E Sobre a Educação?

Queria poder escrever sobre o sistema educacional de uma forma bonita e prazerosa. Desde 2009 dou cursos e oficinas, desde 2009 estou em uma faculdade, e desde 2013 que eu comecei a me interessar pela docência. Apenas em 2018 eu iniciei formalmente meus estudos para me tornar um professor e, desde então, comecei a refletir sobre a atuação no sistema educacional. E existem coisas que não me atraem nesse universo, e talvez, por isso, não conseguirei escrever de uma maneira bonita e prazerosa.

Fico lembrando quando estava na escola, ótimos anos. De 1994 a 2005 eu frequentei algumas instituições públicas, e sempre me achei um “bom aluno” até certo tempo. A partir da 7ª série, quando eu descobri o que era uma “Escola Plural”, implantada na rede municipal de ensino, eu simplesmente parei de me importar com a escola. Hoje eu entendo o quanto fiquei defasado em várias questões, e isso me custou muitos anos de cursinho para aprender o que eu nunca aprendi. No meu terceiro ano do ensino médio fui parar no Colégio Soma, privado, com aquela promessa de ser aprovado no vestibular da UFMG. Aprendi o que era a UFMG quando eu estava estudando no segundo ano, e minha irmã foi prestar vestibular. No Soma, consegui ir mal em quase todas as matérias, sempre pegava recuperação em várias disciplinas, e até hoje não sei como consegui formar. Foi um período muito pouco proveitoso, e se eu soubesse o que viria nos anos seguintes, teria feito tudo de forma diferente.

Em Julho de 2018 eu iniciei os estudos em Licenciatura em Artes Visuais, continuidade de estudos do meu Bacharelado em Gravura/Litografia. Ao mesmo tempo, trabalhava dando oficinas de arte em uma Unidade de Semiliberdade das Medidas Socioeducativas, dava aulas de xilogravura e serigrafia em meu atelier, e comecei a acompanhar duas escolas da Rede Estadual de Ensino. Uma delas é uma escola grande, famosa, conceituada, estruturada, bairro nobre, muitos recursos, etc. A outra é uma escola de bairro, porém não periférica, situada a duas quadras da minha casa. Posso passar uma eternidade aqui citando diferenças estruturais entre as escolas, mas irei focar na parte que me importa: as pessoas. As pessoas são aquelas que fazem parte da comunidade escolar como um todo, que participam do cotidiano e que, querendo ou não, fazem a escola acontecer. São professores, funcionárixs e alunxs, e eu fico tentando perceber/entender como elxs atuam nesse espaço/tempo.

Apesar da diferença berrante entre as duas escolas, tenho percebido muitas similaridades quando o assunto são as pessoas. Professorxs desmotivadxs por diversos motivos, funcionárixs desmotivadxs por diversos motivos, e alunxs desmotivadxs por diversos motivos. Motivos para a desmotivação é o que não falta. E eu entendo esse sistema indo cada vez mais para o buraco. Não é de hoje que esse formato que chamamos “escola” não funciona. A escola não é atraente, e não oferece mudanças em nenhuma perspectiva. Vejo com frequência alunxs de ambas escolas comparando o local com uma prisão. E eu entendo bem isso. Ali é um local de limitação de liberdades, onde há regras, muitas vezes controversas, e nada daquilo ali dialoga com xs alunxs. Digo isso com clareza, pois entendo que o ambiente escolar também não me atraía quando jovem. Fui entender que era preciso estudar e comecei a buscar conhecimento depois de muitos anos de formado, e hoje, com 31 anos, começo a compreender onde a escola erra. Nas salas de aula vejo várias matérias desconexas, uma falta de interesse dxs alunxs no que está sendo exposto, e uma ideia de que nada daquilo ali importa. A maioria dxs alunxs fazem prova sem nem ler, simplesmente marcam qualquer resposta. A maioria dxs alunxs não se importa com o que x professorx está ensinando, porque nada daquilo ali vai fazer diferença. De fato, tive dificuldades com matemática por muitos anos, até compreender os locais onde eu poderia aplicar uma fórmula matemática. Com a física, a mesma coisa. Também com a química. Também com a biologia, geografia, história. A maioria das disciplinas escolares nunca fizeram sentido para mim quando jovem, e eu só fui compreender na necessidade e na prática, onde esses conhecimentos são importantes.

O formato das Escolas que eu acompanho são muito parecidos. Várias matérias com vários conteúdos, provas bimestrais, recuperação, várixs alunxs fora de sala, várixs alunxs que não levam material, várixs alunxs que nem sequer tiram a mochila das costas, várixs alunxs sendo punidos por indisciplina. E eu entendo perfeitamente a indisciplina. Imagino que eu seria um desses que está de saco cheio disso tudo, e compareço à escola por obrigação, ficaria torcendo para chegar logo o horário de intervalo, e depois a hora de ir embora. Nem sei se o que escrevo faz sentido algum, mas escrevo para que um dia eu chegue a algum lugar com isso.

Na Universidade tenho várias aulas sobre educação, e sistemas educacionais, e formas de entender a docência, e a importância da arte no ensino. Mas tudo segue muito distante da realidade que eu experimento. Muitxs professorxs nunca entraram em uma sala de aula de uma escola pública, e os exemplos que trazem sempre são de escolas construtivistas, dessas super elitizadas, como se fosse igual lidar com problemas de ricx e problemas de pobre. Escrevo de uma forma bem xula, não me importo. Aqui são palavras que saem para tentar entender meu papel nessa história. O que estudamos no meio universitário não tem quase nada a ver com as escolas que frequento. Parece ser tudo muito utópico e lindo ao discutir o papel da arte nas escolas, mas as próprias escolas limitam muito a atuação da arte, e talvez não compreendam a importância da arte como campo de conhecimento. Arte não é fazer decoração de festa junina. Eu entendo a arte como um local de construção de sentido, de expressão, de aprendizado e de compreensão do universo, da sociedade e de seus fenômenos de uma maneira crítica. Talvez eu tenha demorado muito a compreender isso dessa forma, e não acho que seja fácil a compreensão por pessoas que não estão ligadas à isso. No ambiente escolar os campos de conhecimento sempre parecem muito distantes entre si, sem diálogo algum entre eles, e realmente deve ser um saco, um porre, ver essas aulas que nada tem a ver com a outra. Não estou falando aqui de existir recursos audiovisuais, aulas online, tecnologia de ponta para realizar aulas, mas de entender que as diferentes disciplinas podem trabalhar assuntos semelhantes, pois tudo está conectado. Com o tempo tudo foi dividido em diferentes áreas, e sumiram as relações entre o que aprendemos e o que vivemos. Fico pensando em Leonardo da Vinci, que exercia diversos ofícios e foi importante para várias áreas: Engenharia, Medicina, Artes Visuais, Botânica, Teatro, Arquitetura, Matemática, e vários outras áreas que hoje não dialogam entre si. Talvez na época de Da Vinci, o conhecimento geral fosse importante e os campos de conhecimento estavam conectados, e tudo que se ensinava construía um sentido, e fazia sentido.

Mas o sistema escolar limita tudo. Tudo tem seu tempo, suas regras, nada faz sentido, nada é atrativo e segue um formato que sufoca muito mais que liberta. Um ambiente fechado, onde xs alunxs não possuem nenhum senso de pertencimento, destroem todo o equipamento, funcionárixs irritadxs todo o tempo porque não aguentam mais a estrutura, e corpo docente de saco cheio sem entender as razões.

Escrevo aqui porque quero tentar entender o que desejo fazer, o que desejo tentar, e como eu posso ajudar a mudar algo. Não vou mudar o mundo, e nem quero. Não me preocupo com Mercado de Trabalho, pelo contrário, estou pouco “me fudendo” para isso. “Mercado de Trabalho” é um termo que me lembra pessoas acorrentadas a um emprego bosta, fazendo o que não gosta, ganhando stress, em troca de um dinheiro qualquer. “Mercado de Trabalho” para mim segue a lógica do nascer, estudar, trabalhar, morrer; e seguir a vida assim, torcendo para chegar o fim de semana ou as férias, porque somente nesses contextos é que se aproveita a vida, e o resto é trabalho e chatice. Eu gostaria que as pessoas fossem livres para fazer o que quiser, e ser o que quiser, e buscar, da forma que quiser, sua felicidade. Começo a compreender que esse formato de escola talvez sirva para se adaptar a esse modo de vida medíocre, pois segue a mesma lógica. Passar o dia em algo que não gosta, torcendo para o fim do expediente chegar logo, torcendo para chegar o fim de semana, e depois reclamando da segunda feira; tudo isso em troca da eterna promessa de uma vida melhor.

Acho que meu texto saiu um pouco do que eu imaginava. Meus devaneios sobre a educação talvez não terminem nunca. Esse formato não me atrai, e eu já entendi que não atrai xs alunxs, nem xs professorxs. Todo mundo reclama, e não pode propor mudanças, porque as mudanças vão criar pessoas livres, e inteligentes, e críticas. E ninguém quer isso.

O que fazer então? Como posso atuar na educação de uma maneira diferente?

Fico pensando que quando for professor terei muito trabalho. Eu sei que vou ganhar mal. Eu sei que irei ficar estressado, revoltado, cansado da estrutura, que vou reclamar por trabalhar muito, torcer para chegar o fim de semana, e reclamar da segunda feira. Eu sei que vou ter um discurso bonito, de conseguir construir sentido com poucxs alunxs, e isso vai fazer valer a pena todo esse processo. Estamos adaptados à isso. Eu estou adaptado à isso.

Ainda tenho tempo, e há muitas coisas para repensar e refletir. Até lá, farei o que puder, apesar de ainda não saber como.

Requebra!

Domingo vai rolar um evento bem massa em BH. Dá uma olhada!!
As inscrições podem ser feitas clicando aqui.

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Em momentos de crise, reinventar é mais do que necessário, REQUEBRAr! Permitir enxergar por um outro olhar, mexer o quadril e por que não rebolar?!

Propomos um momento de colaboração, trocas e fomentação da cultura criativa independente. Um dia para vivenciar novas linguagens, formatos e possibilidades.

O REQUEBRA é um evento para a venda de produtos gráficos, oficinas, collab e discussões sobre empreender e criar.

           ********    PROGRAMAÇÃO:     ********

Oficina de Aquarela ———– com Prisca Paes — 10h às 12h

– Stencil —————————– com La Idea — 14h às 16h

– Oficina de Tag —————- com Fhero — 16:30h às 18:30h

– Desenhos de Letras aplicados em Lambe com Leoni Paganotti 

Gustavo Machado — 16:30h às 18:30h (pintura de letras)

             20h saída para aplicar os Lambes

********    SOBRE:     ********

OFICINA DE AQUARELA – Prisca Paes

É hora de você que sempre quis pintar – mas que não sabia por onde começar – descobrir a melhor maneira. Entender o que é preciso para começar a fazer as primeiras manchas e o melhor: colocar em prática!

Vem pintar com a gente?

 

Conteúdo programático: conhecendo os materiais, técnicas básicas: fundo seco, fundo molhado, sal, giz, máscara, usos do branco, preparação da tinta, Construção da palheta de cores, Prática e experimentações a partir do desenho

Materiais fornecidos pela Espaco Quebra: papel para aquarela Canson Mondval, estojo com bisnagas Pentel, pincéis para aquarela (pequeno, médio e grande), lápis para desenho, fita crepe, borracha, flanela, gode reservatório para água

OFICINA DE STENCIL – La Idea

La Idea é um projeto/pseudônimo de experimentação artística nascido em 2008, com o intuito de estudar, compartilhar e produzir arte em diferentes suportes. Entre as especialidades estão a produção de stencil, xilogravura, serigrafia, litografia, pintura, street art e muralismo. Além da graduação em Artes Visuais na UFMG e da passagem pela Escola Guignard da UEMG, foram realizados intercâmbios em Cuidad Juárez, México (2012), e Tucumán, Argentina (2016), onde foram realizados trabalhos de muralismos, gravuras, e o primeiro curso de stencil fora do Brasil.

Sobre o Curso:

O stencil é uma técnica milenar, tendo registros de sua utilização em pinturas rupestres, guerras, movimentos sociais, e atualmente muito presente nos movimentos de pós-graffiti. A técnica consiste em criar um molde vazado, que delimita a passagem de tinta em diversos locais da matriz para formar a figura. Nesta oficina, além de aprendermos o processo de iniciação da técnica, incluindo o desenho, os cortes e a aplicação de tinta, trabalharemos a construção de stencil com várias cores, e a produção de cartazes com a técnica.

OFICINA DE TAG – Fhero

Espaço ideal para quem quer um contato inicial com o graffiti e com as tags, letras típicas dessa cena mundial. A oficina busca trazer um outro olhar sobre a nossa escrita, abordando outras alfabetos e estilos tipográficos.

Conteúdo: desenvolvimento e criações de tipografias

PINTURA DE LETRAS APLICADOS EM LAMBE LAMBE – Leoni Paganotti e Gustavo Machado

A oficina será um espaço experimental onde os participantes entrarão em contato com o universo do desenho de letras. Haverá uma introdução teórica, básica e, em seguida, a experimentação de técnicas de escrita com materiais diversos.  Ao final da atividade cada participante irá produzir um lambe-lambe tipográfico personalizados que, mais tarde, serão colados na rua, conjuntamente.

Conteúdo pragmático

  1. Conceitos básicos: caligrafia, Tipografia, Desenho de letras / Lettering, Tipografia vernacular
  2. Explorando os Materiais: Lápis, canetas brush pen, pinceis, carcadores em geral, squeezers, tinta aquarela líquida, tinta acrílica, guache
  3. Produção: experimentação e produção dos lambes tipográficos
  4. Corre:Colagem dos lambes na rua

*Os materiais são empréstimos do Espaço QUEBRA, para uso exclusivo durante o workshop.

 

 

 

 

 

Xilogravura, turma 1

Passadas 3 aulas com a primeira turma do Curso de Xilogravura, escrevo agora sobre tudo que rolou até agora.

O cronograma está sendo cumprido à risca, e acho que conseguimos ver muito material audiovisual, matrizes e gravuras impressas para ter uma pequena noção do mar de possibilidades existentes na técnica da xilo.

Na primeira aula, conversamos sobre o termo “xilogravura”, o que significa, e como se diferencia de outras técnicas de reprodução da imagem. Vimos vários vídeos sobre o processo, folheamos livros, vimos muuuuitas imagens, e iniciamos o processo de fabricação de Baren, ferramenta de impressão manual.

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Na segunda aula, seguimos no processo de construção do Baren, e iniciamos a marcação do desenho na matriz de linóleo. Foi uma aula um pouco menos cansativa, mas o pano escolhido para montar o Baren estava um pouco grosso, e não foi possível terminá-lo neste dia.

Finalmente, na terceira aula e com o pano certo, finalizamos o Baren, e já começamos a melhor parte, que é a de cavucar a superfície do linóleo para gravar a imagem. Agora sim o assunto ficou sério. Conversamos sobre segurança, sobre estilos, como amolar as ferramentas, qual a finalidade das diferentes ferramentas e como devemos manusear as matrizes durante o processo de gravação.

Em todos os dias de curso eu ofereço lanche vegano feitos pela Abarca Cattering, da minha amiga Dani, e tem dado ótimos resultados. Comida gostosa deixa as pessoas mais alegres e dispostas.

Nas próximas duas aulas já iniciaremos o processo de gravação em madeira e o de impressão. Ansioso para esse dia chegar e poder mostrar o resultado dos trabalhos.

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Sobre a técnica de estêncil

Estava dando uma olhada nos meus arquivos e me deparei com a foto do meu primeiro estêncil, feito em 2007. É uma estrela com as letras EZLN logo abaixo. Cortei esse estêncil para poder pintar uma camisa e ter, finalmente, a tão sonhada camisa do Movimento Zapatista. Depois da camisa, comecei a espalhar essa imagem por Belo Horizonte, e mal eu sabia onde que tudo isso iria chegar.

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Primeiro estêncil.

Minha curiosidade pela técnica foi muito além do que eu imaginaria. O ato de cortar uma placa de radiografia me dava tanto prazer, que eu tinha começado a cortar de tudo quanto é imagem. Alguns deles foram para as ruas, outros ficaram confinados às paredes do meu quarto (meu quarto era um caos imagético, todo mundo intervinha lá).

 

Nessa época, eu achava que já estava no auge da produção, tendo chegado ao limite e esgotado as possibilidade de exploração da técnica. Mero engano. Na internet circulavam várias fotografias de arte produzida com estêncil de um sujeito chamado Banksy. Este artista britânico, com suas obras irônicas e críticas à sociedade atual, me fez perceber que eu não estava nem próximo de um limite, quanto mais de um auge. Eram verdadeiras intervenções em diversos tamanhos, formatos e cores, com contraste, luz, sombra, detalhes. Me lembro de ficar caçando na internet cada vez mais imagens desses graffites, que me deixavam cada vez mais perplexo.

Acho que foi nessa época que eu comecei a perceber, também, os trabalhos do Cidadão Comum (Hoje, apenas Comum) pelas ruas de Belo Horizonte. Eram cartazes produzidos com estêncil, impressões em várias combinações de cores, rica em detalhes e sempre com a inscrição do autor em algum lugar da imagem.

Foi a partir daí que eu comecei a experimentar o uso de mais cores e alguns formatos maiores. Na época eu também não tinha acesso à tintas melhores, e usava sprays horríveis, desses de depósito de bairro. E isso não ajudava muito no processo. Não consegui encontrar muitas fotos de trabalhos assim, mas nessa época eu deixei de arriscar nos muros da cidade para estampar em camisas que eu vendia a preços simbólicos.

 

Nessa mesma época, comecei a arriscar a pintar as camisas com pincel a fim de complementar as estampas feitas com estêncil, colocar alguns detalhes, uma luz, algo que a deixasse mais artística. Isso deu tão certo, que culminou na melhorias das minhas habilidades com desenho, e foi quando ingressei na Escola Guignard, no curso de Artes Plásticas. Foi na faculdade que eu tive contato com esse mundo da arte, e é possível ver um salto nas questões técnica e estética das matrizes.

 

Comecei a ter mais cuidado com os detalhes, e a ter mais paciência na hora de produzir uma matriz. Testei outros suportes também, como discos de vinil e telas de pintura, e cada vez me davam ideias de tentar algo novo. Nessa mesma época comecei a produzir imagens com a finalidade comercial, fazia muitas coisas com temas de filmes, músicas, séries, temas políticos ou apenas decorativos. Com os discos de vinil, também era possível vendê-los na forma de relógios de parede.

 

Em 2012, após passar um semestre em Ciudad Juárez, México, e conviver com artistas de diversos coletivos (Rezizte, Puro Borde, Hunab Ku, CLVR…), foi quando eu finalmente compreendi a finalidade estético-política que se pode alcançar com o estêncil. O contexto em que vivíamos (Gastos desnecessários com Copa do Mundo e Olimpíadas, Despejos, Gentrificação, Manifestações…) fez com que “minha” criatividade (digo “minha” porque todo o resultado do meu trabalho a partir desta época foram frutos de ideias, discussões e eventos compartilhados e vividospor todxs que fazem/faziam parte da minha vida) borbulhasse, e eu passaria um bom tempo trabalhando em matrizes que foram o marco inicial do “La Idea” nas ruas.

Conduzido pelos cartazes do Rezizte, que retratavam a vida fronteiriça (US/MX), e pegando um gancho nos trabalhos do Comum, iniciou-se uma produção em larga escala de cartazes produzidos com estêncil. A primeira ideia foi fazer um menino jogando bola de chinelo, para mostrar que o futebol está além daquele que é vendido pela FIFA e pela mídia. Juntamente com a criança, estariam dizerem contra a Copa do Mundo. A segunda ideia foi pegar a fotografia que saiu na capa de um jornal do Rio de Janeiro, onde um indígena da Aldeia Maracanã olha para o céu, após sair a notícia que o Museu do Índio seria demolido para dar lugar a um estacionamento no Maracanã. A terceira ideia, e talvez o que seria a imagem mais conhecida do “La Idea” foi o rosto do El Marquéz, lutador de Lucha Libre, de Ciudad Juárez, e símbolo do Coletivo Puro Borde. Foi uma maneira de homenageá-los. Desta forma, a vida nas ruas começava a tomar forma. As matrizes eram feitas em diversas cores, eram bem chamativas, e possuíam tamanho A2.

 

Depois desses, vieram várias ideias de fazer cartazes sobre outros temáticas, e ainda ampliar a quantidade de lutadores. Essa insistência rendeu várias postagens nas redes sociais, e eu via uma resposta positiva quanto aos cartazes que eu produzia, afinal, eles começaram a ser requisitados para venda.

 

Faltam alguns trabalhos que eu não consegui achar fotos no caos virtual do HD, mas assim que eu der uma organizada, darei um jeito de colocar aqui.

Para terminar essa jornada no desenvolvimento da técnica, minha última empreitada no estêncil foi tentar reproduzir obras de arte, da maneira mais próxima possível. É claro que igual nunca ficará, mas eu tentei ser bem fiel ao original (imagem virtual).

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Essa reprodução de uma obra de Hokusai foi minha primeira tentativa de cópia. É bem complicado tentar chegar em uma combinação de cores que seja plausível, mas a riqueza em detalhes me ensina que é preciso ter calma, paciência e precisão na hora de cortar um estêncil. Foram 9 matrizes em tamanho A3, 11 cores em spray e muitos minutos de trabalho minucioso. Eu fiquei bem satisfeito com o produto final, muitas pessoas compraram e acho que também curtiram bastante essa reprodução. Se não me engano, isso foi feito em 2014. De lá para cá, minha produção deu uma diminuída, mas em 2018 é algo que eu irei retomar. Acho que não estou nem perto de esgotar as possibilidades da técnica. Vejo trabalhos do ELK, da Austrália, ou do SHIT, aqui de BH mesmo, que estão ultrapassando vários limites, e chegando cada vez mais longe no desenvolvimento da técnica. Imagino que eles também tenham começado como eu, formas simples, letras, e na insistência e persistência conseguiram chegar onde estão hoje.

Vejo uma evolução tremenda em todas essas fotos que eu publiquei, e nunca imaginei onde eu poderia chegar. Continuo sem imaginar, e não vai ser agora que eu vou parar.

A Saga do Muro

Passou-se muitos meses desde quando eu iniciei a pintar o muro da casa de uma amiga e o término da pintura. Fico impressionado com a minha velocidade na hora de fazer algum trabalho. Deve vir da paciência do ato de gravar, mas na minha concepção, arte feita sem paciência, com pressa, não me satisfaz.

O muro era um muro antigo, alto, com dois portões grandes, uma portaria, e ladrilhos em relevo. A minha ideia inicial era pintar utilizando a forma e o relevo dos ladrilhos (isso me atrapalhou muito) tentando fazer algo que fosse mais “orgânico” e com influências do mural de Portinari da Igreja da Pampulha.

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O famoso Muro

Desde quando eu comecei a pintura vários imprevistos surgiram. Eram dias de calor demais, e eu acabava ficando enjoado. Eram dias de muita chuva, e eu não trabalhava nesses dias. Às vezes tinha que fazer outros corres, às vezes tinha que comprar mais tinta, às vezes não ia ter ninguém em casa. Comecei a pintura, e pacientemente fiz 4 tons de azul, marquei algumas coisas com o branco e comecei a pintar.

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Marcação

O fundo seria predominantemente azul, em vários tons, com duas árvores no entre portões. O processo de pintura do fundo foi o mais demorado. Pacientemente pintando lado a lado de cada relevo do ladrilho, depois de algumas semanas, finalmente o fundo tomou forma.

 

Depois de terminar o fundo azul, veio a parte das árvores. Uma parte bem complexa para mim. Devido ao meu daltonismo, tive muitas dificuldades em conseguir fazer com tinta branca + pigmentos vários tons de verde e vários tons de marrom. Para piorar a minha situação, eu tinha me apegado muito à forma dos ladrilhos, e não consegui fazer uma árvore que ficasse boa, que desse um bom contraste.

 

Juntamente com a dona da casa, chegamos a conclusão de que a árvore não estava legal. Em conjunto com as nuvens feitas no fundo azul, ficou parecendo escolinha infantil. Impossível discordar dessa afirmação. Deixei de lado tudo isso, para me concentrar nos portões. Sem pressa eu iria bolar um plano para arrumar o que não estava legal.

Os portões foram a parte mais fácil. No fundo, sapequei vários tons de azul em spray, claramente “imitando” a Igreja da Pampulha. Cortei um estêncil com a imagem de um pássaro, o mesmo pássaro da Portinari, e fiz um padrão nos portões, alternando a cor do pássaro dependendo do fundo. Feito sem maiores dificuldades. Aproveitei, também, para remover as nuvens.

 

Para trabalhar na árvore, Natália <3, a pessoa das boas ideias, conseguiu me fazer desapegar da forma dos ladrilhos e passar a usar spray, material que eu já estava mais acostumado, e que, de fato, me ajudou com o resultado final.

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Resultado Final

O resultado final foi um aprendizado para mim. Aprender a desapegar de uma ideia que não deu certo e buscar soluções para melhorar. O resultado ficou satisfatório para mim, para os moradores da casa e para a Nat, e eu não podia deixar de agradecer todos eles pela paciência, pelas ideias, pela disponibilização do espaço e pelo tempo que passamos juntos conversando, pintando, tomando um café e bolando as ideias. Valeu demais Sofia, Denize, Andreia, Willy, Nat, e todo mundo que passou para dar uma força.

É vida que segue!!

Ano Novo – Vida Nova

Nada melhor do que começar o ano com novos projetos em mente, circular velhas ideias, associar novos planos e tentar transformar tudo isso em algo produtivo. Apesar de ser graduado em Artes Visuais, tenho dúvidas sobre o quanto eu me dedicaria para viver nesse meio, por isso fico buscando outras formas de gerar renda, e tenho quase certeza de que eu não compraria esse estilo de vida correndo atrás de editais, participando de exposições e tentando sobreviver à esse mundo muito perverso do Circuito de Arte.

Gosto muito de produzir, gosto do trabalho, do esforço, de um stencil bem cortado, uma matriz de xilogravura bem cavucada, do processo litográfico, serigráfico, gosto de colar cartazes, perambular pela cidade descobrindo pontos para expor meu trabalho, reparar no que está exposto também. Minha relação com a arte é isso: produzir, expor, perceber. A partir disso conheci muitas pessoas, muitas imagens, muitas ideias, compartilhei experiências, oficinas, técnicas, e me agrada o lugar onde me encontro hoje. Não almejo sucesso, fama, riqueza, reconhecimento. Não quero nada disso. Quero fazer o que gosto de fazer, e tocar minha vida a partir disso.

Em 2018, decidi colocar em prática essa ideia. Vou fazer o que eu gosto de fazer. Como assim? Através deste blog, vou narrar todos os meus processos, todas as minhas dificuldades, vou compartilhar cada momento dessa minha nova vida profissional, regada de ideias e planos.

Em 2018 colocarei em prática minha ideia de ser autônomo no serviço de Bike-Courier. Desde 2008 que eu pedalo “todo santo dia”, carregava muito peso na bicicleta na época da faculdade, e atravessava a cidade para poder estudar. Agora é a hora de começar a fazer convênios e transformar esse serviço em realidade. Já andei fazendo algumas entregas de forma autônoma, e atualmente estou fazendo entregas para Uber Eats, mas isso ainda não me dá ganhos o suficiente para manter meus gastos. Criei uma planilha para agendamento de serviços de entregas, que pode ser preenchida no menu. Após preencher a planilha, eu entrarei em contato com o orçamento. Os preços que eu imaginei variam por localidade. A ideia é cobrar uma taxa de R$5,00 para buscar a encomenda e uma taxa variável por cada quilômetro desde o ponto de recolhimento até o destino.

Outro projeto relacionado à bicicleta é a questão das viagens, ou ciclo-turismo, ou ciclo-viagens, ou bikepacking. Apesar de pedalar há muitos anos, foi na passagem de ano de 2017 para 2018 que eu tive minhas primeiras experiências na estrada. Trajeto de 62km em direção à Serra do Cipó. É indescritível a sensação de se locomover entre cidades utilizando o movimento do corpo. Ora você se cansa, ora você descansa, mas no final de várias horas de pedalada, você já está bem firme em seguir em frente, sem medos ou receios. Minha ideia é publicar também minhas experiências nas estradas.

Sobre a arte, meus planos são produzir mais, postar sobre minhas técnicas, meus processos, e mostrar a finalidade de cada peça que eu produzo. Além de gravuras, eu possuo uma produção de pinturas em telas, e de estamparia. As estampas foram os trabalhos que eu tentei me dedicar mais nos últimos anos, pois camisas são mais fáceis de vender que quadros ou telas. Meus investimentos nessa área vão crescer, e espero conseguir escrever sobre tudo aqui.

Um amigo, Daniel de Carvalho, criou uma identidade visual para La Idea, e eu preciso retomar com ele esse processo. As logos criadas por ele estarão na loja online e neste blog, além de toda peça publicitária para divulgar meus serviços.

Eu tenho várias ideias de estampas, posters e adesivos que precisam ser colocadas em prática. Muita coisa foi feita e está armazenada no computador, esperando o dia em que se tornarão físicas.

Enfim, está inaugurado oficialmente este blog. Espero que tudo dê certo.