideias, trocar materiais, tudo isso exige tempo e disposição, pois essas coisas não são fáceis. São cansativas, e ali eu era dois. Demorei um pouco pra me acostumar com essa dinâmica.
Quando o público começou a aparecer de verdade não tive tempo de comer. Por sorte, a Natália me presenteou com uma marmitinha de frutas antes de sair pro evento, e isso foi essencial para segurar a fome durante a tarde. Também não havia ponto de energia pra carregar qualquer coisa, e a maquininha de cartão da Impressões de Minas estava descarregada. Por isso, precisei me concentrar pra anotar todas as vendas que eu fiz e que não são parte da minha produção. Tudo para não confundir tudo e depois se tornar um imbróglio, um pepino pra resolver.
Apesar do cansaço, da fome e da correria, deu tudo certo. Um amigo meu, o João, brasiliense que estou comigo na UFMG, deu uma passada por lá pra gente trocar ideia e ele buscar um queijo canastra meia cura que eu levei pra ele. Ele também me ajudou em alguns momentos com o atendimento à clientes quando eu estava ocupado. Foi tudo na raça.
Aproveitei o fim de feira para buscar minha camisa do Motim com o Leandro Mello, organizador da feira. Também aproveitei pra bater papo com algumas pessoas conhecidas que estavam por ali, outros feirantes.

Sábado de noite

No final da tarde, já escuro, Dois Sete apareceu na Feira e nos ajudou a desmontar as mesas. Saímos de lá, buscamos a Natália no caminho e fomos comer em food trucks estacionados num gramadão que é o canteiro central do Eixão. Comi batata rosti de brócolis, cenoura e abobrinha. Tava bem gostoso. Estávamos sentados comendo numa mesa de plástico e conversando, quando eu percebi todos estavam com agasalho, menos eu. Eu coloquei a camisa do Motim por cima da regata que eu estava usando. Nunca achei que eu sentiria frio em Brasília. No plano aberto corria uma brisa fresca que eu nunca achei que existiria em Brasília. Voltando ao carro, a primeira coisa que fiz foi colocar agasalho. Brasília sempre me pareceu um lugar quente, pelando, infernal. Mais uma surpresa.
Saímos de lá e fomos parar em um local chamado Infino´s, onde os jovens locais se encontram pra interagirem entre si. O Infinu´s é uma casa de show bem apertadinha, situada dentro de um passeio/beco cheio de comércios. Haviam muitas pessoas tomando cervejas, drinks, comendo fatias de pizza, um DJ tocava mais ao fundo, e algumas pessoas vendiam discos de vinil. Fiquei tentado a comprar algumas pérolas do punk e do crossover, mas acho que daria trabalho demais carregar discos a noite toda.
Ficamos um tempo ali trocando ideia, e depois entramos para assistir ao show de uma banda do sul que eu não lembro o nome. É um som bacana, limpo, bem trabalhado e que parecia ter muitos fãs locais. Dois Sete e eu ficamos o tempo todo assistindo à apresentação e trocando ideia sobre nossas profissões, nossas vidas, nossas dificuldades. No local eu tomo uma água e coco e uma água mineral. O cansaço já batia à porta.
Olho na parede do local e vejo uma colagens bem interessantes de autoria de alguém que tem o arroba de Tem Wifi na Lua. Esse nome não me era estranho.
A noite já estava terminando, entramos no carro e fomos pra casa. Chegando lá eu tomo um banho quentinho, e o abraço da água foi o convite pra ter uma noite se sono tranquila e pesada.

Domingueira

Domingo, pra variar, eu desperto cedo. Fico lendo alguns livros na estante da casa enquanto os anfitriões não acordam. Aproveitei para fotografar algumas ilustrações da biografia do Fela Kuti que eu busquei por anos na internet e não achava em nenhum lugar. Também contemplei o horizonte de Brasília enquanto tomava água e guardei as maquininhas de cartão e o celular que passaram a noite carregando a bateria. Brasília tinha um céu muito azul, muito vivo, sem nuvens. Muito diferente da massa carregada que paira sobre o ar parado de BH.
Os anfitriões acordam e tomamos café enquanto batemos papo. Aprendo mais ainda sobre a cidade. Conversando com os dois minha curiosidade sobre a região só aumenta. Nunca achei que eu fosse me interessar por Brasília.
Após o café, pegamos as coisas e rumamos pra Galeria dos Estados para o segundo dia da feira. Montamos as mesas com mais rapidez, já tínhamos prática. Dois Sete não ficou muito, logo retornou à sua casa para descansar mais. Na paradeira do domingo de manhã, fui tentar fortalecer algumas redes. Troquei mais ideias com o Oberas e o Kustella, que estavam logo ao lado da minha banquinha. Também troquei ideia com a Bea Lake, do coletivo Basuras que estava em frente. Ela mora em BH, mas fomos nos conhecer apenas em Brasília. Ao lado dela, a Flaviana estava com sua banquinha montada. Ela atende com o perfil Tem Wifi na Lua (sim, o mesmo que eu tinha visto no Infinu´s na noite anterior) e eu fui lá dar um Oi. Também conheci o Fernando da Amebis, o Rafel Trinco, a Dona Dorah, tirei uma foto com o Caio Gomez (que a Rebeca Prado me disse que eu TINHA que conhecê-lo) e também conheci o Diogo Rustoff, uma das grandes referência na técnica do stencil e dos cartazes lambe-lambe, sou fã mesmo.
Não deu pra circular muito no domingo, pois o Eixão estava fechado para os carros e o fluxo de pessoas era bem grande, o movimento na Feira começou cedo.

O domingo de feira foi bastante corrido. Bem que todas as pessoas nos avisaram que o movimento iria ser maior. Não consegui ter muito descanso e isso, de certa maneira, foi muito bom. Eu gosto muito quando as pessoas param pra trocar ideia sobre as gravuras, onde eu posso explicar um pouco as minhas ideias, as técnicas que eu uso e os porquês das temáticas, e gosto quando elas também compartilham comigo as impressões que elas têm sobre minha produção. Isso é algo muito enriquecedor.
No domingo eu já estava mais acostumado à dinâmica de vendas nas duas banquinhas e me fiz mais esperto pra conseguir atender todo mundo. Também aproveitei o desconto do Gomes e Bebes pra comer um sanduba veggie de almoço, tava bom pra caramba. O entregador levava lá na mesa o rango em uma geladeirinha portátil. Isso salvou.
Tentei colocar um caderninho de sketchs pra rodas entre os feirantes, mas acabou que na correria consegui sketchs de poucas pessoas, mas valeu a pena os laços feitos.
Durante o domingo também pude trocar ideia com o pessoal do Miolo Frito, do Quadradinhas.LTG, da Santa Blasfêmia, da Ju Serejo e com o cara daquelas tirinhas do Capirotinho. Vi também brevemente o Hyper e a Estranha Dupla em raros momentos de tranquilidade. Não pude interagir muito, mas foi massa demais ter conhecido a galera. Tava precisando disso, de fortalecer um pouco a rede. Teria sido mais legal se eu tivesse a oportunidade de circular mais, conhecer outras pessoas que estavam expondo e ver banquinhas que eu conheço apenas de forma virtual. Nas próximas isso irá rolar com mais facilidade.
A Galeria dos Estados e seu entorno estavam lotados. Tinha muita gente que passou a dia ali. Você olhava pra feira e pra parte externa e haviam muitas pessoas. Achei o máximo o evento contar com muito público o dia todo.

Domingo de noite e saldo da correria

A noite chegava no domingo, a iluminação já não estava tão boa e o público começava a se dispersar. Aproveitei que Dois Sete e Natália já estavam no local e começamos a arrumar as coisas. Em termos de vendas foi bem proveitoso, tanto pra mim quanto pra Impressões de Minas. Não posso falar pela editora, mas eu nunca tinha chegado nem perto de vender a quantidade de coisas que vendi em Brasília. Isso me deu muito ânimo de continuar.
Me despedi das pessoas que conheci e com quem convivi na Feira durante o fim de semana, troquei rapidamente alguns materiais e já partimos pro carro em direção a algum lugar para comer. Meu ônibus partiria às 20:30 e eu não queria atrasar.

Fomos parar em um setor onde haviam vários restaurantes veganos. Escolhemos um que se chamava Japa Vegana, e logo já devoramos um Sushirrito (mistura de sushi com burrito). A comida tava muito boa, insanamente gostosa, e foi o fechamento perfeito desse final de semana intenso que eu passei em Brasília. Dois Sete e Natália me ajudaram muito, e a foto final, prestes a comer é muito simbólica do que foi tudo isso.

Volta pra Beagá

Claro que na volta pra BH tinha que ter acontecido alguma coisa. Da mesma forma como ocorreu na ida, o motorista implicou com as caixas. Disse que era mercadoria e que não poderia embarcar (diferentemente do outro que tentou me extorquir). Ao invés de três, agora eram apenas duas caixas e minha pasta A2. O motorista só aceitou despachar a mala depois que eu concordei em assumir o BO das caixas caso o ônibus fosse parado pela fiscalização. A alegria da volta, foi a surpresa de ter comprado um Semi-leito e ter ganhado um Leito individual. Pro meu conforto e pruma boa noite de sono, eu estava mais que satisfeito. Apaguei como uma rocha. Cansado, exausto, mas feliz com tudo que tinha acontecido no Motim.
Beagá, por sua vez, me recebeu de braços abertos e me apertou forte com um engarrafamento na BR-040, de Neves até a Delta, e depois na Tereza Cristina. Foi ótimo ver o trânsito parado, acompanhando a massa de ar seco que pairava no horizonte.
Só tenho a agradecer à todos que conheci em Brasília, à quem adquiriu obras, a quem compartilhou, ao Mello pelo evento fantástico, e aos amigos que reencontrei por lá.
Me sinto bem.

6 e 7 de Maio em Brasília

Dias 6 e 7 de Maio estarei em Brasília participando do @edicoesmotim . Só chegar na Galeria dos Estados a partir das 11h e ver o tanto de gente foda que estará expondo por lá. Levarei algumas obras inéditas, gravuras clássicas, adesivos, prints e camisetas. Eu estarei na mesa 33, aos lados dos amigos da @impressoesdeminaseditora e do compa @_oberas

Bora!!!

Transfluência

O trabalho de pesquisa e produção de arte perpassa algumas atividades que precisam nos afetar de alguma maneira, mexer com o sensível, uma faísca que será o disparador de algo mais forte. Eu tive isso enquanto lia “Mobilidade Antirracista”, obra organizada por Daniel Santini, Paíque Santarém e Rafaela Albergaria e que foi publicada pela Autonomia Literária e pela Fundação Rosa Luxemburgo em 2021. O livro todo, em si, é um espetáculo de ativismo pela mobilidade universal e acessível, mas um capítulo me tocou de maneira mais forte: Capítulo 4.1 – Entrevista com Nego Bispo.

Sobre Nego Bispo e as formas de resistência

Logo no início da entrevista, Nego Bispo se apresenta. Eu não sabia nada sobre ele. Nasceu em uma comunidade onde a linguagem escrita não exista, somente a oralidade, e pela facilidade com que ele apropriou-se das diferentes linguagens ao ingressar na escola, foi escolhido para ser tradutor da linguagem escrita para a linguagem oral, evitando, assim, que a comunidade fosse “passada pra trás” nos contratos com o colonizador. Assim, foi forçado a compreender o pensamento colonialista para se defender dos ataques, e compreender o pensamentos dos seus iguais para fortalecer o campo de defesa. Nego Bispo diz que sua vida está na fronteira do pensamento, lidando com as escrituras e com a oralidade o tempo todo.
Nego Bispo usa muitas analogias para fazer uma relação em como os animais são ou podem ser domesticados, e a forma bruta e violenta com que os colonos tentavam domesticar seus escravos. Enquanto pessoas negras transitavam nos mares nos fundos de caravelas, sendo sujeitos à vários tipos de torturas e desumanidades, outro tipo de deslocamento não previsto pelos colonos também exercia sua força: transfluência.
Transfluência é um conceito desenvolvido por Nego Bispo para tratar sobre as relações cósmicas que carregam, simultaneamente ao transporte físico nos navios negreiros, uma memória ancestral. Povos negros que chegavam no continente se comunicavam com povos indígenas (que possuíam cosmologias parecidas) para resgatar esses saberes e dar início ao processo de resistência contra a colonização.

O que houve com Palmares e todos os Quilombos foi exatamente essa relação de transfluência.
Mesmo os quilombos que não se visitavam fisicamente transfluíam através da cosmologia.
A relação com o mar, com o vento, as estrelas, as plantas.

Nego Bispo, página 211

A questão que Nego Bispo coloca é a forma de saberes que foi desenvolvida tanto do lado de cá do Atlântico, quanto do lado de lá. Como esses conhecimentos eram compartilhados, desde muito antes das navegações acontecerem. “Como era possível a comunicação do Rio São Francisco com o Rio Nilo, se tem um oceano no meio?”

Pelos Rios do Céu, pelas nuvens, pela evaporação.
A imagem que mais me convence sobre a transfluência é esse movimento das águas doces, pois elas evaporam aqui no Brasil e vão chover na África transfluindo pelo oceano sem precisar passar por ele.
Dessa forma que a nossa memória ancestral está aqui, ela vem pelo cosmos.
Esta é, de ponto de vista cósmico e físico, a imagem que tenho da transfluência.

Nego Bispo – página 213

Pensando, refletindo e gravando

Depois de muito tempo sem produzir algo significativo derivado de alguma pesquisa mais intensa, finalmente apresento minha última produção em gravura denominada TRANSFLUÊNCIA.
Esse conceito colocado à mesa por Nego Bispo chegou a mim em um momento de baixíssima criatividade de minha parte. Estava envolvido com outros tipos de trabalho, sobretudo não artísticos, e ter lido esse capítulo reacendeu em minha mente uma chama que parecia estar quase apagada. As palavras de Nego Bispo ressoaram na minha cabeça, enquanto pensava o que poderia fazer com um termo tão potente.
Meus esboços inicias começaram bem objetivos, funcionou quase que como uma nuvem de palavras, um brainstorming do óbvio. Cabeça, mente, chuva, rios, pensamento, ser humano, ciclo. E logo comecei a expandir um pouco essa ideia de comunicação.
Nego Bispo coloca a evaporação e a precipitação como uma analogia dos saberes que são compartilhados nas duas margens do Oceano Atlântico. Minha ideia foi ir um pouco além.
E se todos os conhecimentos forem compartilhados/transmitidos/ensinados através dos mais diversos fenômenos naturais, climáticos e geológicos?
E se a gênese dos saberes está todo na concepção de mundo, e os povos precisassem de todos os elementos do planeta para compreenderem a si e ao outro?

E se as formas de organização, luta e resistência fossem auxiliadas e indicadas por todos esses fenômenos?
Essas indagações que faço a partir da leitura de transfluência talvez sejam o comum, se pensarmos a partir de cosmovisões tradicionais, mas pra mim foi um ponto de partida para pensar uma concepção de mundo bem diferente. Começar a expandir um pensamento, uma ideia, a partir deste conceito colocado por Nego Bispo me possibilitou retornar a criar, pensar em uma imagem que pudesse traduzir um pouco minhas pesquisas e reflexões.
O esboço foi feito de maneira digital; a matriz foi gravada manualmente numa placa de microduro (~linóleo); as impressões foram feitas manualmente com tinta preta em papel de arroz (industrial e artesanal); o tamanho gira em torno de um A2.
Essa gravura será lançada na Feira MOTIM, dias 6 e 7/05, em Brasília. Depois desta data poderá ser adquirida pela loja virtual.


Processo completo, do esboço à impressão final

O Silêncio é Inútil

Fever 333 é uma banda bem daora, que consegue manter as letras altamente politizadas ainda que estejam no mainstream da indústria musical. Lembra algo de Rage Against The Machine, político e popular, requisitados para serem absorvidos pelo capitalismo e se tornarem mais um produto. São sons violentos, de ataque pesado ao sistema. Estão no sistema, mas não se curvam à ele.
Jason Butler, vocalista do Fever 333, é um sujeito bem relacionado, tira fotos e interage com vários ícones da música pop e do cinema estadunidense. Ainda assim, suas letras, desde a época em que cantava no Letlive., são carregadas de conteúdos políticos, de ataque ao capital, à opressão, à autoridade, e fortalecendo a atuação dos movimentos de lutas identitárias, sobretudo ligadas ao levante da população negra.
O grupo iniciou sua carreira tocando em um estacionamento, com pouquíssimos recursos, instrumentos e caixas de som no baú de um caminhão, e uma demonstração de energia intensa em cada movimento que os 3 membros da banda faziam. Uma presença de palco (se é que o chão do estacionamento possa ser chamado de palco) impressionante, inclusive do baterista. De fato, conhecer a banda foi praticamente interesse à primeira escutada. Som cru e direto do jeito que gosto.
O segundo disco da banda, Strenght In Numb333rs (2019), chegou com um desenvolvimento musical impressionante, mais pesado e mais bem trabalhado, e ainda com letras bem profundas e críticas. Duas músicas me chamaram mais atenção: Inglewood (que trata da questão da gentrificação na cidade de Inglewood, CA, que também é um dos temas trabalhados na série Insecure, da HBO) e The Innocent (que eu irei desenvolver um pouco mais sobre essa música nos próximos parágrafos.)

The Innocent

Essa música, particularmente, me tocou muito. Ela fala sobre violência policial, sobre essa política de identificação visual do corpo negro como merecedor de diversos tipos de violências, inclusive a morte. Essa letra não existe por acaso, os diversos vídeos existentes na internet mostram as atrocidades cometidas por agentes de segurança que enforcam, torturam, atiram e matam corpos negros diariamente. Essa prática racista, genocida e eugenista não é exclusiva dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, ocorrem situações bem similares e com o aval do Estado. A Ponte Jornalismo é uma mídia que divulga a maior parte dos casos, e muitos deles nem aparecem na grande mídia. Se não fossem essas pessoas corajosas para ir atrás dos fatos e divulgar, seguiríamos alienados em relação à violência sofrida pelo povo negro, pobre e/ou periférico.
A letra desta música me tocou muito nesse sentido. “Sem mais desculpas, nós temos que recusar isto, o silêncio é inútil, vida longa aos inocentes. Eles nos contam histórias, das mais belas glórias, este é o seu aviso, vida longa aos inocentes.”. Ela me traz um pouco da questão da história oral/oralidade, do conhecimento que é transmitido por gerações, de histórias das pessoas que lutaram antes de nós, das pessoas que perderam suas vidas para que as verdades sejam mostradas. Das vidas que as pessoas vivem, e daquelas que possuem o direito institucional de violentar e matar pela cor da pele e classe social.

Produção de gravura baseada nesta letra

Na minha produção enquanto artista visual busco, na maioria das vezes, aliar minhas vivências, leituras, músicas e interesses políticos nas imagens que crio. Gosto de ter esses itens como ponto inicial de pensar o processo criativo. Por causa dessa letra do parágrafo anterior (e agora completando 5 anos do assassinato de Marielle e Anderson), me deu vontade de falar um pouco sobre essa arte que fiz em 2020 eu acho, ainda numa pandemia restritiva. Eu não consegui, ainda, materializar em gravura essa imagem. Na época eu já andava criando umas xilogravuras aliando imagens centrais e escritos com muitos contrastes para xilogravura, e acabei criando essa a partir da letra de The Innocent. Ao centro e com mais destaque, Jason Butler gritando no microfone. Abaixo, faixas e cartazes com dizerem de protesto contra o genocídio da população negra, contra a violência policial, símbolo antifa, punhos negros em riste, Dandara, Zumbi e Marielle Franco. Acima, a frase “O SILÊNCIO É INÚTIL“, parte do refrão da música. Foi a forma que consegui de aliar essa música à uma história regional, desde a resistência na época da colonização até os dias atuais. O sistema violenta e tenta calar à todo custo as vozes oprimidas. Mas os movimentos de resistência seguem lutando, se defendendo, contando suas histórias e memórias para que não cesse a luta. Agora, mais que nunca, tenho vontade de colocar essa arte para circular. Vida longa à resistência e aos inocentes.

You gon get this now

You think, I know
Wide eyes got a narrow scope
You’d think that they’d know
Not to shoot a man while he’s on the floor
That’s why these youngins they run before talkin to police because they know the deal
See young Trayvon Martin has just left the market with candy and got his ass killed

No more excuses we must refuse this Silence is useless
LONG LIVE THE INNOCENT
They tell us stories of star spangled glory this is your warning
LONG LIVE THE INNOCENT

Eyes of the law do not look anything like my own
I can see clearly now that the arraignment is gone
Yes I did go head up with that cop tryina do me like radio Rahim
I looked at the judge said ‘I feared for my life and I pray that you’ll do the right thing’

No more excuses we must refuse this Silence is useless
LONG LIVE THE INNOCENT
They tell us stories of star spangled glory this is your warning
LONG LIVE THE INNOCENT

It ain’t what you are it’s what you can be
And I see you, my brotha
All they know is what you show them

No more excuses we must refuse this Silence is useless
LONG LIVE THE INNOCENT
They tell us stories of star spangled glory this is your warning
LONG LIVE THE INNOCENT

The Innocent

Camisas dos Guaxininhos – Pré-venda até 18/03/23

COMPRE CLICANDO AQUI

**PRÉ-VENDA ATÉ 18/03**

Previsão de envio: 15/04/23

Guaxinins expropriadores, invadem espaços abandonados para se apresentarem. Assim funciona o grupo ROBA y COMPARTE, cujxs integrantes fazem uma mescla de instrumentos acústicos e mal regulados para tocar as canções mais ousadas do Folk, da Kumbia, e do Krust, compartilhando ideias e experiências. Em 2023 saem em turnê pelo continente Abya Yala, abrindo os corações e as mentes, liberando os quatro muros de qualquer que seja seu proprietário.
“Kontra toda autoridade, a favor da Koletividade!”

Camisetas tipo Raglan, produzida 100% com algodão ecológico Menegotti, de alta qualidade.
Estampa produzida em serigrafia artesanal, no estúdio La Idea (BH-MG)
Camisa branca com mangas pretas.
Disponíveis em vários tamanhos (Do PP ao XG).

Roba y Comparte – Abya Yala gira 2023

Roubar e compartilhar pelo continente é o tema da banda imaginária Roba Y Comparte, composta por Guaxinins vestidos a caráter, enquanto tocam belas canções de protesto ao som de Kumbia, Crüst e FolkPunk. A ideia surgiu a partir de um diálogo com minha amiga Laís, onde ela falava sobre o simbolismo anarquista dos guaxinins, que roubam, furtam e enfrentam autoridades, sempre de forma coletiva. Ela me enviou vídeos para demonstrar isso. A analogia com anarkopunx foi imediata. A ilustração foi produzida no início de 2023, bem como alguns cartazes e em breve será feita estampa de camisas também.
Sobre as bandas colocadas nas estampas, patches e adesivos nas vestimentas e instrumentos dos Guaxininhos, aqui vai uma lista:
– Bestiärio
– Cólera
– GBH
– Days n’Daze
– Against Me!
– Pigeon Pit
– Dead Kennedys
– La Lira Libertária
– Black Flag
– Las Calles
– Los Dolares
– Los Crudos
– Fun People
– Tragedy
– Crass
– Rastilho
– Doom
– DER

O PÔSTER EM SERIGRAFIA, TAMANHO A3, PODE SER ADQUIRIDO CLICANDO AQUI.

Programação de fim de ano

Passando aqui para avisar locais onde você pode adquirir os produtos feitos aqui no estúdio e, quem sabe, presentear alguém que curta esses trabalhos. Além da minha loja virtual, onde todo meu estoque está disponível com entregas em todo território, irei participar de dois eventos nesse fim de ano. O Prisma Arte e a Feira Vendo.

O Prisma será um evento com mais atrações, mais artistas, entrada gratuita em uma casa no bairro Sion. 3 dias de eventos.

Já a Feira Vendo será uma feira menor, mas com vários outros expositores também, na Faculdade de Educação da UEMG, que fica no bairro Cidade Jardim.

Além dessas duas opções em Belo Horizonte, onde você poderá ver meu trabalho fisicamente, em São Paulo tem vários produtos meus disponíveis para pronta entrega no Espaço Colaborativo da Ciclo Costura, na Vila Ipojuca. Confira os horários de funcionamento dos espaços, e colaborem com o décimo terceiro de produtores/artistas autônomos/independentes.

Fragmentos #1

INTRODUÇÃO

48 minutos de bicicleta. Esse é o tempo que gastei da minha residência, zona noroeste, para uma entrevista de trabalho, na zona norte. No caminho presenciei um acidente. Um carro entra na contramão e acerta em cheio um motoqueiro que fazia a conversão olhando apenas para o lado em que os carros deveriam vir. É um choque absurdo ver tudo acontecendo. Apesar da rapidez do som do impacto, tudo pareceu em câmera lenta. O motoqueiro é lançado para o alto e cai em cima do capô do carro. A moto é arremessada até o portão fechado da loja da esquina. Várias pessoas correm para ajudar ou para saber o que tinha sido o estrondo. Eu fiquei lá um pouco, mas não podia perder a entrevista.
O dia estava quente, com uma massa de ar seco pairando na paisagem. Comecei a pedalar por volta das 12:30h, pra dar tempo de chegar na entrevista que seria às 14h e retomar o fôlego, secar o suor. Péssimo horário para pedalar.
Cheguei no local, ainda cansado e suado, toquei o interfone e um funcionário me atendeu. Disse que tinha vindo para uma entrevista de oficinas, ele pediu meus documentos e me deixou aguardando ali na rua por uns 12 minutos. Pareceu uma eternidade. Ele me disse para entrar e esperar em uma sala de reuniões onde havia apenas uma mesa e 4 cadeiras em volta. Em seguida entraram duas mulheres para conversar comigo sobre o trabalho. Uma que estava lá somente para anotar e fazer a ata, e outra, terapeuta ocupacional, guiaria a entrevista.
Elas me explicaram que no local funciona uma Casa de Semiliberdade, ligada ao Sistema Socioeducativo. Ali, jovens cumprem penas alternativas e precisam participar de atividades ligadas à cultura e à educação durante a estadia. Minha tarefa seria a de fornecer semanalmente oficinas de artes visuais, mais ligadas ao graffiti, durante 90 minutos. A remuneração era de R$80 por hora de trabalho, ou R$120 por oficina.
Me interessei pela conversa e elas me proporcionaram um tour pelo local. Era uma casa de dois andares, sendo que o de cima, no nível da rua, era a parte de escritório, reuniões e trabalho dos técnicos, e a de baixo, no subsolo, era composto pelos alojamentos e por um pátio grande onde aconteciam as diferentes atividades. Combinamos uma data, daqui dois dias, para uma oficina experimental com a finalidade de avaliação das minhas práticas de oficineiro.
Depois de acertados todos os detalhes burocráticos, peguei minha bicicleta para ir embora. A volta seria mais intensa. O sol já não estava mais tão forte, mas a quantidade de subidas seria maior. 1h12 para chegar em casa. Apesar de mais longo, o tempo passou rápido. Na minha cabeça maquinaram novas ideias do que eu poderia trabalhar naquele local, já planejava uma oficina experimental que pudesse atender à expectativa de jovens naquela situação, ainda com toda preocupação em ser bem avaliado pela Instituição que planejava me contratar.
Já em casa, espalhava as notícias aos meus familiares de que as coisas estavam melhorando. Seria meu terceiro trabalho como oficineiro de forma simultânea, e cada um deles teria sua parcela de contribuição para minha renda mensal.
Essa noite eu dormi bem.

CAPÍTULO 1

Passaram-se dois dias desde então. Hoje poderia ser uma data daquelas em que se comemora algo especial. Uma nova experiência se inicia, e com isso novas ideias, novos contatos e novas possibilidades.
No decorrer destes dias, conversando com a Terapeuta Ocupacional, criei um plano de oficina utilizando os materiais que eles disponibilizavam. Eram exercícios simples para eu poder, talvez, conhecer um pouco mais esses jovens. A ideia era usar apenas lápis e papel. Minha intenção era que os jovens se desenhassem no centro e, a partir disso, iniciassem uma série de ligações com coisas que os rodeiam. Poderia ser qualquer coisa: locais, eventos, objetos, situações, memórias…
Me organizei um pouco melhor com os horários, pois já tinha noção do tempo que levava para chegar ao local. Não levei nenhum material específico, pois sabia que não os usaria nessa oficina. O dia estava quente, mas não tão insuportável quanto no dia da entrevista. A ida, repleta de descidas, fornecia uma brisa que aliviava a sensação térmica, seguida por um trecho plano mais fresco que contorna a lagoa rumo à Zona Norte. Enquanto pedalo evito ao máximo trafegar na contramão dos carros, e ciclovia é uma coisa que me dá ojeriza, mas tem vez que não tem jeito. Para evitar um trecho com trânsito mais complexo, ou cortar caminhos, se faz necessário a contramão ou a ciclovia. Muitas vezes a calçada ajuda, mas não gosto da ideia de colocar a integridade física de pedestres em risco.
Quase chegando à Casa existe uma descida em direção a um ribeirão antes do acesso ao bairro de destino. Descida íngreme, repleta de areia que alguma obra ou caminhão derramou na via. Meu pneu traseiro, próprio para uso em asfalto, não dá conta de frear e eu derrapo durante a descida. Não caio no ribeirão por pouco. Um susto apenas. Acho que todas as pessoas que pedalam passam por sustos no decorrer de seus trajetos. Ainda que não tenha acontecido nada demais, o nervosismo sobe com o susto, e vem o receio de sofrer um acidente mais grave.
Chego na Casa ainda com os batimentos um pouco acelerados. Cheguei cedo, com um bom tempo para tomar um gole de água, retomar fôlego e diminuir a umidade na roupa causada pelo suor. A Terapeuta Ocupacional vem me receber, e ela me mostra a sala de materiais enquanto conversamos sobre os jovens. A sala de materiais tem uma janela grande com vista para o pátio de atividades. Lá de baixo os jovens me observam quando me aproximo da abertura. Um frio na barriga toma conta daquela situação e talvez meu nervosismo e ansiedade fiquem bem aparentes. Primeiro dia em uma experiência nova é sempre assim. Você sabe que é capaz, já fez isso várias vezes, está cansado de saber como funciona, mas a ansiedade é inevitável.
Na sala de materiais fico sabendo onde ficam guardados papéis, lápis, tintas guaches, borrachas, apontadores, trabalhos anteriores… Também tem uma mesa redonda com 4 cadeiras dessas que são conjugadas com um apoio lateral, típico de salas de aula, mas que não se encaixam para serem utilizadas com a mesa grande. Também tem uma estante com livros diversos. Muitos livros de projetos de rap que deram certo, livros didáticos escolares, alguma literatura mais complexa, e muitas bíblias. Realmente a quantidade de bíblias me chamou a atenção, porque se destacam muito. Em uma estante de cinco prateleiras, uma delas era só de bíblias, duas de livros diversos, uma de papéis, uma de equipamentos velhos que estavam largados ali, como um projetor quebrado e uma televisão de tubo 14 polegadas.
A Terapeuta me informou que a minha oficina sempre será dividida com outra atividade. A minha será interna e a outra externa. Ela argumentou que fazem dessa forma para alternar as atividades, e os jovens com melhor comportamento na Instituição podem escolher o que querem fazer naquele dia. Essa estratégia também se fazia necessária para diminuir o grupo com que cada oficineiro trabalharia, facilitando a dinâmica das atividades.
A Terapeuta me informou que a minha oficina sempre será dividida com outra atividade. A minha será interna e a outra externa. Ela argumentou que fazem dessa forma para alternar as atividades, e os jovens com melhor comportamento na Instituição podem escolher o que querem fazer naquele dia. Essa estratégia também se fazia necessária para diminuir o grupo com que cada oficineiro trabalharia, facilitando a dinâmica das atividades.
Saímos da sala e fomos descer a escada que ficava no corredor da Casa. Antes de acessar o pátio um funcionário me parou, contou todo o material que eu carregava, recontou e anotou. Na volta, a conta teria que ser igual. A Terapeuta me disse que isso era uma medida para evitar furtos e impedir que qualquer material possa ser usado em caso de conflitos.
Chegando no pátio, já haviam cerca de 15 jovens sentados em uma mesa retangular me aguardando. A Terapeuta me apresentou, logo em seguida eu me apresentei. Disse que estava ali para dar oficinas de artes visuais, para praticar um pouco a memória e o desenho e, a partir disso, ir desenvolvendo outras técnicas. A maioria dos jovens tinham tatuagens aparentes nas mãos e antebraços, alguns possuíam tatuagens nos rostos e pescoços. Enquanto eu olhava as tatuagens deles, eles olhavam as minhas. Essa foi a primeira interação onde aconteceu uma identificação entre pares. Era perceptível que naquele espaço havia uma riqueza histórica e cultural enorme, uma diversidade de experiências que me levaram a escrever os fragmentos que narro aqui.
Coloco os materiais na mesa, digo a minha proposta e iniciamos os trabalhos. Não posso me alongar muito, pois 90 minutos de oficina passam bem rápido. Os jovens desenham de acordo com o que falo. Alguns com mais vontade, outros com menos. O vento fica tentando levar as folhas embora, e nota-se o esforço dos jovens para manter os papéis na mesa. Eu olho para o que estão fazendo: uma figura humana no centro, objetos diversos ao seu redor. Vejo armas, números, animais, bolas de futebol, letras de músicas, padarias… Fico feliz em saber que boa parte está interessada na tarefa.
Os jovens fazem muitas perguntas sobre mim: De onde sou? Com que trabalho? Quanto ganho? O que significam minhas tatuagens? Respondo apenas algumas perguntas, pois não tenho intimidade com eles para dizer algo além do profissional, mas acho que o local de origem é importante para criar diálogos. Eu digo e eles me chamam de Boy, porque o bairro onde moro é classe média.
Durante a oficina, a Terapeuta me observa e conversa com os jovens. Uma outra técnica fica mais distante apenas analisando. Há 5 funcionários disciplinadores responsáveis pelos jovens no pátio e nos alojamentos. Os jovens chamam os funcionários disciplinadores de “Agentes”. Ao que parece, toda a interação humana naquele local ocorre sem problemas, pelo menos foi assim à primeira vista.
O tempo de oficina termina e a maioria dos jovens não concluiu seu  desenho. Alguns simplesmente largam o material ali de qualquer jeito. Já outros querem continuar e terminar o que começaram. Os materiais são recolhidos e contados para conferência. A Terapeuta me chama para subir e eu despeço dos poucos que ali ainda estavam, buscando alguma interação comigo, falando algo sobre o desenho ou sobre minhas tatuagens.
Subimos de volta para a sala de materiais e, enquanto eu guardava os materiais utilizados, a Terapeuta me dizia que o Sistema possui algumas regras e deveres, tanto para os oficineiros quanto para os jovens. Lá no pátio os jovens não poderiam se envolver em conflitos, deveriam manter a organização do espaço. Eram obrigados a participar das atividades e não poderiam fazer apologias ao crime. Ao final da minha oficina eu deveria fazer um relatório escrevendo sobre como cada jovem se portou, o que fizeram, quem se destacou ou quem fez apologias. Essa questão da apologia me deixou com uma série de perguntas sobre o tema. A Terapeuta me respondeu que fazer apologia seria falar sobre o crime que cometeram ou sobre o artigo no qual foram enquadrados, falar sobre drogas, facções, escrever siglas, desenhar ou fazer referência a armas, gesticular siglas com as mãos ou apontar gestos para outro jovem, falar sobre morte ou assassinatos, e mais uma série de fatos e situações genéricas.
Ela me disse que os desenhos que eles fizeram na minha oficina estavam repletos destes elementos, e que seria meu dever reprimir no ato e colocar no relatório final para esses jovens receberem as devidas sanções e punições. Eu fico em silêncio, apenas pensando nisso. Ela disse que vai redigir o contrato e que eu terei que ir na sede do Programa para firmar e poder começar a trabalhar.
Vou embora de lá pensando em várias questões. Enquanto pedalo, tenho minhas reflexões sobre como é aleatório o julgamento do que seria apologia. Vários dos exemplos que a Terapeuta me deu, a meu ver, dizem respeito às próprias experiências de vida daqueles jovens, seus contextos, suas atividades. Muitos viveram isso em toda sua trajetória. Isso ficou bem claro para mim, sobretudo quando olhava para seus desenhos. Para mim a arte deveria ser livre, serviria para iniciar diálogos, dotar de sentido as ações e relações, ajudar na cognição e em vários tipos de interações. Os desenhos daqueles jovens poderiam dizer muito mais sobre eles do que qualquer conversa, onde filtramos algumas coisas objetivas que não queremos expressar.
Apesar de um primeiro contato parcialmente frustrante, retorno pra casa pensando em como melhorar a dinâmica destas oficinas, o que poderia fazer para contornar essas situações burocráticas institucionais.
Para os próximos passos eu deveria apenas aguardar, pois teria que assinar contrato e alinhar meus horários com a equipe técnica para as oficinas semanais naquela unidade.
Eram tempos de planejamento.

Pinturona com cenas de filmes

Pouco antes de iniciar o isolamento social em BH, minha querida amiga Fabi me encomendou um trabalho que seria um presente para o marido dela. Ela me passou algumas referências de cenas de filmes, e queria fazer um mosaico, ou algo parecido, com as cenas. Eu dei a ideia de pegar essas cenas e colocar todas no mesmo cenário, como se tudo estivesse acontecendo ao mesmo tempo. Eu tinha uma ideia de uma coisa meio “Onde está o Wally” em que cada cena seria descoberta em cada local do cenário. Pensei em fazer tudo digital, afinal sairia mais rápido e mais barato, mas conversando com ela chegamos a conclusão de que uma pintura seria bem melhor, mais personalizado, mais exclusivo, mais chique. Tudo combinado para iniciar o trabalho e tivemos que adiar a produção, porque faltava comprar tintas, pincéis novos e um painel, e as lojas todas estavam fechadas.

Depois de algum tempo, e com as lojas voltando a funcionar com sistema de entregas, decidi reabrir meu atelier e retomar meu trabalho. Consegui encomendar o painel no tamanho que eu precisava e consegui também algumas tintas (não consegui todas que eu queria porque a distribuidora não tava conseguindo entregar pras lojas). Dei início à pintura. Fiz várias marcações com lápis HB, iniciando com um gradeado de leve, e depois marcando as linhas que funcionariam como guia de perspectiva. Logo após, fiz aguadas de preto bem clarinho, bem diluído, para marcar onde iria cada elemento arquitetônico que eu tinha colocado no esboço. Também aproveitei para fazer uma aguada de azul no local onde ficaria o céu.

Depois de ter as marcações de aguada completamente secas, comecei a trabalhar com a tinta acrílica menos diluída ou pura, aplicando efeitos de pincéis em diversos lugares. Eu gastei muito tempo, talvez mais do que eu deveria gastar, trabalhando o fundo e o cenário. Dei uma caprichada em vários detalhes e tentei colocar várias habilidades em prática. Já faziam alguns meses que eu não pintava, e estava um pouco sem prática.

No meio do processo eu tive algumas questões com algumas limitações que eu tenho em relação à cor. Para mim, é muito difícil clarear/escurecer ou fazer uma passagem entre duas cores de forma suave. Eu consigo pensar o que pretendo fazer, mas quando tento materializar, sai de forma diferente e acaba ficando meio grosseiro. O uso do preto e do branco para criar alguns efeitos de luz e sombra não deu certo nesta pintura, sobretudo em detalhes minuciosos de rostos. No decorrer da pintura, minha esposa Natália me ajudou com algumas questões e chegamos a conclusão de que não fazer os rostos ficaria melhor. Como artista, é difícil compreender as limitações técnicas, pois sempre achamos que tudo é possível de alguma forma. Mas foi importante saber colocar um fim ao processo de pintura, abrir mão de algumas questões para ter outras. Neste caso, eu abri mão dos detalhes dos rostos para ter uma pintura mais delicada, menos grosseira.

Enfim, foi uma pintura cansativa, mas que me deu muito orgulho de fazer. Por ser daltônico, as pessoas dizem que eu costumo ser mais ousado na utilização das cores, e essa é uma característica que eu gosto. Ousadia. O processo foi paralisado em diversas ocasiões, tive que conciliar com outros trabalhos que estavam pendentes também e eu não poderia estar mais feliz.

Pintura finalizada

Acho que eu só tenho a agradecer à Fabi (e Fábio) pela confiança e pela paciência, à Nat, minha companheira, pelo diálogo e sugestões, e à todos que me apoiam de algum forma. O vídeo com o processo de produção pode ser conferido logo a seguir.

Esbarrando nas próprias limitações

Toda produção artística é um processo. Por vezes lento, por vezes doloroso, mas produzir e conseguir colocar um ponto final na obra é uma sensação indescritível. Ultimamente andei trabalhando em uma pintura acrílica para uma amiga, e me deparei com mais frustrações do que o normal. Minha falta de prática com pintura (fazia muitos anos que não pintava) me deu várias voadoras, e acabei esbarrando com várias questões que me incomodaram muito. Uma delas é o fato de ser daltônico, e isso me impede de conseguir perceber tonalidades e de clarear/escurecer cores. O daltonismo para mim nunca foi um problema, aceito muito bem essa deficiência e não me importo com essa questão quando produzo algo meu, que tem a ver comigo e que eu nem sei se será comercializado. Porém, foi uma questão bem pesada ao trabalhar nessa pintura, encomendada por esta amiga. Detalhes pequenos, que deveriam ser feitos trabalhando diferentes tonalidades da mesma cor, acabaram sendo deixados de lado. Foi uma alternativa na qual optei para não atrapalhar as imagens. Sombras e luzes de personagens e de cenas foram ignoradas e ficaram apenas símbolos e características onde se consegue perceber o que está acontecendo, porém sem muitos detalhes. Isso nunca me incomodou como incomodou nesta situação. Esbarrei em uma limitação genética, onde não consegui achar outras alternativas para resolução destas questões. Decidi colocar um ponto final pois não há onde mexer de forma que não atrapalhe todo o resto. Tive uma professora de pintura há 7 anos atrás que dizia que nós artistas deveríamos colocar um ponto final, antes de mexer demais e ter que resolver outras questões que antes não existiam. Eu nunca sei quando colocar esse ponto final, pois para mim sempre há algo em que eu devo mexer mais, talvez por isso eu Não possuo pinturas minhas em casa, pois me dá vontade de alterar todo o tempo. Ter colocado um ponto final nesse processo foi doloroso, minhas questões com a deficiência de enxergar cores e de não conseguir compreender com quais tonalidades estou trabalhando me incomodaram muito, pela primeira vez na vida. Mas acho que é melhor finalizar como está, e deixar o tempo cicatrizar essas questões antes de partir para a próxima.

Cansei do Coronavírus

Eu estou lidando muito mal com essa ideia que ficou conhecida como “o novo normal”. Usar máscara o tempo todo, seguir evitando aglomerações, não trombar com ninguém… Ahhhhhh. Que desespero essa situação. Já levamos 1 semestre de isolamento, paranóias, fake news e políticas incapazes de ajudar em algo. Brasil já passou dos 100.000 mortos, BH recém chegou aos 1.000 óbitos registrados (porque sabemos que os números são maiores), e não há previsões para o fim. Pode ser que hajam novas ondas, que retomemos isolamentos mais severos, e ainda tem muita história para acontecer nesse capítulo pandêmico.

Os médicos que ajudaram a combater a praga da Gripe Espanhola há 100 anos atrás possuíam várias teorias sobre a pandemia. As pessoas eram contaminadas pelo cheiro putrefato no imaginário popular e científico. A vestimenta dos médicos incluía uma máscara feita de madeira, com ervas na região do nariz, da respiração, para evitar o mau cheiro dos cadáveres. Durante, pelo menos, três anos a Gripe Espanhola seguiu ativa, contaminando e matando uma renca de gente através do globo. Minhas saudações à todos que ajudaram a combatê-la na época, e minhas saudações àqueles que tentam combater o Covid-19 hoje. Esse desenho é uma singela homenagem.

Sobre concluir as coisas que começo

Já tem um tempo que eu ando em uma bad produtiva. É uma sensação estranha, não dá vontade de produzir nada e eu acabei entrando em um looping de procrastinação de um nível absurdo. Ontem eu fiquei pensando sobre essa bad produtiva, e imaginei que ela é causada pelo medo. Não digo medo de algo concreto, nem medo de filmes de terror, mas é um medo de começar algo. Como assim?

Nessas últimas semanas eu fiquei com vários trabalhos sem conclusão. Não conseguia terminar, e a maioria eu custei para começar. Parece bobo dizer essas coisas, mas é uma questão que me atinge diretamente. Esse medo de começar ou continuar algo passa por uma ansiedade devida à falta de perspectiva (eu acho) no campo profissional. Já tem um tempo que ando buscando outras formas de ganhar dinheiro porque apenas como artista eu já entendi que não rola, pelo menos por enquanto. Andei buscando outras áreas pra me dedicar e conseguir colocar em prática meu conhecimento de vários campos, mas esse medo estranho me deixou meio paralisado, sem ganas de começar qualquer processo.

Hoje de manhã, enquanto dava aula online de desenho para um aluno/amigo, conversamos sobre processos, e sobre a importância de concluir as coisas. Eu olhei para o meu atelier, enxerguei 4 pinturas inacabadas, vários post-its de projetos/trabalhos faltando conclusão e alguns testes de impressão serigráfica na fila, apenas esperando a minha boa vontade.

Depois do almoço eu decidi que iria prosseguir com os trabalhos em andamento, mesmo sem vontade e sem disposição. Foi tiro e queda. Em uma tarde muito produtiva eu consegui dar continuidade à pintura grande (110×70 cm), e concluí 3 pinturas pequenas (20×20 cm). Além disso, concluí um projeto de estampa que vai virar camisa e pôster em breve e agora estou animado para lavar a pilha de louça suja que se acumulou na pia.

Vim aqui escrever isso porque só bastava 1 comentário pra me fazer refletir sobre esse medo bizarro e estranho de dar continuidade aos projetos. Justo eu, que prezo pelo processo muito mais que pelo resultado, me encontrei travado nesse mar de dúvidas.

E que importância teve essa ação de conclusão. Um dia muito produtivo.