Se tem um lugar onde consigo fugir dessa bad que é o isolamento social em meio à pandemia, é a literatura. Ali consigo fugir dessa depressão que é “ser artista” e não conseguir manter a renda proveniente disso. Na literatura eu viajo longe, conhecendo e refletindo sobre assuntos cujo incômodo me fazem crescer.
Aqui irei falar um pouco sobre os 4 livros que já lemos e discutimos coletivamente no Clube do Livro, e de algumas leituras que fiz por interesse próprio durante esse período nebuloso.
Obras do Clube do Livro:
A Jangada – Júlio Verne: Essa é uma história estranha, escrita em fascículos para algum jornal francês, em que o autor se baseou em relatos de viajantes e pesquisadores sobre a Amazônia para criar um livro fantástico sobre uma viagem de jangada pelo Rio Amazonas. O livro possui uma narrativa meio bizarra, que parece ficar enchendo linguiça para seu desfecho e com motivações machistas, sexistas, patriarcais e de classe, ignorando conflitos sociais e ambientais e fazendo parecer que tudo é uma maravilha. Posso ser anacrônico ao afirmar essas coisas, mas é um livro que deixou muito a desejar.
A Guerra Não Tem Rosto de Mulher – Svetlana Aleksiévitch: Um conjunto de entrevistas e relatos sobre a participação das mulheres soviéticas durante a segunda guerra mundial. Um livro incrível, onde compreende-se muito do que eram os bastidores da segunda grande guerra do século passado. Quais eram os papéis das mulheres, o que elas passaram, o que fizeram, narrativas que trazem os sentimentos e as emoções, para além do que a história consegue contar.
Léxico Familiar – Natália Ginzburg: Um livro interessante, por vezes massante, onde a autora narra a história de sua família na Itália, sempre em primeira pessoa, como se ela estivesse em uma mesa de bar contando das coisas para você. Apesar da história ser interessante, parece que falta mais detalhes sobre como o fascismo italiano passou por eles, pois acho que faltou uma narrativa das emoções e conflitos que têm a ver com a história, de como atinge a família, etc. Realmente parece um relato de bar, onde a pessoa não te permite interromper para comentar algo. É uma obra razoável, mas não leria de novo.
Kindred, laços de sangue – Octavia Butler: Uma ficção científica fenomenal, onde a sensação de angústia fica aparente, e você não consegue parar de ler porque quer saber o que irá suceder em cada parte do livro. Vale muito a pena a leitura, traz várias discussões importantíssimas sobre anacronismo, movimento negro, escravidão, privilégio branco, educação, relações familiares.
Obras que li por conta própria:
O Livro dos Abraços – Eduardo Galeano: Como sempre, uma obra interessantíssimas com relatos de situações curiosas, de esperanças, de relações, que trazem um pouco de bons sentimentos, sobretudo nessa época. São pequenos trechos de narrativas sobre situações históricas/cotidianas, que nos fazem refletir sobra nossas ações.
As Últimas Testemunhas – Svetlana Aleksiévitch: Seguindo a mesma linha do livro da autora citado acima, eu o li logo após acabar com o outro. Desta vez, são relatos de adultos, que na época da segunda guerra ainda eram crianças, e a forma como eles compreendiam as situações. O que eles lembram dos adultos falando, qual o significado da guerra, o que acontecia, qual compreensão eles tinham das coisas, o que se passava na cabeça deles. São relatos incríveis e que vale a pena cada linha de texto.
Os Despossuídos – Úrsula Le Guin: Talvez o melhor livro que li até agora. É uma narrativa de um cientista de Anarres que voa de volta para Urrás, e a todo tempo nos são apresentados as ideias de novos mundos, seja baseado no anarquismo, socialismo, capitalismo, como é/como pode ser a vida, coletividade/individualidade, e essa ambiguidade e antagonismo de ideias. Apesar de possuir uma leitura muuuuuito densa, por vezes cansativa, não consegui parar de ler. O livro me prendeu a ponto deu ficar viajando no que eu poderia fazer com essas ideias que o livro me deu. Vida longa a Anarres!
Capitães da Areia – Jorge Amado: Foi o primeiro livro que li nesse período de quarentena. Uma obra interessantíssima, que me questionou o porque da leitura tão tardia deste livro. Talvez a viagem que eu fiz pra Salvador no final do ano passado tenha me ajudado muito com o imaginário da narrativa, e eu fiquei muito empolgado a cada página. Compreender sobre vários tipos de relações pessoais, profissionais, bicos, locais de moradia, preconceitos, lutas/movimentos sociais, resistências… são muitos os tópicos que podem ser debatidos com essa leitura. Recomendo muito.
Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola – Maya Angelou: Um relato autobiográfico com uma intensidade absurda de detalhes. Tudo que Maya passou com sua família, suas relações pessoais, abusos, mudanças, modos de vida. Também um dos melhores livros que li nesta época.
A Noite dos Mortos Vivos/A Volta dos Mortos Vivos – John Russo: Livros com os roteiros originais dos filmes, adaptados para a literatura. A principal diferença para os filmes do George Romero, é que nos livros são narradas as sensações e sentimentos dos personagens, trazendo uma agonia, uma angústia, um desespero que não se consegue perceber nos filmes. É uma ótima leitura também.
Se Você Gostou da Escola, Vai Adorar Trabalhar – Irvine Welsh: Esta obra, que eu ainda não terminei de ler, traz alguns pequenos contos que beiram o bizarro, que narra situações e pequenas histórias com pessoas de personalidades nada comuns. Estou na última e mais longa narrativa, mas é um livro ok, se você curte bizarrices ao estilo Bukowski, Welsh e Palahniuk, cê vai curtir.