Sobre a relação da educação com o punk rock – parte 3

Mais de um ano se passou desde que escrevi a parte 2 desta série de análises e reflexões. Fico muito feliz por ter relido minhas publicações anteriores e ter encontrado uma série de falhas, coisas que eu não escreveria hoje. A cada dia aprendemos mais, movimentamos as ideias e alteramos uma série de pensamentos. Viver é se locomover, ainda que seja somente com ideias. Saber reconhecer o quanto evoluímos nesse tempo é, de certa forma, libertador.

Meus estudos sobre educação seguem ativos, e meu interesse está cada vez maior. Ainda sigo com uma certa aversão em relação à instituição escola, e minhas críticas ao sistema escolar engessado se multiplicam a cada dia. Será mesmo tão difícil exercer um processo de aprendizado que forme sujeitos livres? A cada dia escuto mais e mais músicas que dialogam com a educação de alguma forma, e raramente escuto coisas positivas sobre os processos. Fico apenas refletindo sobre nosso crescimento, o contato com novas ideias e as críticas que fazemos à nossa formação. Hoje somos seres pensantes, sujeitos críticos, marginais, porque extrapolamos nossas relações para além da escola. Isso nos traz novas ideias, novos diálogos, novas possibilidades de atuação.

“No brain, no gain
Progressão continuada
Aprendizagem massacrada
Desequilíbrio da informação
Aniquilar a educação
Progressão continuada
O estado reduz os custos
Descasos nas escolas
Para formar adultos burros”

No Brain, No Gain – Discarga

Durante nossa formação somos completamente dependentes das instituições formais de ensino. Nossos pais decidem para onde iremos, e isso faz até sentido, porque somos crianças e fomos privados de tomadas de decisões desde sempre. Quando crianças nós apenas executamos as tarefas que nos são dadas. Assim nos acostumamos durante nossa formação, recebemos ordens, as executamos. A diferença em relação à vida adulta, é que as tarefas que executamos nos fornecem verbas para pagar contas e consumir. Mas a apatia segue igual. Nos resta ser só mais uma parte de um sistema explorador.

Provido de um conhecimento 
Que serve apenas como um mero instrumento 
Somos simples engrenagens 
Movendo uma monstruosa máquina 
Desde o início somos vítimas 
De um sistema educativo que anula criatividade 
Castra desejos, encerra a curiosidade pelo auto-sustento 
A sobrevivência nos limita 
A uma erudição falha e carente 
Que estimula a competição e a obediência 
Formando indivíduos controlados 
De gestos repetitivos que garantem grandes produções 
O empreguismo é o prêmio e a ignorância um castigo 
Rudemente ler e escrever ou até mesmo nem isso 
Estrutura cultural zero 
Porque empecilhos do poder afogam nosso potencial 
Escolas Livres 
Educação de verdade

Educação Zero – Abuso Sonoro

E pensando nessa busca constante por conhecimento, me pergunto onde foi que isso parou de ser um objetivo pelas pessoas. Não acredito que a instituição escola tenha causado isso sozinha. Cada um coloca, `a sua maneira, o que seria o ato de educar, ou qual tipo de educação é importante. Entram dogmas religiosos, dogmas políticos, regras morais, e no final os jovens parecem não querer saber sobre a educação. Combatem o menosprezo pelos dogmas e opressões com uma rebeldia superficial anti-sistêmica, sem indicar que sistema é esse, sem aprofundar nas questões sociais causadoras dessas opressões. Descrevem a ação estudo como algo ruim, como se não precisássemos estudar para fazer qualquer atividade cotidiana, como usar um celular ou praticar esportes. Mesmo ações hoje automáticas exigiram estudos outrora. Talvez os conceitos de estudos, de escola, de educação já tragam conotações opressoras, e isso afasta mais ainda as pessoas da busca por conhecimento. E sem interesse não há ação, não há teoria, não há reflexão, não há diálogos. Nada funciona.

Todo conhecimento pertence a uma rede

Esse título ficou estranho, mas eu realmente não sei como resumir meus próximos parágrafos em uma manchete. Eu só gostaria mesmo de tentar escrever, um pouco, sobre como as áreas do conhecimento nunca devem ser analisadas de forma isolada. Meu pavor da “instituição escola” vem justamente dessa separação em relação às temáticas que são trabalhadas, a forma como são colocadas em caixinhas de conhecimento, como se tudo fosse fragmentado e fosse dever exclusivo dx alunx reunir e associar tudo isso a fim de criar algum sentido lógico.

Já faz algum tempo que eu estou estudando e me aprofundando mais em algum tipo de educação que busque autonomia dxs sujeitxs, e xs autorxs anarquistas e libertárixs são xs que tem iluminado melhor meu caminho nesse sentido. Elxs entendem o processo educacional através de atividades, práticas e teóricas, sempre coletivas, associando as diversas áreas de conhecimento através de vários pontos de vista, de experimentações, de pesquisas, de diálogos. Pensando assim, uma pessoa que gostaria de cortar uma tora de madeira, fazer lenha e colocar em um fogão para fazer a comida, estará estudando biologia, química, matemática, física, artes, engenharia, educação física, história, geografia, etc. Isso tudo em uma simples ação de colher e cortar madeira. Eu sei que esse exemplo é bem superficial (e estou aberto a discussões), mas ele demonstra um pouco onde quero chegar com as minhas pesquisas.

Acho que esse tipo de ensino traz uma capacidade de associação muito interessante, e me dá até uma frustração em saber que o mais próximo dessa realidade seriam as escolas construtivistas, tão elitistas e inacessíveis. Imagina o tipo de conhecimento que poderia circular se essas práticas e metodologias de ensino fossem em outros ambientes, mais populares?

A minha ideia, então, é contar três curtos casos que aconteceram recentemente, que são desdobramentos de uma mesma coincidência e que me fizeram conhecer um pouco mais da história do próprio estado onde vivo, Minas Gerais.

SITUAÇÃO 1 = Na porta da oficina de bikes. Outro dia eu estava na porta da Canuto Cycles, trocando ideia sobre bikes e aguardando um serviço que estava sendo feito na minha bicicleta. Em algum momento, outro ciclista chegou por lá, e enquanto ele aguardava nós começamos a trocar ideia. Ele disse que morou em Lisboa por um tempo, e contava algumas histórias de lá. Ele citou um caso de que a pessoa com quem ele dividia a casa com ele quase incendiou o imóvel em duas oportunidades. Ele usava drogas injetáveis, e no momento em que desmaiava e adormecia fora de si, todo o aparato usado para preparar a substância seguia aceso, inclusive o fogo. As chamas cresciam muito e o risco de incêndio era real. Seguindo neste mesmo tema, ele disse que em Lisboa tem muitos imóveis que são feitos de madeira, pois depois do terremoto e tsunami de 1755, as casas começaram a ser construídas ou reformadas com estrutura de madeira, uma política do Marquês de Pombal, e era exatamente isso que ajudava a aumentar os focos de incêndio causados por moradores na Lisboa contemporânea. Olha que loucura.

SITUAÇÃO 2 = Ouvindo PodCast. Certo dia eu estava escutando um podcast enquanto lavava vasilhas, e dei play no episódio do Fronteiras Invisíveis do Futebol em que os locutores falavam sobre Minas Gerais. Esse podcast é interessante, une história e esporte, trazendo os aspectos sociais, políticos e culturais na história de algum lugar, seja estado, país, região. Em determinado momento, e claro que não poderia faltar, a Inconfidência Mineira vem à tona. E por mais que eu tenha estudado sobre essa temática na escola, eu nunca tinha associado esse episódio desta forma. De acordo com meu conhecimento prévio, a revolta se iniciou por causa da insatisfação com a tributação da Coroa Portuguesa em relação ao ouro na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). E meu conhecimento sobre a motivação terminava aí. Sim, sou um péssimo mineiro. De acordo com a pesquisa dos locutores do Podcast, o aumento da tributação que ocasionou essa revolta foi justamente devido aos altos gastos da Coroa Portuguesa com a reconstrução de Lisboa após a destruição causada pelo terremoto e tsunami. A Coroa queria mais ouro para poder financiar a reconstrução, e a fonte de recursos estava justamente na exploração da Colônia.

SITUAÇÃO 3 = Escutando músicas. Um dia desses eu estava reorganizando minhas mp3, renovando a playlist que está no celular, e decidi colocar vários discos que eu escutava há 15, 16 anos atrás. Tem uma banda em específico, oriunda da Venezuela, chamada Los Dolares, que eu conheci através de um amigo que passou sua infância naquele país. Lembro de escutar muito no início dos anos 2000, talvez 2003 ou 2004, porque era um som anarcopunk que soava muito bom para mim. Acho que na época eu devia ser muito novo (e também não entendia muito bem o idioma espanhol/castelhano) e as letras não eram assim uma coisa tããão importantes e sensacionais. Hoje eu tenho muito mais maturidade e conhecimento para escutar as coisas e compreender do que estão dizendo as letras, seja em português, espanhol ou inglês. Talvez seja até por isso que tenho voltado a escutar vários sons que eu escutava quando jovem (afinal, tem pouca coisa boa surgindo na cena punk, e estou cansada destas bandas novas, de ideias políticas isentonas, que só faz as coisas pra chocar o mundo virtual). Enfim, enquanto escutava Los Dolares, uma música começou a tocar. Se chamava “La fiebre del oro”, e possui boa parte dela uma narrativa calma sobre como a história acaba sendo uma arma dos poderosos para vangloriar e registrar seus feitos, ignorando e esquecendo das lutas dos de baixo. Os colonizadores chegaram nestas terras, exploraram tudo o que tinham direito, promoveram verdadeiros massacres, e a história que escutamos e aprendemos é a que os vitoriosos e poderosos nos contam. A letra desta música cita Ouro Preto, em Minas Gerais, como um exemplo disso. Toda riqueza foi explorada e saqueada para manter os padrões de luxo da Coroa Portuguesa, e ainda assim e história que escutamos é a versão dos poderosos. E digo isso incluindo as próprias vozes dessa revolta da Inconfidência Mineira, um movimento de caráter elitista, onde um sujeito foi morto como bode expiatório, onde criou-se falsos heróis, e a elite participante simplesmente o largou lá. Onde estava o povo? Quem essa elite explorava? A quem pertencia as riquezas da terra? Há outros olhares e reflexões sobre o episódio que não tenha sido escrito pelos de cima?

Eu coloquei essas três situações pra conversar um pouco sobre os diálogos que são criados a partir de diferentes mídias. Aqui, os diferentes sujeitos trazem cargas de conhecimentos e de experiências que podem não ter ligação nenhuma aparente, mas que me fizeram criar uma rede de conhecimentos que envolvem vários aspectos históricos, sociais e culturais. E é mais ou menos isso que me interessa nas minhas pesquisas sobre educação. As vivências e experiências fazem todo sentido quando são compartilhadas, quando geram diálogos. Parece bobo trazer essas situações e forçar um tipo de estudo em cima disso, mas é justamente sobre isso que se trata um processo educacional que seja mais inclusivo. Ele é coletivo, transpassa as barreiras de um simples encontro, é um processo contínuo de associações que acontecem em todas as nossas atividades. TODAS.

Por isso que me dá um certo desespero saber como foram as aulas que eu recebi durante a minha formação e como são as aulas que eu acompanhei durante meus estágios. As duas foram horríveis, fragmentadas, completamente sem sentido. As disciplinas, encaixotadas, não conversam entre si. Me lembro de um episódio enquanto fazia o estágio obrigatório, e dei uma aula sobre processos de impressão manual, mais especificamente a serigrafia e os recursos gráficos que enganam nossos olhar. A ideia era simples, utilizando um sistema CMYK (o mesmo que usa sua impressora a cores), ou seja, com apenas 4 cores (ciano, magenta, amarelo e preto), nós conseguimos reproduzir uma gama de milhões de cores, que enganam nossos olhos e nos fazem enxergar imagens fotográficas em um cartaz ou capa de livro, por exemplo. Essas cores, quando próximas ou sobrepostas umas às outras, criam tonalidades que só existem no nosso cérebro, não existem na impressão. A aula foi ótima, xs alunxs se mostraram interessados, fizeram perguntas, e me parece que correu tudo bem. Na semana seguinte, fiquei sabendo que o professor de física daquela mesma turma, começou um conflito com a professora de artes, justificando que “ela estava atropelando a matéria dele, porque COR é assunto de física, não de artes”. Eu achei isso um absurdo, pois na minha cabeça COR é assunto de várias áreas do conhecimento, cada uma tem seu modo de analisar as cores, em diferentes aspectos. Teoria da cor se encaixa em uma área mais voltada para as artes, a formação das cores, ótica e luz se encaixam na área de física. E as dezenas de tons de branco que os esquimós enxergam? E os diferentes verdes da flora e da botânica? E a nomenclatura das cores em cada região? E a diferenciação entre frutos “verdes” e frutos maduros? Isso tudo seria trabalhado exclusivamente na física? É isso que não faz sentido nesse tipo de saber que é “transmitido” e “absorvido” na escola. Ele é fragmentado e impede que a gente consiga associar as coisas, nos atrapalha a construir um conhecimento mais amplo. Ele nos limita.

Eu aluno e eu professor.

Nesses tempos de estudo sobre o que é uma educação, o papel da escola e o papel do professor, fiquei tentando trazer um pouco sobre o tipo de aluno que eu fui, tanto no ensino básico como no ensino superior. Foram vários momentos estranhos e ser professor/educador/mediador nunca esteve nos meus planos. Onde foi essa reviravolta?

Durante a minha juventude, fui um aluno que foi do 8 ao 80 em 8 anos. Até a 5ª série eu fui um ótimo aluno. Estudava em casa, fazia os deveres, tirava notas boas e até me lembro de ter ganhado uma medalha de “Melhor Aluno em Geografia” na EM Arthur Versiani Veloso. Me lembro também de ter que ler minha redação para toda turma na 4ª série da EM Dom Jaime de Barros Câmara. Na 6ª e 7ª séries eu já não me interessava muito pelos estudos, comecei a “matar” muitas aulas e a jogar truco com meus colegas, e minhas notas caíram drasticamente. Na 8ª série eu nem consigo lembrar muito bem o que eu fazia na escola. No ensino médio, estudei o 1º e o 2º ano no Colégio Municipal Marconi, que era uma referência em bons colégios em Belo Horizonte. Na época eu já era punk e foi um local onde fiz poucos amigos. Me lembro que no turno noturno haviam apenas 3 horários, não havia educação física, nem artes, e era um colégio legal, em que os professores tinham suas próprias salas, equipadas com laboratórios, e os alunos é que mudavam de sala a cada sinal. Eu estudava no turno noturno, junto com pessoas um pouco mais velhas, e eu dividia o meu tempo diário pegando alguns bicos de trabalho, tempo na rua com alguns amigos e nada de estudos. Todo esse período de educação durou uns 10 anos, e eu só cheguei ao final do ensino médio porque no ensino municipal funcionava um sistema chamado Escola Plural, em que não havia repetência por nota, apenas por faltas. Portanto, bastava apenas frequentar as aulas (ou responder chamada e ir embora) que a situação estava completamente tranquila.

No 3º ano eu fui para rede privada, pois o vestibular se aproximava e assim eu teria mais chances de ingressar em uma universidade. Entrei em um local estranho, onde custei a me adaptar (e até hoje tenho minhas dúvidas sobre isso), não conseguia acompanhar meus colegas de sala, e eu lembro de ver minha redação exposta no projetor como “pior redação da sala/como não fazer”. Foi um local onde fiz pouquíssimos amigos e minha interação era com uma amiga que eu tinha feito nos rolés há mais tempo e que estudava no 2º ano, e com alguns amigos que faziam Cursinho no mesmo horário. A interação que eu tinha era basicamente isso. Consegui ficar de recuperação em todos os bimestres, em diversas matérias e até hoje eu não entendi o milagre deu conseguir me formar. Com certeza “fui passado” por professores que eu imagino que tenham entendido a minha situação, mas não tenho certeza.

Depois de me formar, logo consegui emprego de carteira assinada e passei, pelo menos, 2 anos nessa rotina de passar o dia trabalhando em “empregos de merda” e estudando cursinho a noite. Tentei vestibular para Comunicação Social, Educação Física (2x), Design Gráfico, Geografia (3x) e depois de 4 anos formado eu entrei no curso de Geografia em uma faculdade privada. Durou apenas um semestre. Não achei justo pagar para estudar e o curso me pareceu um pouco burocrático também. Nesse tempo eu comecei a pintar camisas com stencil, e algumas pessoas me incentivaram a fazer um curso de artes. Foi quando eu peguei algumas aulas de desenho com alguns amigos e, estudando por conta própria, consegui passar no vestibular da UEMG, em 2011. Fui estudar Artes Plásticas.

Nesse tempo, entre o final de 2005 e o início de 2011 muita coisa mudou na minha vida. Eu andava já bem desanimado com o punk e com as ideias, comecei a caminhar por um trajeto meio estranho, mas tive meu primeiro contato com as ideias zapatistas e com o EZLN, e acho que esse foi meu ponto chave. Passei a ler muita coisa e a buscar informações sobre o movimento. Descobri uma literatura toda voltada para isso, aprendi o prazer da leitura e isso me ajudou muito a chegar em algum lugar, a tomar decisões, e a começar a traçar algum rumo. Em 2008, quando comecei a namorar com a Natália, nossos interesses eram comuns, e juntos compartilhávamos ideias, livros, filmes, música, e nesse período tive um crescimento pessoal enorme. Finalmente conseguia participar de alguma discussão, ser coerente com as ideias, ou ser incoerente e tentar reconstruí-la. Em 2012, quando fomos de intercâmbio para o México, minha mente se expandiu muito mais. Viver 4 meses em uma cidade marcada pela violência e pela corrupção, e ter contato direto com pessoas que resistem diariamente nesse contexto produzindo arte, música, política, ideias, me exerceram muita influência e eu consegui voltar para o Brasil com as ideias renovadas. Chegamos em BH, produzimos muitas coisas contra a Copa do Mundo e os Despejos, tivemos contato com o COPAC, fizemos vídeos para mandar para o exterior, praticamos muitas técnicas e ideias. Foi um momento de alta produtividade.

Em 2013, de transferência para a UFMG, tive contato com a educação, e minhas primeiras experiências em gravura depois das que tive no México. Já possuía bastante noção, mas na Casa da Gravura foi onde consegui compreender a interdisciplinaridade que está contida em cada tarefa que praticamos. Aprendi muito sobre química, física, biologia, matemática, educação física somente produzindo gravuras. Nas artes, aprendi um pouco sobre filosofia, sociologia, estética, história, geografia… Foi na prática dos afazeres que comecei a me interessar por estudar diferentes áreas, pois conseguia relacionar várias áreas de conhecimento em apenas uma tarefa.

Pouco tempo depois comecei a treinar rugby. Não comecei a me exercitar do zero, pois já pedalava e fui para o rugby porque a Natália se interessou primeiro. No início eu ficava muito perdido, mas passei a estudar os documentos oficiais da World Rugby e os estudos sobre as funções dos atletas. Boom. Descobri um novo mundo. Estudando rugby eu aprendi sobre alimentação, anatomia, respiração, potência (vários tópicos da educação física) e sobre física. A física está muito presente no rugby. Desde a forma como você passa ou chuta a bola, a forma como corre e a forma como deve ser um contato entre adversários. Me interessei pelas regras do jogo e acabei me tornando árbitro pela Federação Mineira. É impressionante como todas as áreas de conhecimento se conectam em nossos afazeres diários. Passei a contrair o abdômen nas tarefas mais comuns, como lavar louça, e isso me ajudou a ter mais equilíbrio para pedalar, e mais força para estabilizar exercícios isométricos. Contrair o abdômen e compreender os movimentos musculares e de respiração me fizeram produzir litografias com muito menos cansaço e muito mais precisão ao trabalhar na prensa.

Foi com essas informações que passei 2 anos sendo monitor no Atelier de Gravura da Escola de Belas Artes e foi nesse tempo em que comecei a me interessar pela docência. Foi um feedback muito positivo por parte dos alunos que estudaram a disciplina nos meus tempos de monitor que me incentivaram a seguir por esta área. E eu gosto disso. Ser professor/educador na educação formal e não formal, ser professor/treinador de rugby. Essas funções me trazem um certo prazer, pois assim compartilho meu conhecimento com todos que se interessam por isso.

Hoje compreendo que isso só foi possível quando percebi que o conhecimento não é algo rígido, que serve apenas para uma coisa. Meus tempos na escola foram péssimos, e eu achava um local muito careta. E, de fato, falta muito para a escola ser um lugar agradável para os alunos e para o corpo docente. Viver uma cobrança por uma produtividade que não faz sentido. Fragmentar todas as etapas do saber e colocar em caixas separadas só faz crer que o tipo de ensino que temos hoje não vale a pena. O sistema de ensino parece se ligar em políticas de governo, e ignorar os atores que estão presentes no cotidiano das escolas. Hoje eu sou professor, mas tenho pavor de escola. Ontem eu fui um aluno, sem entender a função da escola.

Há um grande vão de experiências que me fizeram compreender a importância dos estudos e do compartilhamento de ideias e de práticas. Ás vezes eu acho que eu entendi isso tarde demais, que eu poderia ter aproveitado muito melhor se eu tivesse descoberto isso antes. Mas acho que cada um tem seu tempo, suas experiências. Em algum momento as coisas passam a fazer sentido, resta a nós seguir estudando nesta grande experiência chamada vida.

Sobre o futuro

Uma das coisas que mais tem me incomodado nesses últimos dias é o fato de tentar compreender a minha total falta de interesse em seguir a carreira de professor. Já são vários anos trabalhando com educação não-formal, e desde o ano passado que estou no processo de me formar em licenciatura em artes visuais. E neste exato momento, penso que irei concluir apenas pelo fato de que eu devo terminar o que comecei, pois não tenho mais vontade de ser professor. Calma, não que eu queira parar de compartilhar minhas experiências, assim como o faço em programas, projetos sociais e em meu próprio atelier, mas me dá um certo pânico pensar no ambiente escolar, e como minha saúde fica debilitada ao tentar lidar com isso. Recentemente, em um momento de tensão, minha voz falhou dentro da sala de aula, enquanto tentávamos reprogramar 8 horas de oficinas, em um período de apenas 2 horas, pois a diretora da escola havia se esquecido que iríamos trabalhar naquela semana. Suei muito, e o desespero em tentar fazer as coisas de forma corrida não me deixaram trabalhar. Minha voz falhou, e por mais água que eu tomasse, já era tarde demais. Foram quase 2 dias sem conseguir emitir um som, e você não tem ideia do quanto eu queria falar. Algumas amigas ficaram preocupadas com a minha situação, e hoje eu fico lembrando que a minha voz também deixou de sair durante quase 2 semanas, neste mesmo ano de 2019.

Alguns fatores como stress, o desequilíbrio emocional/psicológico, afetam diretamente as cordas vocais, e eu não consigo desvincular parte dessa culpa ao processo educacional que eu tenho refletido por causa do meu TCC. Me causa um certo desespero pensar que eu, como um futuro professor da educação básica, terei que lidar com várias frustrações decorrentes do cotidiano escolar. Falta de estrutura, falta de materiais, falta de interesse, ser questionado pela instituição, por pais, por alunos, e por colegas de trabalho, carga horária de trabalho muito intensa, e compreender muito mais fatores negativos que positivos em todo esse sistema. Eu não quero buscar pequenas vitórias para me sentir satisfeito com meu trabalho, nem me dedicar a algo que traga essa carga de stress, que me fará gastar muito mais com terapias e tratamentos psicológicos, que com minha saúde preventiva.

Escrevendo meu TCC, começo a entender que a educação não-formal, apesar de insegura em termos financeiros, pois nem sempre há demanda, é algo que me traz satisfação. Um profissional precisa ter autonomia de trabalho, precisa ter liberdade de atuação. Somente assim se consegue desenvolver a ideia de uma educação que faça sentido.

A carga de pressão causada pelo ambiente escolar é algo que me desagrada, e eu realmente penso que ninguém deveria trabalhar nessas condições, ninguém.

Reflexões sobre proposta de material didático

Sobre a minha proposta intitulada “Experimento Desapego Cubista Coletivo” que foi planejada no último semestre, surgiram-me algumas questões no decorrer da aplicação, e que irei tentar refletir um pouco sobre. A ideia inicial era criar uma roda de desenho de observação com a composição ao centro, em que o suporte, o material, o sensitivo e o ângulo de visão do observador/desenhista alterariam a todo tempo, fazendo com que o processo seja coletivo e completamente despreocupado com a questão estética, focando muito mais no processo de observação e de produção, que no resultado em si. Essa troca de materiais era feita sempre com um comando meu, que estava na posição de professor.

A proposta foi colocada em sala de aula no ambiente universitário e aplicada para meus colegas de curso que, e eu agora compreendo, são muito mais abertos à experimentações artísticas que pessoas de outros contextos. Eu utilizei restos de materiais e de papéis, e distribuí diferentes canetas, canetinhas, marcadores, giz, lápis, etc. para todos. A princípio correu tudo muito bem, apesar de ter ficado um pouco longo demais. Após o término da atividade, alguns colegas fizeram observações interessantes e que me fizeram mudar, um pouco, a forma de aplicação da proposta. Alguns me falaram para dar autonomia de comando para outras pessoas da roda, para encurtar o tempo da proposta, para compreender outras formas de aplicação, e para adaptar tudo isso a um ambiente escolar.

O resultado foi bem interessante, mas um pouco longe do que seria o resultado esperado na minha proposta inicial. Como eu tinha imaginado, depois de um tempo, os observadores deixaram de prestar atenção na composição para se concentrar no que já estava desenhado no papel, e como eles iriam intervir naquele suporte dali em diante. Isso não foi uma surpresa para mim. O que me intrigou foram os relatos em que muitos já não queriam mais desenhar naquele suporte porque, assim, estragaria/atrapalharia o que já estava desenhado. Essa parte me deixou um pouco confuso, mas também intrigado, pois o desapego ao resultado era uma parte importante da proposta. Concentrar-se no processo, no que poderia ser feito, em como intervir dali em diante, era uma prática que eu esperava como forma de imaginação, de criatividade e uma fuga da questão formal da arte, com todas suas técnicas e pragmatismos. E acho que isso aconteceu até certo ponto, mas perdeu-se em determinado momento. A estética formal venceu.

Na última quinta-feira, 27/06, fomos a uma escola da rede municipal para aplicar, em um contexto escolar, as nossas propostas. Algumas dificuldades surgiram bem de imediato, como a quantidade de alunos, o formato/tamanho da sala e as carteiras. Foi completamente diferente trabalhar com 16 alunos universitários, estudantes de licenciatura em artes, e com 30 jovens da 8ª série. Por mais que eles foram bem receptivos comigo, com a proposta que eu levei e com meus colegas que estavam lá para me dar um suporte, conseguir uma organização foi complicado, sobretudo depois do recreio. A sala possuía um formato retangular, era estreita e a organização circular dos alunos ficou um pouco estranha. As carteiras ficaram grandes demais para esse círculo e, em certo ponto, atrapalharam a dinâmica da proposta. Foram distribuídos papéis aleatórios, marcadores, canetinhas, giz de cera e foi feita uma composição improvisada no centro da sala. Os alunos compreenderam bem a proposta, e estavam observando a composição enquanto desenhavam. A cada comando de troca de suporte, haviam gozações sobre os desenhos de outros colegas, e eu a todo tempo tentava lembrá-los que beleza é subjetiva, que depende de cada um, e que a beleza estética não era uma preocupação que devíamos ter ali, naquele momento.

Alguns compreenderam e seguiram fazendo a proposta, mas grande parte estava mais preocupada em encontrar “defeitos” no desenho alheio que realizar a proposta em si. Não que tenha sido frustrante, mas eu realmente esperava outra coisa. A questão de desenhar “bem” ou “mal” nunca me importou, e isso não faz parte das propostas que eu coloco nas oficinas que eu dou. Cada um desenvolve o desenho à sua maneira, e é isso que cria o seu estilo. É isso que cria a diversidade de traços, a diversidade de olhares e, para mim, é o que torna a arte interessante. Não me importo com rigor técnico em aulas de artes.

Em determinado momento, eu pedia para os observadores trocarem de lugar, para mudar um pouco o ângulo de visão, o ponto de vista. Foi nesse quesito que eu acho que as carteiras atrapalharam um pouco, pois com elas em círculos atrapalhavam a entrada e saída. Pode ter sido bom o fato de esse ter sido o tempo de descanso e de relaxamento entre eles, pois afastavam um pouco da proposta naquele trânsito caótico entre corpos, e isso é uma questão que eu ainda preciso pensar mais. Quase chegando na metade, eu nomeei um dos alunos para dar os comandos, e eles foram revezando entre si para dar 3 ou 4 comandos sobre a mudança de suporte e de material. Essa parte foi de total autonomia. Eles decidiam qual o comando, o tempo de permanência em cada comando, e quem seria o próximo a comandar. Achei bem interessante o fato de que não houve brigas e discussões nesse momento, e eles aceitavam numa boa o que o colega propunha.

Ao final da atividade, conversamos brevemente sobre o resultado, alguns ficaram com os desenhos, outros me devolveram. Os que ficaram, pegaram o suporte que eles mesmos iniciaram o desenho. Naquele momento já haviam várias intervenções e quase não dá para distinguir quem desenhou o que. Para eles, o que eles começaram era propriedade deles. Independente se outros interviram ali. O resultado do processo foi importante para eles. Talvez muito mais que o processo, que o desenvolvimento. E eu ainda preciso repensar a minha proposta para chegar a esse desapego. Acho que não consegui com nenhuma das duas aplicações. Ainda estamos presos ao formalismo técnico, à uma hierarquia estética. Mas fico feliz que tenha sido bem recebida por todos.

As fotos dos universitários e dos alunos do fundamental estão misturadas.

E Sobre a Educação?

Queria poder escrever sobre o sistema educacional de uma forma bonita e prazerosa. Desde 2009 dou cursos e oficinas, desde 2009 estou em uma faculdade, e desde 2013 que eu comecei a me interessar pela docência. Apenas em 2018 eu iniciei formalmente meus estudos para me tornar um professor e, desde então, comecei a refletir sobre a atuação no sistema educacional. E existem coisas que não me atraem nesse universo, e talvez, por isso, não conseguirei escrever de uma maneira bonita e prazerosa.

Fico lembrando quando estava na escola, ótimos anos. De 1994 a 2005 eu frequentei algumas instituições públicas, e sempre me achei um “bom aluno” até certo tempo. A partir da 7ª série, quando eu descobri o que era uma “Escola Plural”, implantada na rede municipal de ensino, eu simplesmente parei de me importar com a escola. Hoje eu entendo o quanto fiquei defasado em várias questões, e isso me custou muitos anos de cursinho para aprender o que eu nunca aprendi. No meu terceiro ano do ensino médio fui parar no Colégio Soma, privado, com aquela promessa de ser aprovado no vestibular da UFMG. Aprendi o que era a UFMG quando eu estava estudando no segundo ano, e minha irmã foi prestar vestibular. No Soma, consegui ir mal em quase todas as matérias, sempre pegava recuperação em várias disciplinas, e até hoje não sei como consegui formar. Foi um período muito pouco proveitoso, e se eu soubesse o que viria nos anos seguintes, teria feito tudo de forma diferente.

Em Julho de 2018 eu iniciei os estudos em Licenciatura em Artes Visuais, continuidade de estudos do meu Bacharelado em Gravura/Litografia. Ao mesmo tempo, trabalhava dando oficinas de arte em uma Unidade de Semiliberdade das Medidas Socioeducativas, dava aulas de xilogravura e serigrafia em meu atelier, e comecei a acompanhar duas escolas da Rede Estadual de Ensino. Uma delas é uma escola grande, famosa, conceituada, estruturada, bairro nobre, muitos recursos, etc. A outra é uma escola de bairro, porém não periférica, situada a duas quadras da minha casa. Posso passar uma eternidade aqui citando diferenças estruturais entre as escolas, mas irei focar na parte que me importa: as pessoas. As pessoas são aquelas que fazem parte da comunidade escolar como um todo, que participam do cotidiano e que, querendo ou não, fazem a escola acontecer. São professores, funcionárixs e alunxs, e eu fico tentando perceber/entender como elxs atuam nesse espaço/tempo.

Apesar da diferença berrante entre as duas escolas, tenho percebido muitas similaridades quando o assunto são as pessoas. Professorxs desmotivadxs por diversos motivos, funcionárixs desmotivadxs por diversos motivos, e alunxs desmotivadxs por diversos motivos. Motivos para a desmotivação é o que não falta. E eu entendo esse sistema indo cada vez mais para o buraco. Não é de hoje que esse formato que chamamos “escola” não funciona. A escola não é atraente, e não oferece mudanças em nenhuma perspectiva. Vejo com frequência alunxs de ambas escolas comparando o local com uma prisão. E eu entendo bem isso. Ali é um local de limitação de liberdades, onde há regras, muitas vezes controversas, e nada daquilo ali dialoga com xs alunxs. Digo isso com clareza, pois entendo que o ambiente escolar também não me atraía quando jovem. Fui entender que era preciso estudar e comecei a buscar conhecimento depois de muitos anos de formado, e hoje, com 31 anos, começo a compreender onde a escola erra. Nas salas de aula vejo várias matérias desconexas, uma falta de interesse dxs alunxs no que está sendo exposto, e uma ideia de que nada daquilo ali importa. A maioria dxs alunxs fazem prova sem nem ler, simplesmente marcam qualquer resposta. A maioria dxs alunxs não se importa com o que x professorx está ensinando, porque nada daquilo ali vai fazer diferença. De fato, tive dificuldades com matemática por muitos anos, até compreender os locais onde eu poderia aplicar uma fórmula matemática. Com a física, a mesma coisa. Também com a química. Também com a biologia, geografia, história. A maioria das disciplinas escolares nunca fizeram sentido para mim quando jovem, e eu só fui compreender na necessidade e na prática, onde esses conhecimentos são importantes.

O formato das Escolas que eu acompanho são muito parecidos. Várias matérias com vários conteúdos, provas bimestrais, recuperação, várixs alunxs fora de sala, várixs alunxs que não levam material, várixs alunxs que nem sequer tiram a mochila das costas, várixs alunxs sendo punidos por indisciplina. E eu entendo perfeitamente a indisciplina. Imagino que eu seria um desses que está de saco cheio disso tudo, e compareço à escola por obrigação, ficaria torcendo para chegar logo o horário de intervalo, e depois a hora de ir embora. Nem sei se o que escrevo faz sentido algum, mas escrevo para que um dia eu chegue a algum lugar com isso.

Na Universidade tenho várias aulas sobre educação, e sistemas educacionais, e formas de entender a docência, e a importância da arte no ensino. Mas tudo segue muito distante da realidade que eu experimento. Muitxs professorxs nunca entraram em uma sala de aula de uma escola pública, e os exemplos que trazem sempre são de escolas construtivistas, dessas super elitizadas, como se fosse igual lidar com problemas de ricx e problemas de pobre. Escrevo de uma forma bem xula, não me importo. Aqui são palavras que saem para tentar entender meu papel nessa história. O que estudamos no meio universitário não tem quase nada a ver com as escolas que frequento. Parece ser tudo muito utópico e lindo ao discutir o papel da arte nas escolas, mas as próprias escolas limitam muito a atuação da arte, e talvez não compreendam a importância da arte como campo de conhecimento. Arte não é fazer decoração de festa junina. Eu entendo a arte como um local de construção de sentido, de expressão, de aprendizado e de compreensão do universo, da sociedade e de seus fenômenos de uma maneira crítica. Talvez eu tenha demorado muito a compreender isso dessa forma, e não acho que seja fácil a compreensão por pessoas que não estão ligadas à isso. No ambiente escolar os campos de conhecimento sempre parecem muito distantes entre si, sem diálogo algum entre eles, e realmente deve ser um saco, um porre, ver essas aulas que nada tem a ver com a outra. Não estou falando aqui de existir recursos audiovisuais, aulas online, tecnologia de ponta para realizar aulas, mas de entender que as diferentes disciplinas podem trabalhar assuntos semelhantes, pois tudo está conectado. Com o tempo tudo foi dividido em diferentes áreas, e sumiram as relações entre o que aprendemos e o que vivemos. Fico pensando em Leonardo da Vinci, que exercia diversos ofícios e foi importante para várias áreas: Engenharia, Medicina, Artes Visuais, Botânica, Teatro, Arquitetura, Matemática, e vários outras áreas que hoje não dialogam entre si. Talvez na época de Da Vinci, o conhecimento geral fosse importante e os campos de conhecimento estavam conectados, e tudo que se ensinava construía um sentido, e fazia sentido.

Mas o sistema escolar limita tudo. Tudo tem seu tempo, suas regras, nada faz sentido, nada é atrativo e segue um formato que sufoca muito mais que liberta. Um ambiente fechado, onde xs alunxs não possuem nenhum senso de pertencimento, destroem todo o equipamento, funcionárixs irritadxs todo o tempo porque não aguentam mais a estrutura, e corpo docente de saco cheio sem entender as razões.

Escrevo aqui porque quero tentar entender o que desejo fazer, o que desejo tentar, e como eu posso ajudar a mudar algo. Não vou mudar o mundo, e nem quero. Não me preocupo com Mercado de Trabalho, pelo contrário, estou pouco “me fudendo” para isso. “Mercado de Trabalho” é um termo que me lembra pessoas acorrentadas a um emprego bosta, fazendo o que não gosta, ganhando stress, em troca de um dinheiro qualquer. “Mercado de Trabalho” para mim segue a lógica do nascer, estudar, trabalhar, morrer; e seguir a vida assim, torcendo para chegar o fim de semana ou as férias, porque somente nesses contextos é que se aproveita a vida, e o resto é trabalho e chatice. Eu gostaria que as pessoas fossem livres para fazer o que quiser, e ser o que quiser, e buscar, da forma que quiser, sua felicidade. Começo a compreender que esse formato de escola talvez sirva para se adaptar a esse modo de vida medíocre, pois segue a mesma lógica. Passar o dia em algo que não gosta, torcendo para o fim do expediente chegar logo, torcendo para chegar o fim de semana, e depois reclamando da segunda feira; tudo isso em troca da eterna promessa de uma vida melhor.

Acho que meu texto saiu um pouco do que eu imaginava. Meus devaneios sobre a educação talvez não terminem nunca. Esse formato não me atrai, e eu já entendi que não atrai xs alunxs, nem xs professorxs. Todo mundo reclama, e não pode propor mudanças, porque as mudanças vão criar pessoas livres, e inteligentes, e críticas. E ninguém quer isso.

O que fazer então? Como posso atuar na educação de uma maneira diferente?

Fico pensando que quando for professor terei muito trabalho. Eu sei que vou ganhar mal. Eu sei que irei ficar estressado, revoltado, cansado da estrutura, que vou reclamar por trabalhar muito, torcer para chegar o fim de semana, e reclamar da segunda feira. Eu sei que vou ter um discurso bonito, de conseguir construir sentido com poucxs alunxs, e isso vai fazer valer a pena todo esse processo. Estamos adaptados à isso. Eu estou adaptado à isso.

Ainda tenho tempo, e há muitas coisas para repensar e refletir. Até lá, farei o que puder, apesar de ainda não saber como.