Tudo começou quando a água deixou de sair da torneira. Moradores estranharam o fato de que, apesar de viverem próximo à regiões de nascente no chamado Morro do Dinheiro, a água havia acabado. O Morro do Dinheiro estava situado em uma região chuvosa, rica em recursos aquíferos, e apropriada para moradias pequenas e sistemas de agricultura familiar.
No local foi desenvolvido todo um sistema de coleta e distribuição da água, onde tudo poderia ser reaproveitado através de um complexo sistema de decantação. O sistema envolvia bambus presos com cipó, circulando entre árvores, estacas e residências. A coleta era feita através de poços estrategicamente localizados.
Desde o surgimento da comunidade no Morro do Dinheiro, toda demanda de lavagem, hidratação e irrigação foi suprida com este sistema.
Quando a torneira deixou de sair água, os moradores da comunidade se reuniram para tentar compreender o que se passava. Subiram aos poços e verificaram que todos estavam secos. A água não chegava mais ali.
Foi decidido, em um primeiro momento, que aguardariam o retorno da água. Esperaram pacientemente até que as torneiras abertas começaram a gotejar novamente.
Mas o líquido era turvo, escuro, com sabor adocicado, bolhas. Imprópria para irrigação, lavagem ou hidratação de qualquer coisa, pois foi percebido que as roupas não ficavam limpas, a pele rachava facilmente, e todas as plantações decresciam.
Os moradores se reuniram, e começaram a buscar a origem do líquido estranho.
Descobriram galpões escondidos no alto do Morro. Tudo foi muito estranho. Os galpões foram construídos com uma espécie de espelho, que fazia com que sua superfície externa se tornasse vegetações densas e complexas, impossíveis de serem percebidas de longas distâncias.
Era ali, possivelmente, que todos os recursos hídricos eram drenados e secados.
Os moradores se reuniram novamente e decidiram colocar em prática um plano para lidar com a situação. Primeiramente, e de forma silenciosa, iniciaram um movimento de transpor a comunidade para outro local próximo, e com condições adequadas de moradia e de plantio. Posteriormente, utilizaram os antigos poços para iniciar uma série de túneis, que ligavam de forma clandestina e escondida a nova comunidade com os galpões secretos. O sistema de distribuição e de decantação foi todo readaptado para coletar a água antes da chegada delas no galpão, levar os recursos para a nova comunidade, e despejar os restos da decantação de volta para a água que chegava ao galpão.
O líquido turvo se tornou uma fonte inesgotável de coliformes fecais, sujeiras, minerais e partículas diversas.
Os galpões deixaram de existir pouco tempo depois, sem nenhuma explicação aparente.
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