Lapsos de Tempo #17

Tempo

A vida nada mais é do que um tempo que passa. Mas acho que é importante a gente perceber e passar o tempo junto com ele. Talvez a vida assim tenha um sentido.
– E se eu me sentar aqui, consigo ver o tempo passar?
Passam carros, pedestres, animais. A luz muda, as sombras caminham. Eu consigo perceber o vento apenas por conta do balançar das folhas, dos galhos, da sujeira da rua.
Olho para o relógio, mudam os ponteiros que apontam para números que marcam que horas são. O tempo passa rápido quando deveria passar devagar. E vice-versa.
Acho que tento perceber algo para provar se ainda estou vivo, ou se apenas vejo a vida passar enquanto perco tempo. Eu digo que estou preocupado.
– Isso me preocupa!
Mas ninguém me escuta. Não há pessoas tentando perceber o tempo passando.
Imagino que essas pessoas apenas vivem sem se importar com isso.
Talvez, em algum momento, elas se olham no espelho e veem rugas na pele, cabelos brancos. Talvez sintam que estão sem fôlego, que o corpo demora mais tempo para se recuperar de uma enfermidade, que o álcool ingerido embriaga muito mais rápido. Sem falar na dor de cabeça do dia seguinte.
– Maldita dor de cabeça!
Se pensarmos no tempo que passa, pode ser que estejamos perdendo esse tempo.
Talvez tudo isso seja perda de tempo. Pensar, perceber, indagar.
É vida que passa. Será que isso pode mesmo levar à loucura?
– Dar sentido a vida pode levar à loucura, mas uma vida sem sentido é uma tortura da inquietação e do vão desejo. É um barco que anela o mar, mas o teme…
De onde estou não vejo o barco, apenas temo o mar.

La Idea, 2025 – Olympus Pen-EE, Fuji 200

Ow!

Com licença Senhor, alô alô. Me desculpe te interromper, mas sua carteira caiu!
Senhor, sua carteira caiu no quarteirão de trás, vim avisar-lhe!
Diaxo, sai fora daqui!!
Ow, Senhor, não queria te incomodar, mas preciso te avisar da sua carteira, ela está no chão!
Cala a boca!!!
Eu queria pegar e trazer, mas ela tava muito cheia e pesada, eu não dei conta, ia acabar fazendo bagunça. Eu imagino que o conteúdo dela deve ser importante para o Senhor, por vim correndo te avisar!
Maldito seja!!!
Senhor, com licença, não queria atrapalhar seu percurso, mas considero de extrema importância que o Senhor volte e pegue sua carteira que caiu no chão. Aqui é rua, qualquer um pode roubar.
Calado!! Me deixe em paz!!
Senhor, eu sou muito paciente, posso ficar repetindo várias vezes aqui, mas não dá para o Senhor me ignorar assim, eu vim correndo, na maior boa vontade.
Vai embora!!! Vou te chutar daqui!!
Ow, não fiz nada demais, vai me chutar porque?? Eu hein? Não posso nem mais ser gentil.

La Idea, 2024 – Olympus Pen-EE, Kodakcolor 200

Conversando sobre processos e seus tempos

Eu sou uma pessoa lenta para a maioria dos projetos que eu começo a produzir. Conseguir terminar um quadro é um custo, e eu exerço toda a paciência do mundo para conseguir lidar com a tinta acrílica, espero secar, crio efeitos, e esse processo às vezes se alastra por meses, sobretudo se for uma pintura grande. Neste exato momento estou trabalhando com um painel de 110×70 cm, e enquanto esperava as aguadas secarem, pintei 3 quadros menores, de 20×20 cm.

Com gravura é a mesma coisa. Tardo muitos dias/semanas/meses para conseguir terminar uma gravação de uma matriz na madeira. O processo xilográfico para mim é bem lento, com muita concentração. Já demorei quase 1 ano para fazer uma única gravação, pois ficava dias sem dar continuação ao processo da cavucada.

Agora, me impressiona o o quanto sou rápido com gravação em linóleo e com pintura em aquarela. Não sei se são boas habilidades ou falta de paciência, rs, talvez uma mistura dos dois. Para o linóleo eu penso que é um material mais tranquilo de se trabalhar, que dá possibilidades mais objetivas. Para a aquarela, penso que é um conhecimento muito superficial que ainda tenho sobre a técnica, e talvez uma falta de paciência também. Minha migs Prisca Paes sempre diz que devemos ter paciência com a aquarela, seu tempo de secagem, sua forma de trabalho, e eu fico pensando porque eu insisto em tentar fazer rápido.

Coisas da vida de um artista, difícil explicar esses métodos. Mais fácil tentar exercitar novos hábitos de produção. Dar mais tempo ao tempo (muito clichê, mas tudo a ver).