Sobre o futuro

Uma das coisas que mais tem me incomodado nesses últimos dias é o fato de tentar compreender a minha total falta de interesse em seguir a carreira de professor. Já são vários anos trabalhando com educação não-formal, e desde o ano passado que estou no processo de me formar em licenciatura em artes visuais. E neste exato momento, penso que irei concluir apenas pelo fato de que eu devo terminar o que comecei, pois não tenho mais vontade de ser professor. Calma, não que eu queira parar de compartilhar minhas experiências, assim como o faço em programas, projetos sociais e em meu próprio atelier, mas me dá um certo pânico pensar no ambiente escolar, e como minha saúde fica debilitada ao tentar lidar com isso. Recentemente, em um momento de tensão, minha voz falhou dentro da sala de aula, enquanto tentávamos reprogramar 8 horas de oficinas, em um período de apenas 2 horas, pois a diretora da escola havia se esquecido que iríamos trabalhar naquela semana. Suei muito, e o desespero em tentar fazer as coisas de forma corrida não me deixaram trabalhar. Minha voz falhou, e por mais água que eu tomasse, já era tarde demais. Foram quase 2 dias sem conseguir emitir um som, e você não tem ideia do quanto eu queria falar. Algumas amigas ficaram preocupadas com a minha situação, e hoje eu fico lembrando que a minha voz também deixou de sair durante quase 2 semanas, neste mesmo ano de 2019.

Alguns fatores como stress, o desequilíbrio emocional/psicológico, afetam diretamente as cordas vocais, e eu não consigo desvincular parte dessa culpa ao processo educacional que eu tenho refletido por causa do meu TCC. Me causa um certo desespero pensar que eu, como um futuro professor da educação básica, terei que lidar com várias frustrações decorrentes do cotidiano escolar. Falta de estrutura, falta de materiais, falta de interesse, ser questionado pela instituição, por pais, por alunos, e por colegas de trabalho, carga horária de trabalho muito intensa, e compreender muito mais fatores negativos que positivos em todo esse sistema. Eu não quero buscar pequenas vitórias para me sentir satisfeito com meu trabalho, nem me dedicar a algo que traga essa carga de stress, que me fará gastar muito mais com terapias e tratamentos psicológicos, que com minha saúde preventiva.

Escrevendo meu TCC, começo a entender que a educação não-formal, apesar de insegura em termos financeiros, pois nem sempre há demanda, é algo que me traz satisfação. Um profissional precisa ter autonomia de trabalho, precisa ter liberdade de atuação. Somente assim se consegue desenvolver a ideia de uma educação que faça sentido.

A carga de pressão causada pelo ambiente escolar é algo que me desagrada, e eu realmente penso que ninguém deveria trabalhar nessas condições, ninguém.

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La Idea

um gravador, que faz gravuras; um bicicleteiro que anda de bicicleta; um rugbr que joga rugby.

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