Conheci o personagem Mars Blackmon assistindo ao seriado “Ela Quer Tudo”, dirigida por Spike Lee. É uma série adaptada do filme homônimo dos anos 60, dirigido e estrelado por Spike Lee também. A série/filme gira em torno das experiências sociais, amorosas, profissionais de Nola Darling, e Mars Blackmon é um dos personagens coadjuvantes.
Comecei a ver a série por conta do visual do personagem Mars, com Anthony Ramos fazendo seu papel. Messenger com single speed, visual a caráter bem estiloso, cap de ciclista, personalidade própria, o personagem com quem mais me identifico dos três coadjuvantes. Essa imagem me fez querer acompanhar a série e, posteriormente, ver o filme.
O filme é diferente, traz elementos do contexto da época, e Spike Lee soube aproveitar bem o tempo/espaço, e as discussões e reflexões que os acompanham, em cada cena. Ambos trazem reflexões sobre a vida na cidade, racismo, relações humanas, cultura. Acho que vale a pena assistir.
Esses stencil que eu fiz é uma homenagem a esse personagem, Mars Blackmon, e seu criador, Spike Lee.
Revisitando trabalhos antigos, achei essas fotos tiradas pela minha querida amiga Raquel Pinheiro. São dois posters produzidos com stencil, provavelmente nos anos de 2014 e 2015. Eu realmente curto trabalhar com referências fotográficas, retirando elas de contexto e focando numa expressão de algum personagem. Essa foto original possuía vários outros elementos, tudo em tons de cinza.
Não sei quem é o autor da fotografia, nem de onde retirei ela. Eu coleciono muita imagem digital, e faz mais de 20 anos que sou assim.
Vendo algumas imagens de 2011, me deparei com as fotos que tiramos nas aulas de Artes Plásticas lá na Escola Guignard. Na aula de criatividade da professora Júlia Panadés experimentamos muitas coisas baseadas nos registros de Saul Steinberg. Eram época divertidas, aprendi e desaprendi muito sobre arte e desenho. Me deu saudades dessa época. Seguem registros da sala de aula.
As fotografias e os trabalhos foram feitos por váries alunes, colegas de estudo e hoje colegas de profissão, de atuação, de lamentos, rs. Saudades dessa época.
Desde 2019 que eu estou trabalhando em uma matriz de xilogravura com a temática de imigração. Eu vi essa imagem de um cara pulando a cerca que separa Chiuhuahua do Texas nos idos de 2009, quando ainda assinada Le Monde Diplomatique. 3 anos depois eu fui morar nesse mesmo local, Ciudad Juárez, Chiuhuahua, México. É uma relação de cidade bifronteiriças e binacionais. Nunca tinha ouvido falar de relações deste tipo. Os habitantes passam e voltam a fronteira todos os dias, pois moram no México, trabalham nos estados Unidos, compram coisas nas duas cidades, se divertem nas duas cidades. É bizarro. É uma questão bem diferente se pensar nesse muro/cerca vergonhosos que foi construído ao longo do Rio Bravo, que divide os dois países.
Tardou muito tempo até que eu conseguisse concluir essa gravação. Ela tem detalhes precisos em apenas parte dela, mas a questão é que eu sempre deixava outras tarefas para serem feitas antes e sempre adiava a conclusão desta matriz.
A madeira utilizada foi um compensado de pau marfim, no tamanho um pouco maior que um A4. Utilizei basicamente goivas tipo faca, e usei goivas em V e em U para fazer pequenas incisões ou remover o fundo.
Movimentos migratórios sempre existiram e sempre existirão e não será um muro que irá eliminar esse processo. Mx/US, Ceuta, Palestina/Israel, Grande Muralha, Muro de Berlim, construções que trazem vergonha à humanidade.
Os vídeos com os processos de gravação e de impressão podem ser conferidos no canal de Youtube ou no IGTV do Instagram.
Mais um desafio laboral. Uma placa para um senhor de 91 anos de idade que decidiu montar um engenho de cana de açúcar para fazer rapadura lá em Araçuaí. Utilizei duas tábuas de Cedrinho, e o tamanho total é de 120cm x 60cm.
Escolha da madeira na madeireira
Horas de trabalho que foram subestimadas pela minha pessoa. Muita dor na colunas, nos ombros e no antebraço, além dos inúmeros calos nas mãos.
O tio e o avô da minha esposa/companheira me ajudaram no processo. Eles tinham mais ferramentas, espaços e conhecimento com trabalhos deste tipo. A ajuda deles foi essencial para a conclusão e acabamento do trabalho.
Mas o resultado ficou bem legal. A madeira foi tratada com cera negra queimada, lixa e verniz.
Hoje fiz minha primeira Live. Foi interessante, foi 1 hora com um processo de impressão de uma xilogravura, cuja matriz foi gravada já há algum tempo mas nunca foi impressa. Algumas pessoas assistiram, trocaram uma ideia, perguntaram sobre o processo, sobre dúvidas e foi bem interessante. Como foi a primeira, acho que algumas coisas ainda podem melhorar, hahahaha, mas foi um processo importante nesse tédio chamado isolamento social, hahaha. A Live completa está disponível no IGTV do meu Instagram ou a seguir:
Pouco antes de iniciar o isolamento social em BH, minha querida amiga Fabi me encomendou um trabalho que seria um presente para o marido dela. Ela me passou algumas referências de cenas de filmes, e queria fazer um mosaico, ou algo parecido, com as cenas. Eu dei a ideia de pegar essas cenas e colocar todas no mesmo cenário, como se tudo estivesse acontecendo ao mesmo tempo. Eu tinha uma ideia de uma coisa meio “Onde está o Wally” em que cada cena seria descoberta em cada local do cenário. Pensei em fazer tudo digital, afinal sairia mais rápido e mais barato, mas conversando com ela chegamos a conclusão de que uma pintura seria bem melhor, mais personalizado, mais exclusivo, mais chique. Tudo combinado para iniciar o trabalho e tivemos que adiar a produção, porque faltava comprar tintas, pincéis novos e um painel, e as lojas todas estavam fechadas.
Depois de algum tempo, e com as lojas voltando a funcionar com sistema de entregas, decidi reabrir meu atelier e retomar meu trabalho. Consegui encomendar o painel no tamanho que eu precisava e consegui também algumas tintas (não consegui todas que eu queria porque a distribuidora não tava conseguindo entregar pras lojas). Dei início à pintura. Fiz várias marcações com lápis HB, iniciando com um gradeado de leve, e depois marcando as linhas que funcionariam como guia de perspectiva. Logo após, fiz aguadas de preto bem clarinho, bem diluído, para marcar onde iria cada elemento arquitetônico que eu tinha colocado no esboço. Também aproveitei para fazer uma aguada de azul no local onde ficaria o céu.
Marcação de lápis e céu com aguada
Aguadas fracas para marcação arquitetônica
Depois de ter as marcações de aguada completamente secas, comecei a trabalhar com a tinta acrílica menos diluída ou pura, aplicando efeitos de pincéis em diversos lugares. Eu gastei muito tempo, talvez mais do que eu deveria gastar, trabalhando o fundo e o cenário. Dei uma caprichada em vários detalhes e tentei colocar várias habilidades em prática. Já faziam alguns meses que eu não pintava, e estava um pouco sem prática.
No meio do processo eu tive algumas questões com algumas limitações que eu tenho em relação à cor. Para mim, é muito difícil clarear/escurecer ou fazer uma passagem entre duas cores de forma suave. Eu consigo pensar o que pretendo fazer, mas quando tento materializar, sai de forma diferente e acaba ficando meio grosseiro. O uso do preto e do branco para criar alguns efeitos de luz e sombra não deu certo nesta pintura, sobretudo em detalhes minuciosos de rostos. No decorrer da pintura, minha esposa Natália me ajudou com algumas questões e chegamos a conclusão de que não fazer os rostos ficaria melhor. Como artista, é difícil compreender as limitações técnicas, pois sempre achamos que tudo é possível de alguma forma. Mas foi importante saber colocar um fim ao processo de pintura, abrir mão de algumas questões para ter outras. Neste caso, eu abri mão dos detalhes dos rostos para ter uma pintura mais delicada, menos grosseira.
Enfim, foi uma pintura cansativa, mas que me deu muito orgulho de fazer. Por ser daltônico, as pessoas dizem que eu costumo ser mais ousado na utilização das cores, e essa é uma característica que eu gosto. Ousadia. O processo foi paralisado em diversas ocasiões, tive que conciliar com outros trabalhos que estavam pendentes também e eu não poderia estar mais feliz.
Pintura finalizada
Acho que eu só tenho a agradecer à Fabi (e Fábio) pela confiança e pela paciência, à Nat, minha companheira, pelo diálogo e sugestões, e à todos que me apoiam de algum forma. O vídeo com o processo de produção pode ser conferido logo a seguir.
Não é nenhum segredo o fato de que as tattoos estilo Old School são as que mais me agradam. É incrível o fato do artista sintetizar vários elementos em traços, sobras e coloridos simples. Claro que existem diferentes níveis de detalhamentos, e cada artista acaba colocando características próprias nas suas criações, mas isso não deixa de ter um papel especial no meu gosto por tatuagens. O estilo Old School, também conhecido como tradicional americano, teve sua origem com o lendário artista Saylor Jerry que, alistado na Marina dos Estados Unidos, teve contato com as tatuagens orientais e após a sua “aposentadoria” passou a tatuar os próprios marinheiros no Hawaii, com temáticas presentes na vida destes e com equipamentos e cores que haviam disponíveis na época. Hoje é um estilo muito disseminado, com várias ramificações, mas o tatuador que trabalha com Old School sabe muito bem porque o faz, e deveria conhecer bem sua história e como fazer bem feito.
Esses dias comecei a fazer uma composição em perspectiva para mostrar em uma de minhas aulas de desenho virtuais como funciona o processo. Eu gostei tanto da composição que decidi continuar desenhando, transformando o que era um esboço em uma pintura digital, feito com o aplicativo Pro Create. A imagem foi produzida com registros manuais ou no “olhômetro”, portanto, as linhas tortas ou côncavas se fazem presentes. Utilizar de proporções matemáticas e exatas não foi uma solução na qual eu quis trabalhar.
Foi bem massa esse processo mais longo de um meio digital, tentei fazer detalhes bem minuciosos, trazer elementos das cidades grandes, graffitis, pixações, stickers, edifícios, propagandas, antenas, etc. O processo de desenho e pintura foi bem longo mesmo, e logo após o esboço, eu comecei a aula de desenho, para algumas explicações sobre o processo. O time-lapse do vídeo pode ser visto no link abaixo.
Essa ilustração foi feita para homenagear o grandioso ciclista Marshall Taylor (Major Taylor), que conseguiu bastante notoriedade nas provas mais duras do ciclismo na época, enfrentou e combateu o racismo estrutural (apartheid) existente na época, e conseguiu registrar seu nome na história tanto do esporte quanto na do movimento negro. Um exemplo a ser seguido e admirado. O racismo não acabou. No esporte, tanto amador como profissional, vemos casos de racismo até mesmo entre integrantes da mesma equipe. Em 1896, Major Taylor foi expulso das competições de ciclismo em Indiana, USA, por obter mais vitórias e melhor desempenho que os atletas brancos. Pouco mais de 100 anos se passaram, e ainda vemos casos de situações similares.
Revisitando antigas pinturas, não me lembro muito bem de quando essas foram produzidas. São reproduções de capas de álbum da banda The Smiths. Todas feitas com tintas acrílicas em painel de 20x20cm. Esses formatos pequenos me agradam bastante, sobretudo para treinar técnicas. Essa série de 4 pinturinhas estão todas na casa da minha irmã, que é fã de Smiths e Morrissey.
Aproveitando 3 telas de pinturas pequenas, de 20×20 cm, e várias fotos que tirei a partir de edifícios altos no Centro de BH, finalmente retomei minhas habilidades de pintar com tinta acrílica. A ideia é representar essa cena comum na paisagem urbana Belorizontina, onde topos de prédios (rooftops) levam os nomes daqueles que ousaram escrever por ali, juntamente com essas antenas, emissoras e receptores das diferentes frequências oriundas de sinais diversos.
As pinturas podem ser adquiridas através da nossa Loja Online. O vídeo com parte do processo de produção de uma das pinturas pode ser visto a seguir. Saludos!
Eu e minha companheira, Natália, estávamos com a ideia de fazer umas peças de Jogo Americano aliando os estudos dela de costura com meus estudos de arte/serigrafia. Já tem alguns meses que começamos a planejar, e o projeto foi caminhando bem lentamente. Para começar o projeto, criamos modelos de corte e costura de jogo americano, pesquisamos um bom tecido para essa finalidade e compramos para deixar tudo pronto.
Nosso segundo passo foi trabalhar na arte da estampa. Como queríamos algo feito de forma bem artesanal, optamos por utilizar arte geométrica, desenhada com régua para criar o estilo. Busquei referências nas padronagens, principalmente de, Kayapó-Xikrin e Asurini para criar a estampa do Jogo americano. As referências que eu utilizei estão presente no livro “Grafismo Indígena”, organizado por Lux Vidal.
Depois de pesquisada as referências, chega o momento de criação. Queríamos um desenho geométrico, que ocupasse toda a borda do Jogo que se fosse uma faixa contínua. Optamos pelas linhas paralelas em diagonais, alterando a espessura da linha, e separadas por triângulos chapados. Uma alusão ao cesto Pacará, com as tramas bem demarcadas. Todo o desenho foi feito apenas utilizando lápis e régua, sem nenhum tipo de processo digital.
Depois de ter o esboço pronto foi o momento de criar o laser film para poder gravar a tela de serigrafia. Foram utilizados 2 papéis vegetais tamanho A3 colados juntos, para conseguir obter um desenho grande. Todas as linhas foram feitas com canetas POSCA (1M, 3M e 5M), pois é um dos poucos materiais onde você consegue um preto opaco em papel vegetal. Infelizmente o vegetal, por ser muito fino, costuma enrugar um pouco devido à carga de tinta da caneta POSCA.
Depois de gravada a tela é hora de decidir as cores que iremos utilizar. Os panos que compramos são vermelho e azul marinho, e a ideia era usar a mesma cor para estampar nos dois. Decidimos pelo dourado pois chamaria atenção em ambas cores, ficaria bem legal e ainda daria um ar mais elegante pro objeto. Utilizei tinta Gênesis Hydrocril e uma tela 44 fios, um rodo amarelo e o mesmo berço de camisas com cola permanente para fazer as estampas. Ainda não fechamos a costura para dar o acabamento, mas fiquei tão empolgado com o resultado desta etapa que decidi escrever esse post antes mesmo de finalizar.
Em breve coloco aqui o resultado da costura com o acabamento todo certinho e se tudo der certo, estará disponível para venda na Loja Virtual. Grande abraço e espero que tenham gostado.
Já está disponível no meu canal do YouTube a terceira aula online e gratuita desta série que estou gravando durante o isolamento social.
Trata-se da primeira de três técnicas de registro de impressão que irei ensinar. Essa é a mais simples delas. O registro é fundamental para que sua tiragem seja regular, e também para facilitar o encaixe de outras camadas, se houver.
Já tem um tempo que estou fazendo um sketchbook para treinar técnicas de pintura com aquarela. Tenho pegado muitas dicas com amigos que produzem, e tenho treinado bastante também. Eu utilizo muitas referências visuais para observar detalhes, e fotos de indígenas são referências que eu gosto muito. Pelo tom de pele, pelo cenário, pela luta e pela história, marcada por opressões, glórias, oralismo, políticas, naturalismo e misticismo. Muito aprendemos com eles, mesmo que distantes.
Já tem um tempo que estava lendo sobre a situação das etnias indígenas nessa época de pandemia em uma matéria publicada no jornal El País, e uma das fotografias publicadas me chamou muita atenção. Não sei quem é o fotógrafo (se alguém souber, por favor, me avise para que possa dar os devidos créditos), mas enxerguei uma fotografia com muita disciplina e consciência sobre o processo pelo qual estamos todos passando.
Na fotografia estão dois indígenas em uma canoa, navegando em um rio. Uma foto um pouco escura, dá um aspecto meio sombrio. O rio com muito material orgânico. Ao fundo, mangues desfocados. A pessoa que está situada à frente da canoa está remando, guiando. A pessoa que está sentada ao fundo, parece estar descansando, mas ainda um pouco alerta. Ambos usam máscaras descartáveis, e o que está ao fundo também usa luvas. Vejo essa foto e me dá uma sensação de confiança que eles têm entre si, em relação ao caminho, em relação à pandemia e em relação à tarefa que eles irão executar (estão levando alimentos, coletando sangue, levando informações, são médicos, curandeiros?). Talvez eles saibam o que possa estar por vir. A fotografia deve ser de março ou de abril, não me lembro. A situação, para todo o país, piorou muito de lá para cá. E com as etnias indígenas o processo parece estar muito pior.
Esta fotografia me chamou tanta atenção que decidi me dar ao trabalho de usá-la como referência para treinar aquarela. Claro que, com as minhas limitações, consegui chegar um pouco onde queria, apesar de não ter conseguido reproduzir a mesma sensação que eu senti ao observá-la pela primeira vez enquanto lia sobre a situação da pandemia na Amazônia. Talvez pelo meu daltonismo, pelo meu amadorismo na técnica ou pelo meu desenho de observação de pessoas (que eu ainda acho insatisfatório), ficou um pouco aquém do que eu esperava. Mas treinos servem para melhorar essas questões, e por isso me sinto seguro de mostrar minha pintura aqui nessa mídia.
Hoje tive a sensação de que deveria escrever sobre isso. Assisti ao último episódio de Greg News, e entendi que a situação das aldeias não está nada boa. Muitos indígenas já faleceram. Muitas lideranças, professores, anciões estão indo embora. O genocídio dos povos indígenas chega por meio de coronavírus, grileiros, posseiros e diversos invasores, que tentam tomar as terras à força, com respaldo do Ministério do Meio Ambiente. Nós, como artistas e ativistas, não podemos deixar que isso fique assim. Ainda que em micro-escala, poder representar esse momento e falar sobre ele já é alguma coisa. No vídeo abaixo, Gregório Duvivier fala muito bem sobre o que está acontecendo, com fatos e fontes, e ainda solicita auxílio para etnias urbanas e semi-urbanas, que estão muito expostas ao coronavírus, e a ideia é evitar que povos inteiros sejam dizimados. A violência vem de várias frentes e se podemos fazer algo para ajudar, faremos.
Recentemente tenho feito alguns testes de impressão de linoleogravuras que eu já tinha gravado faz um tempo. Trata-se de uma gravura de bandana e outra de uma mãe zapatista amamentando o filho. Inicialmente as matrizes foram concebidas para serem impressões distintas, gravuras diferentes, mas entendi que elas funcionavam bem melhor quando juntas em uma pequena experimentação que fiz.
A matriz da bandana foi bem complexa de gravar e o processo foi bem longo. São muitos detalhes e eu usei a goiva micro V da Speedball para que a linha ficasse bem fina e os detalhes bem delicados.
A matriz da Madre Zapatista foi mais tranquila de gravar. É uma matriz com fundo removido, quase impossível de fazer registro se associada à outra matriz, e eu cheguei a fazer alguns testes de impressão utilizando papel amarelo Canson, tinta vermelha e uma prensa de tortillas mexicanas. O resultado me agrada, mas depois que eu fiz o teste de impressão com as duas matrizes juntas, o resultado é muito mais satisfatório.
Ao final, consegui isolar uma parte da impressão da bandana, e depois encaixar a matriz da Madre meio que no olhômetro. Fiz testes em três qualidade de papéis distintas: Hahnemühle, Arroz Japonês e Fibra Artesanal. Todas as impressões finais foram feitas com tinta de xilogravura a base de água e a impressão foi feita com baren, de forma bem artesanal. Todas as cópias disponíveis já estão à venda na loja online, com frete grátis para BH.
Toda terça-feira de noite eu participo de um Laboratório de Fanzine online, ofertado pelo Estratégias Narrativas e ministrado pelas minhas amigas Bianca de Sá e Mariana Zande a.k.a Papelícula, e ontem foi um dia interessante onde começamos fazendo um exercício de escrita, para desembolar as ideias de maneira livre durante 10 minutos, e eu escrevi sobre o que eu fiz durante meu dia. Segue a transcrição na íntegra:
“Hoje eu passei o dia testando cores. Já tentou fazer mistura de cores com tintas não-primárias e sendo daltônico? É um sistema muito complexo. Para fazer o verde sabemos que se utiliza o amarelo com o azul. Mas temos amarelo-limão, amarelo-ouro e amarelo-ocre. Temos azul-marinho, azul-médio, azul-claro, azul-petróleo. Pode-se misturar todos que o verde que tenho em mente nunca sai. Adiciono branco opaco e branco transparente, adiciono preto, adiciono aditivo para a tinta ficar menos espessa, nada. Não chega. Vou para a tentativa de criar um azul-turquesa. É um azul que também é verde. Mas que não há definição precisa sobre o que seja. Alguns enxergam uma coisa, outros enxergam outra. Parece com o mar, mas parece com uma piscina. Eu nunca vi uma pedra de turquesa, e fico pensando se parece com turquesa. Não dá certo, chego perto, mas ainda muito diferente. Alguns dizem que falta mais verde para chegar na cor turquesa, outros dizem que falta mais azul. Enquanto isso eu enxergo tudo cinza. Um amigo me disse que os tons azulados vibram na mesma frequência que os tons cinzas. E eu paro para pensar porque se chama verde-turquesa, já que não vibra no mesmo tom dos verdes. Desisto, vou tentar fazer um marrom. Vermelho com preto, fica bonina. Adiciono amarelo, adiciono verde, não fica marrom. Eu vejo um bonina e vejo um marrom. Não sei diferenciar. Penso em um pote de açaí. É marrom? É bonina? É roxo? Toda loja que vende açaí tem as paredes pintadas de roxo.”
Meu texto terminou aí pois se acabaram os 10 minutos de escrita desembolada. Poderia escrever muito mais sobre o tema, mas por hoje é isso aí.
Neste mês de Junho estou retomando as atividades em meu atelier. Fiquei um tempo parado, tentando trabalhar em casa e, desde o início deste mês, iniciei uma série de reformas no meu espaço de trabalho. Ainda precisando aquecer as técnicas, andei treinando algumas coisas para retomar as atividades, reorganizar os espaços, ver os materiais que ainda tenho disponíveis, o que ainda dá para usar, formas de trabalho e locais de produção. Isso tudo é um processo de reorganização para me adequar à rotina de trabalho novamente.
Uma das técnicas que andei treinando na serigrafia é a de POLICROMIA. Policromia é uma técnica de impressão em 4 cores básicas (ciano, amarelo, magenta e preto – CMYK) em que o resultado fica bem próximo de uma imagem fotográfica. A combinação destas 4 cores, consegue fazer com que nossos olhos enxerguem uma gama gigantesca de tonalidades. Desde 2014 que eu não trabalhava com essa técnica, e acho que foi um bom momento para testar meu conhecimento.
Impressão separada das cores Ciano, Magenta, Amarelo e Preto
A policromia é um conjunto de pontos, de diferentes cores e tamanhos, e é justamente esse efeito que engana os nossos olhos. É a forma gráfica do que podemos chamar de realismo na serigrafia artesanal. Como veremos nas fotografias a seguir, os pontos possuem diâmetros diversos, e nas fotografias utilizando uma lente MACRO, podemos ver detalhes da sobreposição destes pontos.
Desde que eu ingressei em uma faculdade de artes tenho o hábito de andar sempre com um caderninho, para desenhos rápidos, para anotações, para aulas. Foi um hábito interessante, pois quando retomo esses cadernos começo a me lembrar de vários momentos passados, de situações, de ideias. São ótimos registros de determinada época.
No início, meu cadernos eram bem desorganizados. Possuíam muitas anotações de aulas, resenhas de livros, fichamentos, pequenos desenhos, doodles, desenhos feitos em aulas entediantes, começava a desenhar de um lado, na outra página as informações já estavam de cabeça para baixo, comecei a compor a partir do fim algumas informações, e com isso já se passaram 10 anos de conteúdo confuso.
A caligrafia e o lettering são técnicas que eu sempre tive interesse, e em 2018 eu cheguei a pegar algumas aulas com o Leoni Paganotti, e pude aprender bastante sobre esse tipo de arte. Desde que as aulas terminaram, eu meio que tento treinar e aprender por conta própria, vendo vídeos no YouTube, vendo tutoriais, videoaulas e apostilas, e pegando muitas referências de escritores via internet.
Esse ano, e com o início do isolamento social, tive a ideia de criar meu primeiro caderninho (também conhecido como sketchbook) temático. Pescando essa ideia do lettering e da caligrafia, pensei que poderia fazer um sketchbook totalmente de palavras. Uma coisa recorrente na hora de treinar escrita, é justamente saber o que escrever. Portanto, eu tive a ideia de pedir sugestões das pessoas que me seguem no Instagram, e diariamente eu escrevi 2 sugestões, durante 25 dias corridos. Me coloquei essa tarefa pois queria me sentir um pouco produtivo nesse isolamento, já que vários trabalhos estavam suspensos e meu atelier estava fechado. Meu único compromisso foi escrever 2 palavras por dia. Eu fazia as páginas enquanto tomava café da manhã, escutando músicas. Algumas páginas foram feitas com mais tempo, outras com menos. Para algumas eu fiz esboço, para outras foi diretamente no marcador e no papel, sem preparação prévia.
Foi uma atividade bem interessante, e eu pretendo fazer outros sketchbooks temáticos.
O resultado pode ser visto nos destaques dos stories no meu Instagram, ou no vídeo abaixo, disponível no meu canal no YouTube.
Já faz um tempo que eu, juntamente com migs, temos um Clube do Livro. Não é que a gente siga os moldes tradicionais de todes lerem os mesmos livros pra gente discutir em um encontro, mas é uma justificativa para trocarmos e indicarmos leituras uns aos outros, encontrar para comer e beber, trocar ideias e se rolar da galera ler o mesmo livro, aí fica um encontro mais daora ainda. Apenas conseguimos realizar essa façanha do todes lerem o mesmo livro agora no isolamento, pois fizemos votação de pdf’s, onde cada um indicou um livro que existe em pdf, ebook, etc, e todos votavam no que acharam a melhor opção, sendo que você não podia votar na sua própria opção. Deu certo!! O encontro virtual tem rolado sempre no segundo sábado de cada mês, e para comemorar, decidi escrever um pouco sobre o processo de produção da bolsa de guardar e transportar livros. Já tínhamos conhecimento da existência desse objeto, vimos vários modelos, treinamos a costura e decidimos criar o nosso próprio.
Modelos e provas de molde
No meu primeiro esboço, pensei em colocar elementos que fazem parte dos nossos encontros. Livros, vinho e pão, pois representam parte da essência do encontro pois, como disse no primeiro parágrafo, é um local de trocar e indicar livros, conversar sobre, comer e beber. Também adicionei uma faixa descrevendo o nome do encontro, e acima de tudo a indicação de propriedade “Ex Libris”, fazendo a associação com o motivo do encontro.
Molde final, esboço de linhas, teste de contraste
Depois de medir os tamanhos, de forma que coubesse um livro pequeno, um kindle ou até um livro maior e mais grosso, conseguimos chegar a um tamanho satisfatório. Minha esposa fez os moldes e cortou o pano Americano Cru para que fizéssemos as bolsas.
Arte final pronta para gravação
Depois de discutir com todo o grupo alguns elementos que iriam para a imagem, adicionamos as folhagens da parte inferior, o vaso de cactus e a parreira, deixando a imagem com um ar mais fluido, clássico, chique e refinado. Finalizei a imagem com caneta Posca, marcando as linhas, as hachuras e os contrastes, deixando a arte final pronta para gravar a tela de serigrafia.
Tela gravada e tudo pronto para a impressão. O Americano Cru enruga um pouco após cada impressão, e eu ainda fiquei meio bolado se a impressão, ao secar, ficaria meio torta. Acabou que não ficou, e depois eu também descobri que é sempre bom lavar o Americano Cru antes de silkar, para as tramas se ajustarem. Depois vou fazer um teste assim pra saber se fica melhor ou não.
Impressões no americano cru, um pouco enrugadas.
Trabalho de silk finalizado, hora de fechar a costura e dar o acabamento que falta. Deixamos um túnel na borda para passar um cordão e poder fechar a bolsa. Resultado bem satisfatório. Livros protegidos para transporte, com direito a personalização do nosso Clube.