Em 2010 eu decidi ser artista. E isso implicou em diversos momentos de (mais) incertezas em relação às coisas que eu faço. 10 anos já se passaram e eu ainda sigo com dúvidas se sou artista. Nesse meio tempo eu estudei em 4 universidades (2 como intercambista), completei trocentas disciplinas, conheci muita gente, produzi muita coisa, e hoje me vejo com muito mais dúvidas em relação a essa escolha profissional. Eu, literalmente, amo produzir arte. Faço pinturas, gravuras, murais, ilustrações, estampas com um gosto e uma disposição que deixa muita gente impressionada. Mas não gosto de ser artista. Não gosto dessa obrigação bizarra de ter que transformar tudo o que faço em retorno financeiro. Acho que é até por isso que me dá vontade de largar essa produção autoral e tentar viver apenas de prestação de serviços. Produzir de forma comercial é um saco, é massante e tira todo o prazer de produzir. Isso me deixa deprimido, me faz questionar todo o tempo o que faço no meu atelier. Eu não consigo viver do que produzo (e, aparentemente, nunca conseguirei). É uma angústia terrível viver assim e não me encontrar nesse meio. Eu não tenho muita paciência para alguns tipos de eventos artísticos e seguramente não me vejo participando da maioria deles. Eu fico querendo mudar de área, conseguir trabalho fixo em algum local, mas também não dou certo tendo que cumprir esses horários e regras malucas das empresas.
Enfim, estou de saco cheio de ter que transformar minha produção autoral em dinheiro. E muitas vezes eu tenho certeza que estou muito aquém, em relação à outros artistas, quando presto serviço para terceiros. Eu queria dar um reset em tudo e poder fazer escolhas com mais calma, mas os compromissos da vida, contas, covid, não me deixam sair desse lugar. 2020 chegou de voadora em vários planos que eu tinha, nocauteou muito do meu ânimo, e eu sigo aqui no mesmo caminho que não me agrada.
Foi só um desabafo mesmo.