Halftone invertido

Se tem um recurso gráfico de impressão que eu tenho curtido estudar é técnica de halftone (meio tom). Tudo isso consiste em efeitos (que podem ser linhas, pontos, elipses, círculos, etc) que enganam o nosso olhar e nos fazem enxergar “fotografias” bem realistas, utilizando poucas cores, ou até 1 cor apenas.
Nessa post eu gostaria de mostrar-lhes os estudos de halftone invertido. Essa técnica consiste em utilizar as luzes da imagem como recurso para impressão em suportes escuros. Eu já cheguei a fazer estampas de camisas em serigrafia assim, e o resultado, mostrado a seguir, foi bem satisfatório:

O fato é que eu experimentei, também, um halftone de linhas para ser feito em stencil e impresso no papel preto. Foi um processo bem trabalhoso, mas que rendeu uma produção bem massa. Utilizei a fotografia de uma fila de zapatistas na Selva Lacandona. A fotografia tinha uma certa névoa, e isso casou bem com o efeito do spray esfumaçado/borrifado no papel.

Impressão com spray branco em MDF pintado de preto e com moldura.

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Stencil Halftone em duas cores

Halftone” ou “Meio Tom” é um recurso gráfico muito utilizado nas técnicas de impressão por conseguir simular, com poucas cores, um certo realismo na impressão. Sabe quando você vê uma fotografia antiga nas páginas do jornal e ela é formada por diversos pontinhos? Isso é um halftone.

Já faz algum tempo que eu tenho estudado um pouco disso nas minhas impressões, sobretudo trabalhando os efeitos no Photoshop, e transpondo para impressões feitas de forma artesanal. Aqui, aqui e aqui tem alguns modelos de impressão em halftone que andei testando aqui no meu estúdio.

Há alguns meses iniciei um projeto para trabalhar halftone em stencil com duas camadas de cor. A ideia é trazer mais realismo à imagem final. O formato escolhido foi o A2, por ser grande o suficiente para conseguir se tornar cartaz lambe-lambe posteriormente. A foto que usei de modelo se refere à um encontro Zapatista, e nela uma mulher amamenta uma criança enquanto participa da deliberação de alguma pauta. Uma imagem forte, que me traz elementos de organização, resistência e maternidade.

Fotografia de Emiliano Thibaut

Como o papel tem fundo branco, pude trabalhar com duas cores mais escuras em meus modelos virtuais. Optei por fazer haltone de linhas, em que o que engana nossos olhos e nos faz enxergar a fotografia é somente a diferença de espessuras das linhas. Para dar um efeito interessante, cada camada de cor teria uma inclinação de 45° em direções opostas, formando algo parecido com uma tela. Decisões tomadas, fiz a impressão e comecei o processo de corte, começando pela camada superior e mais trabalhosa.

A camada inferior, além de menos detalhada, preferi fazer as linhas com uma espessura maior, para diferir das linhas mais finas da camada superior. Era para servir como base, como uma cor intermediária antes dos detalhes e do contraste final.

O resultado dos cortes ficaram bem interessantes. Eu usei plástico de encadernação transparente, pois é bem fino e resistente, sendo mais fácil de cortar que um acetato, por exemplo, também conferindo mais resistência à umidade e ao calor.

Na hora da impressão, pensei em um vermelho como cor intermediária na primeira camada, e preto como fechamento, pra subir o contrate final. Mas duas coisas aconteceram nesse processo:
1 – O preto por cima do vermelho tampou os detalhes da camada vermelha;
2 – A junção preto + vermelho escuro deixou a imagem desnecessariamente escura, como se fosse uma foto de ISO100 no final de uma tarde nublada.
Desta forma, ao invés de utilizar o preto chapado, optei por um preto transparente, conhecido como Fumê, para manter uma cor intermediária mais suave. Este último resultado me agradou mais.

Enfim, todo processo feito à mão, cortado com estilete, acaba tendo suas limitações, e a questão é buscar a melhor forma de concluir a impressão de uma maneira que agrade aos olhos. O processo de ser artista consiste nessa reflexão a cada etapa, fazendo escolhas para seguir adiante da melhor forma possível. A impressão do vermelho escuro combinado com o fumê foi a que mais me agradou, deixou os traços mais suaves, os detalhes mais aparentes.

O que acharam?

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Como fazer stencil?

Olá a vocês que acompanham as postagens daqui. Venho lhes dizer que está no ar mais uma aula no canal de Youtube, e desta vez eu ensino como transformar uma imagem em um stencil utilizando o aplicativo Photoshop, e também utilizando o editor de fotos simples do celular para chegar no mesmo resultado. Espero que gostem, abraço.

Sobre vídeos

Ultimamente ando me arriscando na produção de vídeos. São tutoriais, processos, fragmentos de rolés, algumas aulas… Tudo será disponibilizado no canal do Youtube e no IGTV.

É uma ótima forma de registro do processo de trabalho, pois ver o produto sem saber por tudo o que passou antes de se tornar aquilo se perde um pouco da experiência.

O primeiro vídeo é um processo de corte e pintura de um stencil de 4 camadas. Foi todo filmado em Time-Lapse.

 

O segundo vídeo postado são de fragmentos de rolés, com cenas tomadas entre 2012 e 2019, em diversas cidades. São pequenos trechos de colagem de cartazes lambe-lambe e de stickers.

 

No canal do Youtube seguirei postando vídeos, tem muito material guardado aqui, que eu filmei há muitos anos e não sabia o que fazer com isso. Também estou me arriscando na edição, não conheço muito, mas estou fazendo o que posso.

Sobre a técnica de estêncil

Estava dando uma olhada nos meus arquivos e me deparei com a foto do meu primeiro estêncil, feito em 2007. É uma estrela com as letras EZLN logo abaixo. Cortei esse estêncil para poder pintar uma camisa e ter, finalmente, a tão sonhada camisa do Movimento Zapatista. Depois da camisa, comecei a espalhar essa imagem por Belo Horizonte, e mal eu sabia onde que tudo isso iria chegar.

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Primeiro estêncil.

Minha curiosidade pela técnica foi muito além do que eu imaginaria. O ato de cortar uma placa de radiografia me dava tanto prazer, que eu tinha começado a cortar de tudo quanto é imagem. Alguns deles foram para as ruas, outros ficaram confinados às paredes do meu quarto (meu quarto era um caos imagético, todo mundo intervinha lá).

 

Nessa época, eu achava que já estava no auge da produção, tendo chegado ao limite e esgotado as possibilidade de exploração da técnica. Mero engano. Na internet circulavam várias fotografias de arte produzida com estêncil de um sujeito chamado Banksy. Este artista britânico, com suas obras irônicas e críticas à sociedade atual, me fez perceber que eu não estava nem próximo de um limite, quanto mais de um auge. Eram verdadeiras intervenções em diversos tamanhos, formatos e cores, com contraste, luz, sombra, detalhes. Me lembro de ficar caçando na internet cada vez mais imagens desses graffites, que me deixavam cada vez mais perplexo.

Acho que foi nessa época que eu comecei a perceber, também, os trabalhos do Cidadão Comum (Hoje, apenas Comum) pelas ruas de Belo Horizonte. Eram cartazes produzidos com estêncil, impressões em várias combinações de cores, rica em detalhes e sempre com a inscrição do autor em algum lugar da imagem.

Foi a partir daí que eu comecei a experimentar o uso de mais cores e alguns formatos maiores. Na época eu também não tinha acesso à tintas melhores, e usava sprays horríveis, desses de depósito de bairro. E isso não ajudava muito no processo. Não consegui encontrar muitas fotos de trabalhos assim, mas nessa época eu deixei de arriscar nos muros da cidade para estampar em camisas que eu vendia a preços simbólicos.

 

Nessa mesma época, comecei a arriscar a pintar as camisas com pincel a fim de complementar as estampas feitas com estêncil, colocar alguns detalhes, uma luz, algo que a deixasse mais artística. Isso deu tão certo, que culminou na melhorias das minhas habilidades com desenho, e foi quando ingressei na Escola Guignard, no curso de Artes Plásticas. Foi na faculdade que eu tive contato com esse mundo da arte, e é possível ver um salto nas questões técnica e estética das matrizes.

 

Comecei a ter mais cuidado com os detalhes, e a ter mais paciência na hora de produzir uma matriz. Testei outros suportes também, como discos de vinil e telas de pintura, e cada vez me davam ideias de tentar algo novo. Nessa mesma época comecei a produzir imagens com a finalidade comercial, fazia muitas coisas com temas de filmes, músicas, séries, temas políticos ou apenas decorativos. Com os discos de vinil, também era possível vendê-los na forma de relógios de parede.

 

Em 2012, após passar um semestre em Ciudad Juárez, México, e conviver com artistas de diversos coletivos (Rezizte, Puro Borde, Hunab Ku, CLVR…), foi quando eu finalmente compreendi a finalidade estético-política que se pode alcançar com o estêncil. O contexto em que vivíamos (Gastos desnecessários com Copa do Mundo e Olimpíadas, Despejos, Gentrificação, Manifestações…) fez com que “minha” criatividade (digo “minha” porque todo o resultado do meu trabalho a partir desta época foram frutos de ideias, discussões e eventos compartilhados e vividospor todxs que fazem/faziam parte da minha vida) borbulhasse, e eu passaria um bom tempo trabalhando em matrizes que foram o marco inicial do “La Idea” nas ruas.

Conduzido pelos cartazes do Rezizte, que retratavam a vida fronteiriça (US/MX), e pegando um gancho nos trabalhos do Comum, iniciou-se uma produção em larga escala de cartazes produzidos com estêncil. A primeira ideia foi fazer um menino jogando bola de chinelo, para mostrar que o futebol está além daquele que é vendido pela FIFA e pela mídia. Juntamente com a criança, estariam dizerem contra a Copa do Mundo. A segunda ideia foi pegar a fotografia que saiu na capa de um jornal do Rio de Janeiro, onde um indígena da Aldeia Maracanã olha para o céu, após sair a notícia que o Museu do Índio seria demolido para dar lugar a um estacionamento no Maracanã. A terceira ideia, e talvez o que seria a imagem mais conhecida do “La Idea” foi o rosto do El Marquéz, lutador de Lucha Libre, de Ciudad Juárez, e símbolo do Coletivo Puro Borde. Foi uma maneira de homenageá-los. Desta forma, a vida nas ruas começava a tomar forma. As matrizes eram feitas em diversas cores, eram bem chamativas, e possuíam tamanho A2.

 

Depois desses, vieram várias ideias de fazer cartazes sobre outros temáticas, e ainda ampliar a quantidade de lutadores. Essa insistência rendeu várias postagens nas redes sociais, e eu via uma resposta positiva quanto aos cartazes que eu produzia, afinal, eles começaram a ser requisitados para venda.

 

Faltam alguns trabalhos que eu não consegui achar fotos no caos virtual do HD, mas assim que eu der uma organizada, darei um jeito de colocar aqui.

Para terminar essa jornada no desenvolvimento da técnica, minha última empreitada no estêncil foi tentar reproduzir obras de arte, da maneira mais próxima possível. É claro que igual nunca ficará, mas eu tentei ser bem fiel ao original (imagem virtual).

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Essa reprodução de uma obra de Hokusai foi minha primeira tentativa de cópia. É bem complicado tentar chegar em uma combinação de cores que seja plausível, mas a riqueza em detalhes me ensina que é preciso ter calma, paciência e precisão na hora de cortar um estêncil. Foram 9 matrizes em tamanho A3, 11 cores em spray e muitos minutos de trabalho minucioso. Eu fiquei bem satisfeito com o produto final, muitas pessoas compraram e acho que também curtiram bastante essa reprodução. Se não me engano, isso foi feito em 2014. De lá para cá, minha produção deu uma diminuída, mas em 2018 é algo que eu irei retomar. Acho que não estou nem perto de esgotar as possibilidades da técnica. Vejo trabalhos do ELK, da Austrália, ou do SHIT, aqui de BH mesmo, que estão ultrapassando vários limites, e chegando cada vez mais longe no desenvolvimento da técnica. Imagino que eles também tenham começado como eu, formas simples, letras, e na insistência e persistência conseguiram chegar onde estão hoje.

Vejo uma evolução tremenda em todas essas fotos que eu publiquei, e nunca imaginei onde eu poderia chegar. Continuo sem imaginar, e não vai ser agora que eu vou parar.