Sobre dedicação à madeira

Uma das coisas que tenho sentido um pouco de falta nesses dias é o trabalho de entalhe na madeira. Produzir xilogravuras é algo que me agrada muito, e nesses tempos de pandemia, onde estou prestando muitos serviços, sobretudo, de serigrafia, tenho me dedicado pouco à xilogravura. Tenho planejado algumas aulas relacionadas a esta técnica, porém me falta tempo de planejamento. Isso sem contar os vários projetos que eu tenho, mas que ainda não pude executar.

Comecei a fazer uma série de xilogravuras que relaciona a música com o ativismo, porém não terminei e nem cheguei a imprimir a primeira matriz da série. Também pretendia criar vários cartazes em xilogravura destinados ao ambientes urbano, para intervir em diversos locais, mas também nem comecei as impressões.

Sobre o tema de imigração e a treta das fronteiras, tenho trabalhado em uma matriz de xilo utilizando a música “Cruzando la Frontera“do grupo de cumbia chamado “Fuga”. A primeira matriz, feita em pau-marfim, já está pronta, mas ainda falta a segunda matriz, que será feita em linóleo, e, da mesma forma que tudo que eu planejei fazer nessa pandemia, não tive tempo de dar continuidade.

Bom, de qualquer forma, acho que esse registro vale a pena, se o blog foi criado para colocar minhas questões profissionais e meus desejos em relação à isso, acho que estou no caminho certo. No mais, se tudo der certo, teremos muitas novidades com essa técnica.

Mais planos

Chegando na reta final de apresentação do TCC, prestes a me formar em Licenciatura em Artes Visuais, o planejamento para os próximos meses começa a maquinar na minha cabeça. Eu já estava pensando em algumas mudanças na estrutura e mobiliário do meu atelier, com a finalidade de liberar espaço para adquirir novos equipamentos e aproveitar melhor o espaço ocioso em alguns lugares.

Começando pela cozinha, necessito urgentemente de um armário ou despensa para guardar utensílios domésticos e mantimentos. Já estamos olhando isso e é capaz da gente adquirir algo barato, para quebrar o galho até conseguirmos uma estrutura melhor. Também é necessário equipar o espaço para a produção de chocolates e bombons, comprar um aparador mais alto para a coluna agradecer no final do dia.

A sala de serigrafia também será alterada. Preciso contratar um serralheiro para criar uma estrutura de apoio para as telas de serigrafia ficarem guardadas suspensas. Também uma estrutura para apoiar as telas de maneira horizontal para secar emulsão no escuro. A ideia é, também, investir em uma mesa de luz a vácuo para gravar as telas, eliminando a utilização de livros como peso, e até para gerar uma gravação mais precisa também. Além disso, adquirir mais dois berços de impressão de estampas e uma mesa mais extensa, para colocar as telas descansando enquanto imprime outras cores. Talvez essas mudanças serão o investimento mais alto no atelier, mas que, no final, vai valer muito a pena.

Na sala principal, a ideia é adquirir mais módulos de estantes para guardar o restante dos livros e mais algumas outras miudezas que estão sem espaço. O móvel da sala também será eliminado, pois não aguentou o peso dos discos de vinil e da televisão e cedeu em diversas partes. Ainda precisamos estudar as possibilidades nesse local.

No quarto de produção, preciso de mais módulos para guardar materiais, ou alguma estrutura tipo mapoteca de gavetas que suporte papéis e matrizes. Atualmente eu uso uma cômoda, que está comigo há mais de 15 anos, e recentemente ela também não aguentou o peso dos papéis, cedendo em diversas partes. A ideia da mapoteca é justamente comprar uma que suporte o peso, e que suporte papéis de grandes formatos, tipo A2, pois eu não tenho onde guardá-los. Também é necessário colocar uma mesa de vidro ou tábua de corte em cima da mesa de trabalho, para esticar tinta de gravura e cortar stencil. Também há a possibilidade de cortar stencil em algum suporte portátil, mas este precisa ser grande, pois estou com projetos megalomaníacos para produzir. Também é necessário a compra de cadeiras e bancos, preferencialmente dobráveis, que possam ser guardados. Há a necessidade, também, de pendurar os quadros nas paredes que não possuem infiltrações (tomando todo cuidado para não mofar os quadros), e construir suportes para os rolinhos de borracha e, assim, liberar os cabideiros para roupas, bolsas e aventais.

Na parte externa, necessito pintar o muro, e já estou olhando isso com alguns amigs para fazer um mural coletivo. Também, colocar plantas para aproveitar a área externa, bem como bancos , caso alguém queira situar-se por lá. Na área externa, também colocarei um tanque para lavar telas, já estou vendo isso com um amigo, e quando instalado, poderei limpar o chão, que anda encardido de tinta, emulsão e químico de serigrafia.

Para finalizar essa parte de reformas, preciso terminar a pintura das portas e janelas, iniciadas ano passado, e que foram descontinuadas. Também, pintar com stencil a parte interna para decorar o espaço, alguns padrões de tom sobre tom, estou estudando ainda como farei, mas acho que vai rolar.

Tudo isso, porque estou com muitos planos de produção e de aulas e quanto mais eu puder investir no espaço, mais eu boto fé que trabalharei. Eu gosto de fazer o que faço, e acho que isso tudo vai ajudar a dar um gás nas minhas ideias.

A Loja Online anda um pouco parada, mas em breve eu volto a colocar novidades.

A vida é desafio, já dizia Racionais…

Desde 2009 que eu trabalho com oficinas de arte, mas o trabalho com crianças, jovens e adolescentes é mais recente. Esse tipo de trabalho tem me dado um pouco de ansiedade em seu formato, pois são muitas dúvidas que eu tenho sobre minha atuação, e sobre os jovens que estudam comigo em alguns projetos.

Eu me considero uma pessoa paciente com a maioria das coisas. Acho que muitos processos possuem tempo certo para acontecer, e que tentar acelerar só o transformará em algo ruim, ou não prazeroso. Ter que fazer algo por obrigação torna o processo difícil, e saber que tudo o que você faz será julgado por terceiros também dificulta o processo. Na maioria das coisas que eu faço, tento fazer com tempo e paciência, para conseguir um resultado satisfatório.

Se eu colocar na minha cabeça que eu quero pedalar durante 6 horas seguidas, ou conquistar algum desafio do Strava, por exemplo, eu me preparo para isso, e dedico algum tempo para lograr com meus objetivos. Nem sempre consigo. Há fatores que às vezes me impedem de conseguir pedalar o quanto almejo. Problemas mecânicos, clima, preparo físico, acidentes… Mas não é por falta de paciência, e se não consigo eu entendo que eu me esforcei.

Na arte a mesma coisa. Posso passar horas, dias, semanas e meses trabalhando em uma única coisa, praticando, treinando, buscando alternativas para fazer um único trabalho, tudo feito de forma paciente, pensada, buscando um resultado que seja satisfatório para mim. Às vezes me dá uma agonia precisar criar uma estampa, por exemplo, e saber que ela ficará pronta só depois de algum tempo.

Eu me dedico. Eu pratico, eu treino, e busco aprender o que eu ainda não domino (se é que as técnicas podem ser dominadas). Acho que aí se encontra minha maior dificuldade como professor, educador, oficineiro. Para a maioria dos meus alunos, em apenas uma tarde de aulas eles já deveriam aprender tudo que é possível dentro de um técnica, já sair desenhando e pintando super bem, caprichado. Não se importam com o processo, com o treino, com a prática, com os estudos. Tudo deveria ser imediato. Eu tento pedir paciência, conto histórias sobre o meu processo, começando quando eu era bem novo, copiando com papel carbono os personagens de Cavaleiros do Zodíaco que estavam impressos em revistinhas. Demorou muito tempo até que eu conseguisse desenhar sem copiar. Demorou mais tempo ainda até que eu entendesse que isso é uma coisa que gosto, e que eu gostaria de aprender e compartilhar o conhecimento adquirido. Eu já devia ter meus 23 anos quando decidi cursar artes, mesmo sem saber desenhar. Na Universidade me sentia meio reprimido por estar ao lado de pessoas super talentosas, e eu nem chegava perto de ter habilidades como as de meus colegas.

Eu gostava do processo de produzir, mas não gostava de planejar, nem de criar. Sempre achava que eu estava aquém de todo mundo. Mas o fato de começar a ensinar me deu outra visão sobre tudo isso. Aprendi na marra que o processo é lento, e que devemos ser pacientes. Nunca tive a oportunidade de fazer um curso de desenho antes, meu olho não era treinado para isso, e só depois dos 27 que eu passei a compreender isso melhor.

A prática, o treino, o estudo e, principalmente, a paciência faz com que a gente consiga chegar onde queremos. Isso eu entendo perfeitamente bem. Mas eu ainda questiono como fazer com que xs jovens entendam isso? Tudo tem que ser imediato, tem que ser preciso. Eu realmente não sei como trabalhar isso com elxs. Recentemente eu proibi xs jovens de uma oficina minha de usar borracha, pois eles desmanchavam tudo o tempo todo. Ensinei a fazer esboços, planejar o desenho, ir tratando, fazendo acabamento e arrumando aos poucos, até conseguir chegar no resultado final. Foi uma oficina interessante. Elxs estavam aflitos por não poderem usar borracha, estavam ansiosos por causa da imagem toda embolada e rabiscada. Mas ficaram surpresos com o resultado final, acabado, limpo. Quando fui perguntar à elxs se eles gostaram, se foi interessante ter paciência e construir o desenho aos poucos, elxs me disseram que se tivessem borracha eles teriam feito igual, e de forma mais rápida. Eu sei que elxs não fariam igual, mas elxs não sabem disso. Independente do resultado, o processo delxs é rápido, curto, e talvez essa velocidade em fazer e desmanchar seja mais importante que o resultado final.

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Desenhando rostos

Pensei em fazer alguns trabalhos de desenho de forma mais livre e desapegada, mas eu ainda preciso encontrar uma maneira de fazê-los desapegar dessa coisa realista, desenho e borracha o tempo todo. Fico pensando em várias práticas que fizemos no ambiente Universitário de uma Escola de Artes, e fico pensando se daria certo. Afinal, em uma Escola de Artes, a maioria ali está disposto à esse tipo de experimentação, de reflexão e de discussão. Não sei se os jovens com quem eu trabalho teriam essa disposição de experimentar, de desapegar do desenho tradicional/clássico para surfar em outras ondas. Não sei se o espaço onde trabalhamos seria receptível à isso, pois na Universidade de Artes a maioria dos espaços são de experimentação e provocação. Dentro de uma comunidade, por exemplo, a moral e os costumes estão ligados à outros processos que não se abrem tanto para experimentações.

Ainda que a letra da música tenha pouco a ver com esse dilema onde me encontro, o título é bem propício: A Vida é desafio.

Oficina de Baren

Ontem rolou a primeira oficina de produção de baren tipo japonês. Apesar das 130 pessoas que acessaram o site de compra e inscrição, apenas duas realizaram o pagamento, e apenas uma compareceu.

Foi basicamente uma aula particular, e bem interessante no ponto em que eu fiquei muito mais próximo da aluna, que eu já conhecia, mas ainda com uma certa distância até então.

O programa foi bem simples. Apresentar os diversos tipos de barens e formas de impressão manual, iniciar a produção fazendo um bilhão de nós na linha; medir e cortar a fôrma da base; colar a linha nodulada; medir e cortar o pano do acabamento do baren.

Nesse ponto, paramos a produção para assistir a um vídeo em que um Mestre ensina a trabalhar com a folha de bambu para fazer o acabamento, e a forma como ele dá o nó final na folha para que ela fique firme. Houve uma breve conversa sobre as diferenças de materiais entre os barens, e logo retomamos com o processo de acabar e concluir o baren.

 

 

Como sempre acontece, houve uma pausa para o lanche, e logo colocamos a mão na massa para entintar matrizes e imprimir utilizando o Baren. Como a pressão da ferramenta e do braço atuam de forma diferente, é interessante compensar colocando uma quantidade maior de tinta na matriz, para que se consiga uma cor mais chapada/escura, sem fazer tanto esforço. Os orientais utilizam tinta a base de água no processo, e isso facilita o processo de impressão com baren. No caso da tinta gráfica, tudo deve ser adaptado.

Esse ano ainda acontecerão outras oficinas similares, espero que ainda em fevereiro eu consiga fechar as datas.

Requebra!

Domingo vai rolar um evento bem massa em BH. Dá uma olhada!!
As inscrições podem ser feitas clicando aqui.

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Em momentos de crise, reinventar é mais do que necessário, REQUEBRAr! Permitir enxergar por um outro olhar, mexer o quadril e por que não rebolar?!

Propomos um momento de colaboração, trocas e fomentação da cultura criativa independente. Um dia para vivenciar novas linguagens, formatos e possibilidades.

O REQUEBRA é um evento para a venda de produtos gráficos, oficinas, collab e discussões sobre empreender e criar.

           ********    PROGRAMAÇÃO:     ********

Oficina de Aquarela ———– com Prisca Paes — 10h às 12h

– Stencil —————————– com La Idea — 14h às 16h

– Oficina de Tag —————- com Fhero — 16:30h às 18:30h

– Desenhos de Letras aplicados em Lambe com Leoni Paganotti 

Gustavo Machado — 16:30h às 18:30h (pintura de letras)

             20h saída para aplicar os Lambes

********    SOBRE:     ********

OFICINA DE AQUARELA – Prisca Paes

É hora de você que sempre quis pintar – mas que não sabia por onde começar – descobrir a melhor maneira. Entender o que é preciso para começar a fazer as primeiras manchas e o melhor: colocar em prática!

Vem pintar com a gente?

 

Conteúdo programático: conhecendo os materiais, técnicas básicas: fundo seco, fundo molhado, sal, giz, máscara, usos do branco, preparação da tinta, Construção da palheta de cores, Prática e experimentações a partir do desenho

Materiais fornecidos pela Espaco Quebra: papel para aquarela Canson Mondval, estojo com bisnagas Pentel, pincéis para aquarela (pequeno, médio e grande), lápis para desenho, fita crepe, borracha, flanela, gode reservatório para água

OFICINA DE STENCIL – La Idea

La Idea é um projeto/pseudônimo de experimentação artística nascido em 2008, com o intuito de estudar, compartilhar e produzir arte em diferentes suportes. Entre as especialidades estão a produção de stencil, xilogravura, serigrafia, litografia, pintura, street art e muralismo. Além da graduação em Artes Visuais na UFMG e da passagem pela Escola Guignard da UEMG, foram realizados intercâmbios em Cuidad Juárez, México (2012), e Tucumán, Argentina (2016), onde foram realizados trabalhos de muralismos, gravuras, e o primeiro curso de stencil fora do Brasil.

Sobre o Curso:

O stencil é uma técnica milenar, tendo registros de sua utilização em pinturas rupestres, guerras, movimentos sociais, e atualmente muito presente nos movimentos de pós-graffiti. A técnica consiste em criar um molde vazado, que delimita a passagem de tinta em diversos locais da matriz para formar a figura. Nesta oficina, além de aprendermos o processo de iniciação da técnica, incluindo o desenho, os cortes e a aplicação de tinta, trabalharemos a construção de stencil com várias cores, e a produção de cartazes com a técnica.

OFICINA DE TAG – Fhero

Espaço ideal para quem quer um contato inicial com o graffiti e com as tags, letras típicas dessa cena mundial. A oficina busca trazer um outro olhar sobre a nossa escrita, abordando outras alfabetos e estilos tipográficos.

Conteúdo: desenvolvimento e criações de tipografias

PINTURA DE LETRAS APLICADOS EM LAMBE LAMBE – Leoni Paganotti e Gustavo Machado

A oficina será um espaço experimental onde os participantes entrarão em contato com o universo do desenho de letras. Haverá uma introdução teórica, básica e, em seguida, a experimentação de técnicas de escrita com materiais diversos.  Ao final da atividade cada participante irá produzir um lambe-lambe tipográfico personalizados que, mais tarde, serão colados na rua, conjuntamente.

Conteúdo pragmático

  1. Conceitos básicos: caligrafia, Tipografia, Desenho de letras / Lettering, Tipografia vernacular
  2. Explorando os Materiais: Lápis, canetas brush pen, pinceis, carcadores em geral, squeezers, tinta aquarela líquida, tinta acrílica, guache
  3. Produção: experimentação e produção dos lambes tipográficos
  4. Corre:Colagem dos lambes na rua

*Os materiais são empréstimos do Espaço QUEBRA, para uso exclusivo durante o workshop.

 

 

 

 

 

Xilogravura, turma 1

Passadas 3 aulas com a primeira turma do Curso de Xilogravura, escrevo agora sobre tudo que rolou até agora.

O cronograma está sendo cumprido à risca, e acho que conseguimos ver muito material audiovisual, matrizes e gravuras impressas para ter uma pequena noção do mar de possibilidades existentes na técnica da xilo.

Na primeira aula, conversamos sobre o termo “xilogravura”, o que significa, e como se diferencia de outras técnicas de reprodução da imagem. Vimos vários vídeos sobre o processo, folheamos livros, vimos muuuuitas imagens, e iniciamos o processo de fabricação de Baren, ferramenta de impressão manual.

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Na segunda aula, seguimos no processo de construção do Baren, e iniciamos a marcação do desenho na matriz de linóleo. Foi uma aula um pouco menos cansativa, mas o pano escolhido para montar o Baren estava um pouco grosso, e não foi possível terminá-lo neste dia.

Finalmente, na terceira aula e com o pano certo, finalizamos o Baren, e já começamos a melhor parte, que é a de cavucar a superfície do linóleo para gravar a imagem. Agora sim o assunto ficou sério. Conversamos sobre segurança, sobre estilos, como amolar as ferramentas, qual a finalidade das diferentes ferramentas e como devemos manusear as matrizes durante o processo de gravação.

Em todos os dias de curso eu ofereço lanche vegano feitos pela Abarca Cattering, da minha amiga Dani, e tem dado ótimos resultados. Comida gostosa deixa as pessoas mais alegres e dispostas.

Nas próximas duas aulas já iniciaremos o processo de gravação em madeira e o de impressão. Ansioso para esse dia chegar e poder mostrar o resultado dos trabalhos.

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Sobre a técnica de estêncil

Estava dando uma olhada nos meus arquivos e me deparei com a foto do meu primeiro estêncil, feito em 2007. É uma estrela com as letras EZLN logo abaixo. Cortei esse estêncil para poder pintar uma camisa e ter, finalmente, a tão sonhada camisa do Movimento Zapatista. Depois da camisa, comecei a espalhar essa imagem por Belo Horizonte, e mal eu sabia onde que tudo isso iria chegar.

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Primeiro estêncil.

Minha curiosidade pela técnica foi muito além do que eu imaginaria. O ato de cortar uma placa de radiografia me dava tanto prazer, que eu tinha começado a cortar de tudo quanto é imagem. Alguns deles foram para as ruas, outros ficaram confinados às paredes do meu quarto (meu quarto era um caos imagético, todo mundo intervinha lá).

 

Nessa época, eu achava que já estava no auge da produção, tendo chegado ao limite e esgotado as possibilidade de exploração da técnica. Mero engano. Na internet circulavam várias fotografias de arte produzida com estêncil de um sujeito chamado Banksy. Este artista britânico, com suas obras irônicas e críticas à sociedade atual, me fez perceber que eu não estava nem próximo de um limite, quanto mais de um auge. Eram verdadeiras intervenções em diversos tamanhos, formatos e cores, com contraste, luz, sombra, detalhes. Me lembro de ficar caçando na internet cada vez mais imagens desses graffites, que me deixavam cada vez mais perplexo.

Acho que foi nessa época que eu comecei a perceber, também, os trabalhos do Cidadão Comum (Hoje, apenas Comum) pelas ruas de Belo Horizonte. Eram cartazes produzidos com estêncil, impressões em várias combinações de cores, rica em detalhes e sempre com a inscrição do autor em algum lugar da imagem.

Foi a partir daí que eu comecei a experimentar o uso de mais cores e alguns formatos maiores. Na época eu também não tinha acesso à tintas melhores, e usava sprays horríveis, desses de depósito de bairro. E isso não ajudava muito no processo. Não consegui encontrar muitas fotos de trabalhos assim, mas nessa época eu deixei de arriscar nos muros da cidade para estampar em camisas que eu vendia a preços simbólicos.

 

Nessa mesma época, comecei a arriscar a pintar as camisas com pincel a fim de complementar as estampas feitas com estêncil, colocar alguns detalhes, uma luz, algo que a deixasse mais artística. Isso deu tão certo, que culminou na melhorias das minhas habilidades com desenho, e foi quando ingressei na Escola Guignard, no curso de Artes Plásticas. Foi na faculdade que eu tive contato com esse mundo da arte, e é possível ver um salto nas questões técnica e estética das matrizes.

 

Comecei a ter mais cuidado com os detalhes, e a ter mais paciência na hora de produzir uma matriz. Testei outros suportes também, como discos de vinil e telas de pintura, e cada vez me davam ideias de tentar algo novo. Nessa mesma época comecei a produzir imagens com a finalidade comercial, fazia muitas coisas com temas de filmes, músicas, séries, temas políticos ou apenas decorativos. Com os discos de vinil, também era possível vendê-los na forma de relógios de parede.

 

Em 2012, após passar um semestre em Ciudad Juárez, México, e conviver com artistas de diversos coletivos (Rezizte, Puro Borde, Hunab Ku, CLVR…), foi quando eu finalmente compreendi a finalidade estético-política que se pode alcançar com o estêncil. O contexto em que vivíamos (Gastos desnecessários com Copa do Mundo e Olimpíadas, Despejos, Gentrificação, Manifestações…) fez com que “minha” criatividade (digo “minha” porque todo o resultado do meu trabalho a partir desta época foram frutos de ideias, discussões e eventos compartilhados e vividospor todxs que fazem/faziam parte da minha vida) borbulhasse, e eu passaria um bom tempo trabalhando em matrizes que foram o marco inicial do “La Idea” nas ruas.

Conduzido pelos cartazes do Rezizte, que retratavam a vida fronteiriça (US/MX), e pegando um gancho nos trabalhos do Comum, iniciou-se uma produção em larga escala de cartazes produzidos com estêncil. A primeira ideia foi fazer um menino jogando bola de chinelo, para mostrar que o futebol está além daquele que é vendido pela FIFA e pela mídia. Juntamente com a criança, estariam dizerem contra a Copa do Mundo. A segunda ideia foi pegar a fotografia que saiu na capa de um jornal do Rio de Janeiro, onde um indígena da Aldeia Maracanã olha para o céu, após sair a notícia que o Museu do Índio seria demolido para dar lugar a um estacionamento no Maracanã. A terceira ideia, e talvez o que seria a imagem mais conhecida do “La Idea” foi o rosto do El Marquéz, lutador de Lucha Libre, de Ciudad Juárez, e símbolo do Coletivo Puro Borde. Foi uma maneira de homenageá-los. Desta forma, a vida nas ruas começava a tomar forma. As matrizes eram feitas em diversas cores, eram bem chamativas, e possuíam tamanho A2.

 

Depois desses, vieram várias ideias de fazer cartazes sobre outros temáticas, e ainda ampliar a quantidade de lutadores. Essa insistência rendeu várias postagens nas redes sociais, e eu via uma resposta positiva quanto aos cartazes que eu produzia, afinal, eles começaram a ser requisitados para venda.

 

Faltam alguns trabalhos que eu não consegui achar fotos no caos virtual do HD, mas assim que eu der uma organizada, darei um jeito de colocar aqui.

Para terminar essa jornada no desenvolvimento da técnica, minha última empreitada no estêncil foi tentar reproduzir obras de arte, da maneira mais próxima possível. É claro que igual nunca ficará, mas eu tentei ser bem fiel ao original (imagem virtual).

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Essa reprodução de uma obra de Hokusai foi minha primeira tentativa de cópia. É bem complicado tentar chegar em uma combinação de cores que seja plausível, mas a riqueza em detalhes me ensina que é preciso ter calma, paciência e precisão na hora de cortar um estêncil. Foram 9 matrizes em tamanho A3, 11 cores em spray e muitos minutos de trabalho minucioso. Eu fiquei bem satisfeito com o produto final, muitas pessoas compraram e acho que também curtiram bastante essa reprodução. Se não me engano, isso foi feito em 2014. De lá para cá, minha produção deu uma diminuída, mas em 2018 é algo que eu irei retomar. Acho que não estou nem perto de esgotar as possibilidades da técnica. Vejo trabalhos do ELK, da Austrália, ou do SHIT, aqui de BH mesmo, que estão ultrapassando vários limites, e chegando cada vez mais longe no desenvolvimento da técnica. Imagino que eles também tenham começado como eu, formas simples, letras, e na insistência e persistência conseguiram chegar onde estão hoje.

Vejo uma evolução tremenda em todas essas fotos que eu publiquei, e nunca imaginei onde eu poderia chegar. Continuo sem imaginar, e não vai ser agora que eu vou parar.