Seguiremos

Com os últimos suspiros de 2023 vem a vontade de escrever algo. Hoje estava pensando no que pudesse ser algo similar a uma certa retrospectiva desse ano que termina, mas acho que nada que eu escrevesse poderia representar tudo que foi. Em 2023 minha vida mudou drasticamente, teve aumento do número de clientes, de parcerias, de parceragens, de produção autoral e/ou terceirizada. Ingressei no mundo acadêmico e, ainda que eu esteja tentando me encontrar neste espaço, tenho curtido muito as pesquisas que tenho feito. Me propus a circular mais também, participei de algumas feiras em outras localidades e com isso acho que tenho conseguido firmar alguns laços importantes e ampliar as redes, conheci muita gente que significou muito para mim também. Muitas trocas importantes aconteceram nessas interações. Li bastante, tanto literatura quanto teoria, e produzi muito também na área criativa. Consegui escrever sobre minhas obras no blog, consegui inventar histórias e escrever relatos sobre minhas experiências também. Tenho me arriscado mais, sobretudo em situações em que eu havia perdido algumas das minhas habilidades. Também vivi fora das redes sociais por um tempo e, ainda que eu tenha desaparecido das timelines e feeds, foi a melhor ideia que tive em muito tempo. Vamos ver como será no próximo ano. Enfim, foi um ano ótimo. Obrigado por tudo.
Pego todas essas experiências e só consigo imaginar no porvir. O que será que teremos pela frente? Não importa, tô mais confiante que nunca.
Pego referências de DISCARGA e de FUN PEOPLE para encerrar este ano com um convite à luta, à memória, à resistência, e todas as possibilidades de vida que nos foram negadas/retiradas/arrancadas. Foi graças ao processo de resistir ao poder e às formas de dominação, de conseguirmos nos associar para firmar laços e de construir possibilidades distintas de vida que não desistiremos. Por AMOR seguiremos todxs de pé. Façamos nós mesmos o mundo que almejamos.
Pode vir 2024, estamos preparadxs!

Sobre distanciamento social

Já fazem alguns dias que não saio de casa. Atualmente morrem 3.000 pessoas por dia no mundo e isso é sim uma estatística preocupante. O isolamento/distanciamento social é algo necessário para que esse número não seja tão grande, ou não aumente em uma proporção mais catastrófica.

Para além dos casos diários a tarefa de “ficar em casa”tem sido estranha. Treinar desenhos, letras (o que eu faço nessa área estão nos destaques do Instagram), uma técnica ou outra de pintura que eu trouxe do meu atelier e que é mais fácil transportar e guardar, ler algumas notícias, ver séries, ler alguns capítulos de livros, lavar vasilhas, comer/fazer comida. Essa tem sido uma rotina. Parece que eu vivo em um looping de tarefas. Estou sem entender se eu repito muito o dia anterior, ou se isso é normal e vai passar. É uma sensação estranha, não consigo não pensar nisso. Mas imagino que muitos que adotaram a política de isolamento/distanciamento também estão passando por algo similar.

É impressionante o quanto me dá vontade de fazer coisas que antes podia fazer, mas que preferia não fazer por N razões (falta de tempo, dinheiro, trabalho, desgaste), e acho que talvez esse seja o meu maior desejo agora: sair tranquilo, reforçar as interações sociais, minhas redes. Essa coisa de conversar por Skype com as pessoas me fizeram ver o quanto sinto falta delas e de muitas outras, que eu sei que me fazem bem. Se antes eu não saía, hoje me dá vontade de sair a qualquer custo. Mas eu sigo no meu looping diário, pelo menos até esses tempos sombrios terminarem.

Uma coisa que tenho feito muito também é olhar fotos de viagens. Lugares que visitamos e que hoje estão completamente desertos. Tempos muito felizes em lugares muito massas, talvez nunca mais sejam os mesmos. E eu vejo o passado e penso no futuro, o que será dele? Daqui um ano, como será que lembraremos desse 2020? Lembraremos dos momentos difíceis, das interações virtuais, de estatísticas de mortes, das políticas adotadas por políticos? Ou lembraremos do quanto sentíamos falta de nossa vida pública, daquelas amizades que fortalecemos nesse presente bizarro?

Se cuidem!

Desconto de fim de ano

O meu desejo de investimento no meu atelier depende da quantidade de dinheiro disponível para tais planos. Começando pelos móveis da cozinha, como uma despensa para guardar utensílios e mantimentos, e na sala de serigrafia, para conseguir aumentar a produção e melhorar o nível dos cursos.

Para isso, durante o mês de Dezembro as gravuras e pôsteres estão com desconto de 30% (use o código FCKNZS) e as seção de camisas segue com valor promocional até que esses modelos se esgotem.

Lembrando que a entrega é gratuita em BH, em dia, hora e local a combinar.

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Mais planos

Chegando na reta final de apresentação do TCC, prestes a me formar em Licenciatura em Artes Visuais, o planejamento para os próximos meses começa a maquinar na minha cabeça. Eu já estava pensando em algumas mudanças na estrutura e mobiliário do meu atelier, com a finalidade de liberar espaço para adquirir novos equipamentos e aproveitar melhor o espaço ocioso em alguns lugares.

Começando pela cozinha, necessito urgentemente de um armário ou despensa para guardar utensílios domésticos e mantimentos. Já estamos olhando isso e é capaz da gente adquirir algo barato, para quebrar o galho até conseguirmos uma estrutura melhor. Também é necessário equipar o espaço para a produção de chocolates e bombons, comprar um aparador mais alto para a coluna agradecer no final do dia.

A sala de serigrafia também será alterada. Preciso contratar um serralheiro para criar uma estrutura de apoio para as telas de serigrafia ficarem guardadas suspensas. Também uma estrutura para apoiar as telas de maneira horizontal para secar emulsão no escuro. A ideia é, também, investir em uma mesa de luz a vácuo para gravar as telas, eliminando a utilização de livros como peso, e até para gerar uma gravação mais precisa também. Além disso, adquirir mais dois berços de impressão de estampas e uma mesa mais extensa, para colocar as telas descansando enquanto imprime outras cores. Talvez essas mudanças serão o investimento mais alto no atelier, mas que, no final, vai valer muito a pena.

Na sala principal, a ideia é adquirir mais módulos de estantes para guardar o restante dos livros e mais algumas outras miudezas que estão sem espaço. O móvel da sala também será eliminado, pois não aguentou o peso dos discos de vinil e da televisão e cedeu em diversas partes. Ainda precisamos estudar as possibilidades nesse local.

No quarto de produção, preciso de mais módulos para guardar materiais, ou alguma estrutura tipo mapoteca de gavetas que suporte papéis e matrizes. Atualmente eu uso uma cômoda, que está comigo há mais de 15 anos, e recentemente ela também não aguentou o peso dos papéis, cedendo em diversas partes. A ideia da mapoteca é justamente comprar uma que suporte o peso, e que suporte papéis de grandes formatos, tipo A2, pois eu não tenho onde guardá-los. Também é necessário colocar uma mesa de vidro ou tábua de corte em cima da mesa de trabalho, para esticar tinta de gravura e cortar stencil. Também há a possibilidade de cortar stencil em algum suporte portátil, mas este precisa ser grande, pois estou com projetos megalomaníacos para produzir. Também é necessário a compra de cadeiras e bancos, preferencialmente dobráveis, que possam ser guardados. Há a necessidade, também, de pendurar os quadros nas paredes que não possuem infiltrações (tomando todo cuidado para não mofar os quadros), e construir suportes para os rolinhos de borracha e, assim, liberar os cabideiros para roupas, bolsas e aventais.

Na parte externa, necessito pintar o muro, e já estou olhando isso com alguns amigs para fazer um mural coletivo. Também, colocar plantas para aproveitar a área externa, bem como bancos , caso alguém queira situar-se por lá. Na área externa, também colocarei um tanque para lavar telas, já estou vendo isso com um amigo, e quando instalado, poderei limpar o chão, que anda encardido de tinta, emulsão e químico de serigrafia.

Para finalizar essa parte de reformas, preciso terminar a pintura das portas e janelas, iniciadas ano passado, e que foram descontinuadas. Também, pintar com stencil a parte interna para decorar o espaço, alguns padrões de tom sobre tom, estou estudando ainda como farei, mas acho que vai rolar.

Tudo isso, porque estou com muitos planos de produção e de aulas e quanto mais eu puder investir no espaço, mais eu boto fé que trabalharei. Eu gosto de fazer o que faço, e acho que isso tudo vai ajudar a dar um gás nas minhas ideias.

A Loja Online anda um pouco parada, mas em breve eu volto a colocar novidades.

Sobre o futuro

Uma das coisas que mais tem me incomodado nesses últimos dias é o fato de tentar compreender a minha total falta de interesse em seguir a carreira de professor. Já são vários anos trabalhando com educação não-formal, e desde o ano passado que estou no processo de me formar em licenciatura em artes visuais. E neste exato momento, penso que irei concluir apenas pelo fato de que eu devo terminar o que comecei, pois não tenho mais vontade de ser professor. Calma, não que eu queira parar de compartilhar minhas experiências, assim como o faço em programas, projetos sociais e em meu próprio atelier, mas me dá um certo pânico pensar no ambiente escolar, e como minha saúde fica debilitada ao tentar lidar com isso. Recentemente, em um momento de tensão, minha voz falhou dentro da sala de aula, enquanto tentávamos reprogramar 8 horas de oficinas, em um período de apenas 2 horas, pois a diretora da escola havia se esquecido que iríamos trabalhar naquela semana. Suei muito, e o desespero em tentar fazer as coisas de forma corrida não me deixaram trabalhar. Minha voz falhou, e por mais água que eu tomasse, já era tarde demais. Foram quase 2 dias sem conseguir emitir um som, e você não tem ideia do quanto eu queria falar. Algumas amigas ficaram preocupadas com a minha situação, e hoje eu fico lembrando que a minha voz também deixou de sair durante quase 2 semanas, neste mesmo ano de 2019.

Alguns fatores como stress, o desequilíbrio emocional/psicológico, afetam diretamente as cordas vocais, e eu não consigo desvincular parte dessa culpa ao processo educacional que eu tenho refletido por causa do meu TCC. Me causa um certo desespero pensar que eu, como um futuro professor da educação básica, terei que lidar com várias frustrações decorrentes do cotidiano escolar. Falta de estrutura, falta de materiais, falta de interesse, ser questionado pela instituição, por pais, por alunos, e por colegas de trabalho, carga horária de trabalho muito intensa, e compreender muito mais fatores negativos que positivos em todo esse sistema. Eu não quero buscar pequenas vitórias para me sentir satisfeito com meu trabalho, nem me dedicar a algo que traga essa carga de stress, que me fará gastar muito mais com terapias e tratamentos psicológicos, que com minha saúde preventiva.

Escrevendo meu TCC, começo a entender que a educação não-formal, apesar de insegura em termos financeiros, pois nem sempre há demanda, é algo que me traz satisfação. Um profissional precisa ter autonomia de trabalho, precisa ter liberdade de atuação. Somente assim se consegue desenvolver a ideia de uma educação que faça sentido.

A carga de pressão causada pelo ambiente escolar é algo que me desagrada, e eu realmente penso que ninguém deveria trabalhar nessas condições, ninguém.

Tentando encontrar um rumo

2019 promete ser um ano interessante. Muita coisa já está se organizando, e todos os dias acabam me empolgando um pouco mais. Ano passado eu fui desligado das oficinas das Medidas Socio-educativas. Foi um tempo interessante, mas muito limitador no sentido artístico. É difícil trabalhar a expressão limitando o que pode ser expresso. Enfim, bola pra frente, porque isso me deu várias outras ideias.

Cursos e Oficinas Livres

Quando falo sobre cursos e oficinas livres quero dizer às atividades que pretendo colocar em prática no meu atelier, meu espaço de trabalho. Aos poucos estou conseguindo equipar o local, e muitas são as opções de cursos que posso oferecer por lá. A ideia é ofertar atividades em todos os meses do ano. Ensinar e compartilhar experiências é a melhor forma de aprender, de evoluir, de desenvolver mais as habilidades e de descobrir coisas novas, e são oportunidades que não posso deixar escapar. Eu sei que nem sempre haverá pessoas interessadas, por falta de tempo, dinheiro, ou por não querer mesmo participar de algo, mas movimentar essas coisas me deixam mais animado com todo esse processo.

Docências e a Educação

Esse semestre eu decidi que não iria fazer Estágio Obrigatório, disciplina obrigatória nos cursos de Licenciatura da UFMG. Ao invés de acompanhar algum professor em seu dia a dia na escola, vou participar do processo de Designação para dar aulas em Escolas Estaduais. Acho que a experiência vai ser muito mais rica e desafiadora. Também porque eu faço parte do PIBID, e lá eu já acompanho aulas de artes com outra professora, além de termos discussões sobre nossos processos e vivências no ambiente escolar. Vão ser experiências complementares e, se tudo der certo, até o fim do ano eu sigo nesse processo.

Oficinas Externas

Nesse caso me refiro à prestação de serviços de oficinas e cursos fora do meu ambiente habitual de trabalho. Em 2019 eu comecei a trabalhar no Programa Fica Vivo! de Prevenção à Homicídio. São oficinas realizadas dentro de um Aglomerado de BH, que são de artes visuais e intervenções urbanas. A ideia é compartilhar com xs jovens técnicas que vão desde o primórdio dos desenhos, da gravura, exercendo a livre expressão, a crítica, as noções básicas sobre a imagem, até a intervenção no espaço urbano com grafite, estêncil, murais, cartazes, lettering, etc. Poder trabalhar várias formas de produção, e não se limitar a apenas uma.

Estampas

Para esse ano estou com ideias de lançar uma coleção nova de estampas para as camisas. Já estou buscando novos fornecedores de camisas para conseguir um material melhor, com uma modelagem melhor, e fazer um produto de alta qualidade. Além de trabalhar com as minhas próprias estampas, já estou conversando com alguns artistas de BH para algumas colaborações e, assim, termos camisas com estampas variadas, para agradar a vários gostos, e ajudar a divulgar nossos trabalhos de forma coletiva.

Gravuras

Estou retomando minha produção de gravuras também. Inicialmente vou focar um pouco na xilogravura, na linoleogravura e na serigrafia, pois são as técnicas que mais tenho acesso, e que eu poderei manipular meu tempo com maior facilidade. Faz tempo que busco criar algo novo na minha produção, e faz tempo que esse “novo” não vem. Então eu decidi continuar trabalhando o que eu já trabalhava, para maquinar as coisas a partir daí, e não ficar estático como eu estava. Apesar do tempo corrido, ficar parado não ajuda em nada.

Gastos

Infelizmente tudo nessa jornada tem seu preço, e toda vez que consigo investir em algo, surge outra coisa para investir também. Meu atelier ainda faltam alguns móveis e algo de infra estrutura, talvez alguns equipamentos. Mas isso vamos deixando mais para frente, já que sempre que eu posso compro algo que preciso para lá. O processo é lento, e estou tentando me ater à essa regra para não me endividar. Aos poucos, com esses cursos, vou juntando dinheiro para investir no atelier e deixar um lugar melhor e mais agradável, em todos os sentidos.

Site

Em 2019 pretendo colocar no ar a Loja Online, essa que fica no Menu aqui ao lado e que nunca está disponível. O que acontece é que eu ainda não organizei os produtos que irão ser vendidos. E já passou da hora d’eu criar vergonha na cara e fazer isso. Até para vender os Cursos e Oficinas através da Loja e não do Sympla (que cobra 10% do valor do curso), pois assim as pessoas podem querer adquirir vários produtos juntos, utilizando métodos de compra como PayPal ou PagSeguro, e poder pagar em até 3x sem juros (coisa que o Sympla não faz). Eu comecei a trabalhar um pouco lá na loja online e, se tudo der certo, esse mês ainda ele entra no ar.

 

Acho que é isso por enquanto. Não sei como vou conciliar isso tudo com duas matérias na Licenciatura da UFMG, início do TCC, e deslocamentos de bicicleta, mas 2019 promete muita coisa, e vou aproveitar minha empolgação para ir junto.

E Sobre a Educação?

Queria poder escrever sobre o sistema educacional de uma forma bonita e prazerosa. Desde 2009 dou cursos e oficinas, desde 2009 estou em uma faculdade, e desde 2013 que eu comecei a me interessar pela docência. Apenas em 2018 eu iniciei formalmente meus estudos para me tornar um professor e, desde então, comecei a refletir sobre a atuação no sistema educacional. E existem coisas que não me atraem nesse universo, e talvez, por isso, não conseguirei escrever de uma maneira bonita e prazerosa.

Fico lembrando quando estava na escola, ótimos anos. De 1994 a 2005 eu frequentei algumas instituições públicas, e sempre me achei um “bom aluno” até certo tempo. A partir da 7ª série, quando eu descobri o que era uma “Escola Plural”, implantada na rede municipal de ensino, eu simplesmente parei de me importar com a escola. Hoje eu entendo o quanto fiquei defasado em várias questões, e isso me custou muitos anos de cursinho para aprender o que eu nunca aprendi. No meu terceiro ano do ensino médio fui parar no Colégio Soma, privado, com aquela promessa de ser aprovado no vestibular da UFMG. Aprendi o que era a UFMG quando eu estava estudando no segundo ano, e minha irmã foi prestar vestibular. No Soma, consegui ir mal em quase todas as matérias, sempre pegava recuperação em várias disciplinas, e até hoje não sei como consegui formar. Foi um período muito pouco proveitoso, e se eu soubesse o que viria nos anos seguintes, teria feito tudo de forma diferente.

Em Julho de 2018 eu iniciei os estudos em Licenciatura em Artes Visuais, continuidade de estudos do meu Bacharelado em Gravura/Litografia. Ao mesmo tempo, trabalhava dando oficinas de arte em uma Unidade de Semiliberdade das Medidas Socioeducativas, dava aulas de xilogravura e serigrafia em meu atelier, e comecei a acompanhar duas escolas da Rede Estadual de Ensino. Uma delas é uma escola grande, famosa, conceituada, estruturada, bairro nobre, muitos recursos, etc. A outra é uma escola de bairro, porém não periférica, situada a duas quadras da minha casa. Posso passar uma eternidade aqui citando diferenças estruturais entre as escolas, mas irei focar na parte que me importa: as pessoas. As pessoas são aquelas que fazem parte da comunidade escolar como um todo, que participam do cotidiano e que, querendo ou não, fazem a escola acontecer. São professores, funcionárixs e alunxs, e eu fico tentando perceber/entender como elxs atuam nesse espaço/tempo.

Apesar da diferença berrante entre as duas escolas, tenho percebido muitas similaridades quando o assunto são as pessoas. Professorxs desmotivadxs por diversos motivos, funcionárixs desmotivadxs por diversos motivos, e alunxs desmotivadxs por diversos motivos. Motivos para a desmotivação é o que não falta. E eu entendo esse sistema indo cada vez mais para o buraco. Não é de hoje que esse formato que chamamos “escola” não funciona. A escola não é atraente, e não oferece mudanças em nenhuma perspectiva. Vejo com frequência alunxs de ambas escolas comparando o local com uma prisão. E eu entendo bem isso. Ali é um local de limitação de liberdades, onde há regras, muitas vezes controversas, e nada daquilo ali dialoga com xs alunxs. Digo isso com clareza, pois entendo que o ambiente escolar também não me atraía quando jovem. Fui entender que era preciso estudar e comecei a buscar conhecimento depois de muitos anos de formado, e hoje, com 31 anos, começo a compreender onde a escola erra. Nas salas de aula vejo várias matérias desconexas, uma falta de interesse dxs alunxs no que está sendo exposto, e uma ideia de que nada daquilo ali importa. A maioria dxs alunxs fazem prova sem nem ler, simplesmente marcam qualquer resposta. A maioria dxs alunxs não se importa com o que x professorx está ensinando, porque nada daquilo ali vai fazer diferença. De fato, tive dificuldades com matemática por muitos anos, até compreender os locais onde eu poderia aplicar uma fórmula matemática. Com a física, a mesma coisa. Também com a química. Também com a biologia, geografia, história. A maioria das disciplinas escolares nunca fizeram sentido para mim quando jovem, e eu só fui compreender na necessidade e na prática, onde esses conhecimentos são importantes.

O formato das Escolas que eu acompanho são muito parecidos. Várias matérias com vários conteúdos, provas bimestrais, recuperação, várixs alunxs fora de sala, várixs alunxs que não levam material, várixs alunxs que nem sequer tiram a mochila das costas, várixs alunxs sendo punidos por indisciplina. E eu entendo perfeitamente a indisciplina. Imagino que eu seria um desses que está de saco cheio disso tudo, e compareço à escola por obrigação, ficaria torcendo para chegar logo o horário de intervalo, e depois a hora de ir embora. Nem sei se o que escrevo faz sentido algum, mas escrevo para que um dia eu chegue a algum lugar com isso.

Na Universidade tenho várias aulas sobre educação, e sistemas educacionais, e formas de entender a docência, e a importância da arte no ensino. Mas tudo segue muito distante da realidade que eu experimento. Muitxs professorxs nunca entraram em uma sala de aula de uma escola pública, e os exemplos que trazem sempre são de escolas construtivistas, dessas super elitizadas, como se fosse igual lidar com problemas de ricx e problemas de pobre. Escrevo de uma forma bem xula, não me importo. Aqui são palavras que saem para tentar entender meu papel nessa história. O que estudamos no meio universitário não tem quase nada a ver com as escolas que frequento. Parece ser tudo muito utópico e lindo ao discutir o papel da arte nas escolas, mas as próprias escolas limitam muito a atuação da arte, e talvez não compreendam a importância da arte como campo de conhecimento. Arte não é fazer decoração de festa junina. Eu entendo a arte como um local de construção de sentido, de expressão, de aprendizado e de compreensão do universo, da sociedade e de seus fenômenos de uma maneira crítica. Talvez eu tenha demorado muito a compreender isso dessa forma, e não acho que seja fácil a compreensão por pessoas que não estão ligadas à isso. No ambiente escolar os campos de conhecimento sempre parecem muito distantes entre si, sem diálogo algum entre eles, e realmente deve ser um saco, um porre, ver essas aulas que nada tem a ver com a outra. Não estou falando aqui de existir recursos audiovisuais, aulas online, tecnologia de ponta para realizar aulas, mas de entender que as diferentes disciplinas podem trabalhar assuntos semelhantes, pois tudo está conectado. Com o tempo tudo foi dividido em diferentes áreas, e sumiram as relações entre o que aprendemos e o que vivemos. Fico pensando em Leonardo da Vinci, que exercia diversos ofícios e foi importante para várias áreas: Engenharia, Medicina, Artes Visuais, Botânica, Teatro, Arquitetura, Matemática, e vários outras áreas que hoje não dialogam entre si. Talvez na época de Da Vinci, o conhecimento geral fosse importante e os campos de conhecimento estavam conectados, e tudo que se ensinava construía um sentido, e fazia sentido.

Mas o sistema escolar limita tudo. Tudo tem seu tempo, suas regras, nada faz sentido, nada é atrativo e segue um formato que sufoca muito mais que liberta. Um ambiente fechado, onde xs alunxs não possuem nenhum senso de pertencimento, destroem todo o equipamento, funcionárixs irritadxs todo o tempo porque não aguentam mais a estrutura, e corpo docente de saco cheio sem entender as razões.

Escrevo aqui porque quero tentar entender o que desejo fazer, o que desejo tentar, e como eu posso ajudar a mudar algo. Não vou mudar o mundo, e nem quero. Não me preocupo com Mercado de Trabalho, pelo contrário, estou pouco “me fudendo” para isso. “Mercado de Trabalho” é um termo que me lembra pessoas acorrentadas a um emprego bosta, fazendo o que não gosta, ganhando stress, em troca de um dinheiro qualquer. “Mercado de Trabalho” para mim segue a lógica do nascer, estudar, trabalhar, morrer; e seguir a vida assim, torcendo para chegar o fim de semana ou as férias, porque somente nesses contextos é que se aproveita a vida, e o resto é trabalho e chatice. Eu gostaria que as pessoas fossem livres para fazer o que quiser, e ser o que quiser, e buscar, da forma que quiser, sua felicidade. Começo a compreender que esse formato de escola talvez sirva para se adaptar a esse modo de vida medíocre, pois segue a mesma lógica. Passar o dia em algo que não gosta, torcendo para o fim do expediente chegar logo, torcendo para chegar o fim de semana, e depois reclamando da segunda feira; tudo isso em troca da eterna promessa de uma vida melhor.

Acho que meu texto saiu um pouco do que eu imaginava. Meus devaneios sobre a educação talvez não terminem nunca. Esse formato não me atrai, e eu já entendi que não atrai xs alunxs, nem xs professorxs. Todo mundo reclama, e não pode propor mudanças, porque as mudanças vão criar pessoas livres, e inteligentes, e críticas. E ninguém quer isso.

O que fazer então? Como posso atuar na educação de uma maneira diferente?

Fico pensando que quando for professor terei muito trabalho. Eu sei que vou ganhar mal. Eu sei que irei ficar estressado, revoltado, cansado da estrutura, que vou reclamar por trabalhar muito, torcer para chegar o fim de semana, e reclamar da segunda feira. Eu sei que vou ter um discurso bonito, de conseguir construir sentido com poucxs alunxs, e isso vai fazer valer a pena todo esse processo. Estamos adaptados à isso. Eu estou adaptado à isso.

Ainda tenho tempo, e há muitas coisas para repensar e refletir. Até lá, farei o que puder, apesar de ainda não saber como.