Não sei se isso é uma coisa comum de acontecer ou se já aconteceu com algum de vocês. Às vezes me dá um pouco de frustração quanto à minha produção artística. Eu sei que acabo agradando um nicho muito específico com o tipo de coisas que faço, e eu fico feliz quando rola um certo reconhecimento pelo meu trabalho. E eu realmente curto quando as pessoas valorizam todas as etapas do processo, não apenas o resultado. Mas me magoa um pouco quando eu começo a compreender que de nada vale o processo.
Falo de valores monetários mesmo, pois tem muita coisa que produzo e que possui uma ótima receptividade por parte do público que eu alcanço, mas não vende, fica empacado aqui no meu estoque e isso me impede, até, de ter verba para produzir materiais novos. Antes eu pensava que isso acontecia porque os produtos tinham um valor de venda alto e inacessível, mas essa teoria foi por água abaixo quando eu entendi que o preço do produto não importa muito tendo em vista o quanto as pessoas gastam com outras coisas similares e não essenciais.
Repare que não estou aqui reclamando o fato de que eu não consigo vender muitas coisas, mas do fato de que as pessoas não creditam o devido valor em um produto. Como assim? Outro dia estava percebendo que algumas pessoas que vendem produtos similares aos meus, e mais caros, conseguem rapidamente comercializar esse estoque, e esse tipo de coisa me faz pensar algumas razões para tal.
Um exemplo muito claro é um designer que cria uma estampa de camisas, por exemplo, e contrata uma empresa especializada para realizar essa produção. O designer pode fazer qualquer coisa que a empresa vai se virar com seu equipamento e seus funcionários para conseguir produzir. Para a empresa é de boa conseguir vender esse trabalho por um preço baixo, pois paga o mesmo valor para o funcionário fazer 50 ou 50.000 camisas em um período de um mês. Acho que isso se encaixa no conceito de mais valia. O designer não terá trabalho algum de produzir essas camisas. Ele cria a estampa virtualmente e depois se dá ao trabalho de anunciar. Ele sabe que terá um trabalho de qualidade, e garantia de que todas as unidades impressas seguirão um rigoroso padrão de produção.
Muito diferente, por exemplo, são os produtos que eu faço. Além da parte virtual e da venda/envio, eu também preciso imprimir as lâminas, gravar telas, comprar camisas, preparar as tintas e fazer a impressão de cada uma das camisas. Eu preciso lidar com a perda de material, com as camisas que dão errado e preciso adaptar tudo o que produzo à estrutura que eu tenho disponível. Eu sei que uma arte com detalhes muito finos e com mais de três cores eu não dou conta de fazer, além de entender que quanto mais cores, maior é a chance de alguma coisa não encaixar bem. Eu preciso dispor de alguns dias, quiçá uma semana completa para conseguir produzir os produtos que eu planejei.
Após tudo isso, preciso colocar um valor de venda que seja acessível, que cubra o custo de produção e ainda me dê algum lucro para além de pagar as contas básicas (água, luz, internet, telefone, MEI).
Acho que a sensação mais frustrante que existe, que é ruim, que é péssima, é saber de alguém que comparou o seu trabalho com o de um designer como descrito acima, criticando a qualidade da estampa, o fato dela não ser tão complexa e chamativa, o preço dela, e a pessoa preferir pagar mais caro em uma coisa de “melhor qualidade”. Isso é muito ruim, e acho que a minha ideia de colocar os vídeos dos processos de produção disponíveis online tem muito a ver com isso, de mostrar que tudo é complicado, dispendioso, difícil e que gasta muuuito tempo e material para poder fazer.
Eu não abro mão de participar de todas as etapas do processo de produção das coisas que eu faço. Eu produzo com a estrutura que eu tenho disponível, e que desde 2011 eu tento investir para melhorar. Eu não sou rico, minha produção não é lucrativa e eu sobrevivo, principalmente, prestando serviços para outros artistas e dando aulas e oficinas. Estou longe de conseguir um público que sustente a minha produção, e as coisas pioram quando acontecem situações deste tipo, de completa desvalorização pelo processo de produção.
Minha coluna reclama muito o custo que tem produzir tudo de forma manual e artesanal e, ainda assim, não ter uma recompensa monetária que valha a pena. E disso temos que ficar naquela questão que me dói muito: manter um preço justo e um produto empacado ou baratear o produto e não dar conta de arcar com os gastos de produção e de sobrevivência?
Nossa, Didi! te entendo dmais e compartilho da sua dor! Dia desses fui pedir um hambúrguer e percebi que um sanduíche razoável é o preço do meu ebook! NÃO ESTOU AQUI PARA AVALIAR O PREÇO DO TRABALHO DE NINGUÉM SÓ O MEU! Aí pensei: “mano, eu produzo conteúdo! Divido conhecimento!” ao mesmo tempo que penso que quero fazer algo acessível esbarro na desvalorização!
Mas uma vez, um artista plástico, que estava migrando para a tatuagem me disse, que as pessoas preferem tatuar do que comprar obras; pq o publico dele é de jovens que ainda não tem suas próprias casas, aí era mais interessante ter a tatuagem no corpo e mostrar pra todo mundo!
Talvez o caso com as camisas passem por ai!?
Enfim! essa é uma eterna discussão!
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Foda né Prisca, quando comparamos o valor dos produtos parece tudo tão injusto. O valor agregado que os objetos possuem às vezes têm características surreais. Acho que passa mesmo por essa questão da juventude, que é muito diferente da gente em diversos aspectos, estamos velhos para compreender algumas coisas, rs.
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