Sobre a relação da educação com o punk rock – parte 3

Mais de um ano se passou desde que escrevi a parte 2 desta série de análises e reflexões. Fico muito feliz por ter relido minhas publicações anteriores e ter encontrado uma série de falhas, coisas que eu não escreveria hoje. A cada dia aprendemos mais, movimentamos as ideias e alteramos uma série de pensamentos. Viver é se locomover, ainda que seja somente com ideias. Saber reconhecer o quanto evoluímos nesse tempo é, de certa forma, libertador.

Meus estudos sobre educação seguem ativos, e meu interesse está cada vez maior. Ainda sigo com uma certa aversão em relação à instituição escola, e minhas críticas ao sistema escolar engessado se multiplicam a cada dia. Será mesmo tão difícil exercer um processo de aprendizado que forme sujeitos livres? A cada dia escuto mais e mais músicas que dialogam com a educação de alguma forma, e raramente escuto coisas positivas sobre os processos. Fico apenas refletindo sobre nosso crescimento, o contato com novas ideias e as críticas que fazemos à nossa formação. Hoje somos seres pensantes, sujeitos críticos, marginais, porque extrapolamos nossas relações para além da escola. Isso nos traz novas ideias, novos diálogos, novas possibilidades de atuação.

“No brain, no gain
Progressão continuada
Aprendizagem massacrada
Desequilíbrio da informação
Aniquilar a educação
Progressão continuada
O estado reduz os custos
Descasos nas escolas
Para formar adultos burros”

No Brain, No Gain – Discarga

Durante nossa formação somos completamente dependentes das instituições formais de ensino. Nossos pais decidem para onde iremos, e isso faz até sentido, porque somos crianças e fomos privados de tomadas de decisões desde sempre. Quando crianças nós apenas executamos as tarefas que nos são dadas. Assim nos acostumamos durante nossa formação, recebemos ordens, as executamos. A diferença em relação à vida adulta, é que as tarefas que executamos nos fornecem verbas para pagar contas e consumir. Mas a apatia segue igual. Nos resta ser só mais uma parte de um sistema explorador.

Provido de um conhecimento 
Que serve apenas como um mero instrumento 
Somos simples engrenagens 
Movendo uma monstruosa máquina 
Desde o início somos vítimas 
De um sistema educativo que anula criatividade 
Castra desejos, encerra a curiosidade pelo auto-sustento 
A sobrevivência nos limita 
A uma erudição falha e carente 
Que estimula a competição e a obediência 
Formando indivíduos controlados 
De gestos repetitivos que garantem grandes produções 
O empreguismo é o prêmio e a ignorância um castigo 
Rudemente ler e escrever ou até mesmo nem isso 
Estrutura cultural zero 
Porque empecilhos do poder afogam nosso potencial 
Escolas Livres 
Educação de verdade

Educação Zero – Abuso Sonoro

E pensando nessa busca constante por conhecimento, me pergunto onde foi que isso parou de ser um objetivo pelas pessoas. Não acredito que a instituição escola tenha causado isso sozinha. Cada um coloca, `a sua maneira, o que seria o ato de educar, ou qual tipo de educação é importante. Entram dogmas religiosos, dogmas políticos, regras morais, e no final os jovens parecem não querer saber sobre a educação. Combatem o menosprezo pelos dogmas e opressões com uma rebeldia superficial anti-sistêmica, sem indicar que sistema é esse, sem aprofundar nas questões sociais causadoras dessas opressões. Descrevem a ação estudo como algo ruim, como se não precisássemos estudar para fazer qualquer atividade cotidiana, como usar um celular ou praticar esportes. Mesmo ações hoje automáticas exigiram estudos outrora. Talvez os conceitos de estudos, de escola, de educação já tragam conotações opressoras, e isso afasta mais ainda as pessoas da busca por conhecimento. E sem interesse não há ação, não há teoria, não há reflexão, não há diálogos. Nada funciona.

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La Idea

um gravador, que faz gravuras; um bicicleteiro que anda de bicicleta; um rugbr que joga rugby.

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