Tipo, tipo, tipo Colômbia. 10 horas em Bogotá.

Bogotá, capital colombiana, é um lugar que me surpreendeu muito. Passei menos de 10 horas na cidade, e só pude observar o caminho do Transmilênio do Aeroporto até La Candelaria, e um rápido passeio caminhando por este bairro que é o Centro Histórico. Uma coisa me surpreendeu logo de cara em Bogotá: a quantidade de ciclistas. Tem muita bicicleta em Bogotá, tem um sistema de ciclovias bem extenso, e é um daqueles rolés que você se apaixona à primeira vista e solta aquela famosa expressão “Eu moraria aqui numa boa!”.

Chegando no La Candelaria, ficamos rodando meio que sem rumo. Um bairro bonito, com arquitetura bem classicona, muuuuita arte urbana, muita gente nas ruas, muitos ciclistas, um trânsito meio intenso. Este bairro é muito colorido, ele é vivo e me pareceu um local interessante para colocar alguns stickers, para marcar minha passagem por lá.

Nos deu vontade de circular mais, conhecer outros lugares, subir o Cerro de Montserrat, mas tínhamos pouco dinheiro, precisávamos voltar ao aeroporto, e caminhando pelas ruas todo o tempo confundíamos passeio com a rua, por isso quase fomos atropelados por um ônibus. Foi um passeio muito curto. Basicamente conhecemos a vista do trajeto do Transmilênio, um pouco do bairro La Candelaria, e alguns poucos lugares de comidas típicas. Acho que vale um retorno à Bogotá para entender como funciona a cidade e ver realmente o que a cidade tem para oferecer.

¡Hasta Luego Bogotá! Nos vemos pronto!

Pedalar sempre, desistir jamais!

Terça-feira, 19 de Março de 2019. Saio de casa, monto na minha bicicleta e sigo para meu atelier. Trajeto simples, apenas 6 km, alguns morros bem singelos. Enquanto pedalava, um ônibus me ultrapassou guardando uma distância que não era maior que a palma da minha mão. Susto na minha lateral esquerda. O motorista joga o ônibus na minha frente antes mesmo de terminar de me ultrapassar. Sou obrigado a reduzir e a jogar a bike em direção ao meio-fio. 5 metros adiante o motorista para em um ponto de ônibus. Eu o ultrapasso pela esquerda, soltando alguns xingamentos. Ele arranca e me ultrapassa de novo, desta vez mudando de faixa e me ultrapassando da maneira correta, porém volta a me fechar, me obrigando a frear bruscamente para não bater. 10 metros adiante o semáforo fecha, e eu volto a ultrapassá-lo. Paro na sua frente e tiro uma foto do ônibus. O motorista ria da minha cara. Eram 14:04 quando tirei a foto.

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Ônibus que tentou me atropelar

Eu pedalo no meio urbano desde 2008 e quase todos os dias eu passo por alguma situação semelhante. Esse caso de ontem eu sei que vai ficar marcado por ver a expressão sádica do motorista enquanto eu tirava foto do ônibus. Ele não se importava com a minha vida, e acho que nem se importaria se eu morresse. Seria um ciclista a menos ocupando as ruas. Ele queria me amedrontar. Assim como muitos outros motoristas querem me amedrontar, querem amedrontar outrxs ciclistas, e eu fico imaginando a razão disso tudo.

Trânsito não é guerra ou disputa, é locomoção. Você não precisa ser o mais rápido, nem o que é mais hábil ao mudar de faixas, nem aquele que consegue passar em espaços minúsculos sem encostar em algum outro objeto. Esse último sujeito, inclusive, é o pior para quem pedala, pois constantemente passam tirando tinta de nossas bikes, tirando pêlos dos nossos corpos, para parar em algum semáforo ou engarrafamento logo em seguida.

Os motoristas ditos profissionais são os piores. Estatisticamente, na minha cabeça, eu diria que 79% das tensões que eu passo no trânsito são causados ou têm o envolvimento de ônibus, transportes escolares, táxis, caminhonetes de pequeno porte e esses fuckin Uber. Essa galera dirige muito mal. Passam raspando próximos de ciclistas, nos fecham o tempo todo para buscar passageiros, aceleram na nossa traseira e buzinam o tempo todo, achando que nós vamos simplesmente desaparecer da rua ao escutar a buzina.

Escutem bem: EU NÃO ENTENDO O QUE A SUA BUZINA ATRÁS DE MIM SIGNIFICA!

Eu coleciono acidentes enquanto pedalo. Em duas oportunidades eu caí por entrar com a roda dianteira em bueiros que estavam abertos e eu não enxerguei a tempo de desviar; já caí escorregando em óleo de carro que estava na pista enquanto descia um morro; um carro uma vez saiu do acostamento sem dar seta, me pegou de lado e ainda passou por cima do meu tornozelo com a roda dianteira; e eu já fui atropelado por um ônibus, que simplesmente ignorou minha presença ali e me pegou por trás, em cheio. São muitas as situações que eu já presenciei, e felizmente estou vivo, firme e forte.

O discurso da bicicleta como meio de transporte não é para todxs. Essa frase pode soar estranha, e por muito tempo para mim a bicicleta foi a solução para o mundo. Não é mais. Em Belo Horizonte, utilizar a bicicleta como meio de transporte requer muito mais que vontade de ajudar o meio ambiente e ser saudável. Requer paciência, disposição, preparo físico e um psicológico muito estável para lidar com todas essas situações diárias. Os carros não querem nem saber se você vai seguir direto em uma Via ou se você vai fazer uma conversão à direita, eles simplesmente te esmagam contra o meio fio, te fecham a fazem a conversão à direita na sua frente. São 3 ou 4 segundos que o condutor do automóvel poderia esperar até que um ciclista passasse. Mas, pelo jeito, esses segundos são muito especiais e não podem ser perdidos.

Passei por tanta coisa, e a maioria das pessoas que eu conheço me dizem sempre o mesmo: “Mas BH não tem ciclovia, aí fica difícil pedalar!”. Discordo. BH é difícil de pedalar por que o asfalto é ruim, tem bueiro aberto, tem capa de costela e remendo o tempo todo, e não há respeito. E é nesse ponto que eu firmo o pé no chão contra as ciclovias ou ciclofaixas. Para mim, elas têm utilidade apenas em vias muito engarrafadas, que facilita para o ciclista ao invés de pedalar nos corredores dominados pelas motos. As ciclovias não possuem utilidade nenhuma, na minha opinião. Elas começam em lugares aleatórios, e terminam em lugares aleatórios. Elas possuem muitos obstáculos, muitas são em cima das calçadas, e os carros te fecham em toda entrada de garagem ou esquina, ignorando o fato de que a preferência é do ciclista.

Muitos carros fazem a ciclovia de acostamento. Muita gente coloca os sacos de lixo para a coleta na ciclovia. Todo o lixo jogado na rua vai para as ciclovias. O asfalto da ciclovia está sempre mal cuidado. Há uma quantidade enorme de pessoas caminhando e correndo nas ciclovias. Esse último fator está altamente relacionado com o fato de que as calçadas são horríveis e possuem muitos obstáculos, por isso os pedestres preferem transitar pela ciclovias, e não há pista de corrida para a galera que corre. Pedalar na ciclovia virou sinônimo de interrupção todo o tempo, são muitos obstáculos, nenhuma continuidade, e os mesmos perigos do trânsito comum. Além disso, quando termina o trajeto de uma ciclovia, o ciclista tem que ir para a rua do mesmo jeito.

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Van na ciclofaixa da Rua São Paulo

Só para você ter uma ideia, no meu trajeto de casa para um dos meus trabalhos, não há sequer uma ciclovia. São 12 km de ida no meio dos carros. Na maioria dos meus trajetos diários, há ciclovias em apenas algumas partes. Uma destas ciclovias está situada acima da calçada, e ela muda de lado da Avenida em 4 situações, obrigando o ciclista que transita nele a se portar como pedestre, atravessando na Faixa Zebrada para seguir viagem do outro lado. É bizarro!

Sou contra as ciclovias, mas sou a favor de um trânsito mais humano e respeitoso.

11 anos ocupando meu espaço nas ruas de bicicleta, e não vou parar.