Encontrei mais fotos do km 27

Depois de haver escrito o post anterior, fiquei buscando mais fotos destes dias de pintura. Consegui encontrar mais algumas fotos. Lembrando que o Centro Comunitário do km 27 ficava bem próximo de uma Casa, religiosa, que cuidava de várias crianças abandonadas e órfãs. Foi outro local que pintei. Apesar de não ser nada religioso, não me importei em pitar um Jesus Cristo e um escrito “Jesus” no muro externo da Casa. Ao que parecia, e não me lembro muito bem, o trabalho que eles faziam era bem daora.

O representante do projeto Jóvenes en Acción, Adán, foi o contato pra fazer essas pinturas. Foi por causa dele que eu participei do concurso, e foi por causa dele que fomos pintar esses murais nesse bairro longínquo.

Em Ciudad Juárez tive contato com muitas experiências interessantes, projetos incríveis, que tenta correr atrás do tempo perdido nessa onda de violência. Imagina que há muuuitos anos atrás existia uma cidade mexicana chama Paso del Norte, que ficava no meio do deserto e era um local de passagem e pousada para quem viajava ao norte ou ao Pacífico. Nos meados do século XIX os Estados Unidos tomou grande parte do território mexicano, e a cidade foi, literalmente, divida em duas, tendo o Rio Bravo, que antes cortava a cidade, como novo marco delimitador de fronteira internacional. Hoje, temos de um lado Ciudad Juárez (que durante muitos anos ganhou o título de cidade mais violenta do mundo fora de zona de guerra), e do outro lado do rio temos El Paso (a cidade mais segura dos estados Unidos). Grande contradição, não é?

Paz para los niños

Em 2012 eu fiz 3 murais enquanto estava de passagem por Ciudad Juárez, Chiuhuahua, México. O primeiro foi em uma “competição” com o tema da cidade, onde eu participei para dar visibilidade a um projeto social que um amigo, Oscar Israel, participava. Ali conheci várias outras pessoas, e consegui um terceiro lugar, que me animou muito, pois meu prêmio, em teoria seria uma viagem à Grécia para estudar graffiti. Infelizmente não pude receber o devido prêmio. Logo após, pintei mais dois murais com esse projeto, chamado Jóvenes en Acción, ambos em Centros Culturais na periferia da cidade.

Olha a cara de sol do sujeito, rs

Vale lembrar que Cd. Juárez possui uma história marcada pela violência militar, pela violência do narcotráfico, pelo feminicídio, pela violência de gênero, pela exploração do trabalho e vários outros problemas sociais e econômicos. Em 2012 houve um período relativamente pacífico para a cidade, com a reabertura de vários bares, a retomada da vida social, mas as pessoas ainda tinham medo de ir para as ruas, tinham muitas histórias de abusos e casos de violências, e muitos imigrantes chegavam para tentar passar para o outro lado da fronteira, onde se encontrava os Estados Unidos. Era uma cidade muito diferente de tudo que eu podia imaginar.

Oscar e eu descansando na sombra.

Os dois murais que pintei depois da competição foram em um local conhecido pela extrema pobreza, falta de recursos urbanos básicos, forte influência dos narcos. Conhecido como Kilómetro 27 (eu acho que era isso, a memória anda falhando), era um bairro periférico completamente afastado da cidade, ruas de areia por causa do deserto, construções beeem simples, seguindo o curso da autopista que passava pelo local. Existem poucas fotos destes dias, pois câmeras digitais não eram tão comuns na época, e nem nuvem virtual, muita coisa se perdeu nos arquivos da matrix.

Nesta foto de 2018 vê-se que o graffiti ainda está lá.

O que rola é que essas experiências em um local como esse não poderia ter uma temática diferente. Crescer em um ambiente de violência é ruim e cruel com todos os atores familiares. Crescer sem perspectiva, compreendendo que a única realidade é aquela, não deveria nem ser uma possibilidade. Hoje me lembrei desses dias de sol e areia, nesse deserto imenso e ambíguo que é Cd. Juárez. Mas não ache que aqui no Brasil seja diferente, pois não é.

Mural finalizado

Em Juárez era bem difícil pintar. O spray era tipo um X-Row (dazantigas), com uma consistência estranha, com a válvula muito dura e o vento do deserto impossibilitava muito fazer os esfumaçados. Era sempre um desafio. Mas vale a pena tentar, sempre. E o principal é a mensagem que fica: PAZ PARA AS CRIANÇAS. PAZ!

Requebra!

Domingo vai rolar um evento bem massa em BH. Dá uma olhada!!
As inscrições podem ser feitas clicando aqui.

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Em momentos de crise, reinventar é mais do que necessário, REQUEBRAr! Permitir enxergar por um outro olhar, mexer o quadril e por que não rebolar?!

Propomos um momento de colaboração, trocas e fomentação da cultura criativa independente. Um dia para vivenciar novas linguagens, formatos e possibilidades.

O REQUEBRA é um evento para a venda de produtos gráficos, oficinas, collab e discussões sobre empreender e criar.

           ********    PROGRAMAÇÃO:     ********

Oficina de Aquarela ———– com Prisca Paes — 10h às 12h

– Stencil —————————– com La Idea — 14h às 16h

– Oficina de Tag —————- com Fhero — 16:30h às 18:30h

– Desenhos de Letras aplicados em Lambe com Leoni Paganotti 

Gustavo Machado — 16:30h às 18:30h (pintura de letras)

             20h saída para aplicar os Lambes

********    SOBRE:     ********

OFICINA DE AQUARELA – Prisca Paes

É hora de você que sempre quis pintar – mas que não sabia por onde começar – descobrir a melhor maneira. Entender o que é preciso para começar a fazer as primeiras manchas e o melhor: colocar em prática!

Vem pintar com a gente?

 

Conteúdo programático: conhecendo os materiais, técnicas básicas: fundo seco, fundo molhado, sal, giz, máscara, usos do branco, preparação da tinta, Construção da palheta de cores, Prática e experimentações a partir do desenho

Materiais fornecidos pela Espaco Quebra: papel para aquarela Canson Mondval, estojo com bisnagas Pentel, pincéis para aquarela (pequeno, médio e grande), lápis para desenho, fita crepe, borracha, flanela, gode reservatório para água

OFICINA DE STENCIL – La Idea

La Idea é um projeto/pseudônimo de experimentação artística nascido em 2008, com o intuito de estudar, compartilhar e produzir arte em diferentes suportes. Entre as especialidades estão a produção de stencil, xilogravura, serigrafia, litografia, pintura, street art e muralismo. Além da graduação em Artes Visuais na UFMG e da passagem pela Escola Guignard da UEMG, foram realizados intercâmbios em Cuidad Juárez, México (2012), e Tucumán, Argentina (2016), onde foram realizados trabalhos de muralismos, gravuras, e o primeiro curso de stencil fora do Brasil.

Sobre o Curso:

O stencil é uma técnica milenar, tendo registros de sua utilização em pinturas rupestres, guerras, movimentos sociais, e atualmente muito presente nos movimentos de pós-graffiti. A técnica consiste em criar um molde vazado, que delimita a passagem de tinta em diversos locais da matriz para formar a figura. Nesta oficina, além de aprendermos o processo de iniciação da técnica, incluindo o desenho, os cortes e a aplicação de tinta, trabalharemos a construção de stencil com várias cores, e a produção de cartazes com a técnica.

OFICINA DE TAG – Fhero

Espaço ideal para quem quer um contato inicial com o graffiti e com as tags, letras típicas dessa cena mundial. A oficina busca trazer um outro olhar sobre a nossa escrita, abordando outras alfabetos e estilos tipográficos.

Conteúdo: desenvolvimento e criações de tipografias

PINTURA DE LETRAS APLICADOS EM LAMBE LAMBE – Leoni Paganotti e Gustavo Machado

A oficina será um espaço experimental onde os participantes entrarão em contato com o universo do desenho de letras. Haverá uma introdução teórica, básica e, em seguida, a experimentação de técnicas de escrita com materiais diversos.  Ao final da atividade cada participante irá produzir um lambe-lambe tipográfico personalizados que, mais tarde, serão colados na rua, conjuntamente.

Conteúdo pragmático

  1. Conceitos básicos: caligrafia, Tipografia, Desenho de letras / Lettering, Tipografia vernacular
  2. Explorando os Materiais: Lápis, canetas brush pen, pinceis, carcadores em geral, squeezers, tinta aquarela líquida, tinta acrílica, guache
  3. Produção: experimentação e produção dos lambes tipográficos
  4. Corre:Colagem dos lambes na rua

*Os materiais são empréstimos do Espaço QUEBRA, para uso exclusivo durante o workshop.

 

 

 

 

 

A Saga do Muro

Passou-se muitos meses desde quando eu iniciei a pintar o muro da casa de uma amiga e o término da pintura. Fico impressionado com a minha velocidade na hora de fazer algum trabalho. Deve vir da paciência do ato de gravar, mas na minha concepção, arte feita sem paciência, com pressa, não me satisfaz.

O muro era um muro antigo, alto, com dois portões grandes, uma portaria, e ladrilhos em relevo. A minha ideia inicial era pintar utilizando a forma e o relevo dos ladrilhos (isso me atrapalhou muito) tentando fazer algo que fosse mais “orgânico” e com influências do mural de Portinari da Igreja da Pampulha.

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O famoso Muro

Desde quando eu comecei a pintura vários imprevistos surgiram. Eram dias de calor demais, e eu acabava ficando enjoado. Eram dias de muita chuva, e eu não trabalhava nesses dias. Às vezes tinha que fazer outros corres, às vezes tinha que comprar mais tinta, às vezes não ia ter ninguém em casa. Comecei a pintura, e pacientemente fiz 4 tons de azul, marquei algumas coisas com o branco e comecei a pintar.

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Marcação

O fundo seria predominantemente azul, em vários tons, com duas árvores no entre portões. O processo de pintura do fundo foi o mais demorado. Pacientemente pintando lado a lado de cada relevo do ladrilho, depois de algumas semanas, finalmente o fundo tomou forma.

 

Depois de terminar o fundo azul, veio a parte das árvores. Uma parte bem complexa para mim. Devido ao meu daltonismo, tive muitas dificuldades em conseguir fazer com tinta branca + pigmentos vários tons de verde e vários tons de marrom. Para piorar a minha situação, eu tinha me apegado muito à forma dos ladrilhos, e não consegui fazer uma árvore que ficasse boa, que desse um bom contraste.

 

Juntamente com a dona da casa, chegamos a conclusão de que a árvore não estava legal. Em conjunto com as nuvens feitas no fundo azul, ficou parecendo escolinha infantil. Impossível discordar dessa afirmação. Deixei de lado tudo isso, para me concentrar nos portões. Sem pressa eu iria bolar um plano para arrumar o que não estava legal.

Os portões foram a parte mais fácil. No fundo, sapequei vários tons de azul em spray, claramente “imitando” a Igreja da Pampulha. Cortei um estêncil com a imagem de um pássaro, o mesmo pássaro da Portinari, e fiz um padrão nos portões, alternando a cor do pássaro dependendo do fundo. Feito sem maiores dificuldades. Aproveitei, também, para remover as nuvens.

 

Para trabalhar na árvore, Natália <3, a pessoa das boas ideias, conseguiu me fazer desapegar da forma dos ladrilhos e passar a usar spray, material que eu já estava mais acostumado, e que, de fato, me ajudou com o resultado final.

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Resultado Final

O resultado final foi um aprendizado para mim. Aprender a desapegar de uma ideia que não deu certo e buscar soluções para melhorar. O resultado ficou satisfatório para mim, para os moradores da casa e para a Nat, e eu não podia deixar de agradecer todos eles pela paciência, pelas ideias, pela disponibilização do espaço e pelo tempo que passamos juntos conversando, pintando, tomando um café e bolando as ideias. Valeu demais Sofia, Denize, Andreia, Willy, Nat, e todo mundo que passou para dar uma força.

É vida que segue!!