[Serigrafia] Fui no mangue…

Chico Science e Nação Zumbi fizeram músicas que me marcaram muito. Me lembro daquele jovem pós adolescência, entrando na fase adulta e querendo descobrir o que o mundo tinha para oferecer. Me lembro que eu escutava música punk e rap enquanto voltava da escola caminhando, walkman no talo enquanto eu cantarolava as músicas. Um amigo, na época também punk, me disse que ia rolar um show de graça dum grupo de rock e maracatu no Parque Municipal. Eu, com todo meu preconceito musical, rejeitei o convite mas fiquei curioso em saber o que era maracatu, e o que isso tinha a ver com rock.
Com todas minhas habilidades de hacker naquela época, baixei algumas músicas no Soulseek (talvez Napster, Imesh, ou sei lá qual aplicativo eu usava) e me apaixonei profundamente. Cada canção que eu escutava eram aulas de musicalidade, ritmos, batidas, e eu me tornava um ser bastante curioso a cada letra que eu cantava.
Me tornei uma pessoa que se interessava mais ainda por música, fui buscar o que foi a Revolta Praiera, porque os computadores faziam arte, porque a cidade não gosta de seus construtores, fui buscar o que era um mangue, o que era Maracatu, quem foi Sandino, Zapata, Zumbi ou Antônio Conselheiro, Lampião e quem foram TODOS os Panteras Negras. Um mundo novo se abriu para mim. Outros grupos, movimentos, ritmos e estilos chegaram até mim, e me fizeram compreender que há algo além do punk
Conheci o grupo quando Chico Science já havia partido, e eu peguei só o que ele deixou de legado.

Escambo Gráfico

Para esta quarta edição do Escambo Gráfico, decidi prestar minha pequena homenagem a este grupo que me marcou tanto, me fez compreender várias coisas novas. Fiquei matutando ideias de como poderia homenagear alguma letra, e pensei logo em Manguetown. Não porque eu gosto que as coisas sejam assim, mas Manguetown me lembra um pouco de Homens e Caranguejos, obra de Josué de Castro, que eu li e me debrucei sobre cada detalhe, quando ainda achava que estudar Geografia seria meu futuro, rs.
Na obra, eu decidi ir pela literalidade da cena final da letra da música: “Fui no mangue catar lixo, pegar caranguejo e conversar com urubu…”. Talvez numa tentativa de trazer o quão importante foi, para mim, conhecer a banda e suas músicas.
O verde do fundo, mais pálido, coloca o mangue como um grande cenário. No primeiro plano um sujeito dentro do mangue (A lama chega até o meio da canela…) carrega um saco de lixo em uma mão, e um caranguejo em outra. Um urubu observa tudo (Urubuservando a situação…), esperando o sujeito verbalizar algo. Tudo isso em um vermelho mais forte. Esses dois trechos em destaque compõem outra música do disco chamada “Maracatu de tiro certeiro”. Foram referências para pensar em como seria o desenho e a composição desta gravura.
Trabalhar com cores complementares é mais seguro para quem é daltônico, e eu tive ajuda das amizades pra decidir a tonalidade do verde. Me sinto mais seguro quando consulto outras pessoas sobre quais cores utilizar.
Esse foi o resultado:

Tamanho aproximado: 21×14,8 cm – Papel Marcatto 80g – Edição de 36 cópias

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La Idea

um gravador, que faz gravuras; um bicicleteiro que anda de bicicleta; um rugbr que joga rugby.

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