Vídeos sobre processos

Olar pessoal. Andei gravando e editando alguns vídeos mostrando o processo de impressão de estampas em serigrafia. São vídeos gravados, em sua maioria, em time-lapse, com edições bem cruas. A ideia é depois fazer uns vídeos mais explicativos, mas ainda preciso aprender a trabalhar com essas novas mídias.

O primeiro vídeo foi do processo de impressão em duas cores do poster “La Idea/Puro Borde”, com as cores preta e branca na camisa amarela. Minha companhia no trabalho foi da @nataliaumm e o vídeo pode ser conferido abaixo. A trilha sonora ficou por conta da banda Deez Nuts, tocando “Fight For Your Rights” da lendária Beastie Boys.

A camisa pode ser comprada através da Loja Virtual

 

O segundo vídeo é o processo de impressão na camisa preta, com tinta branca, na frente e nas costas da camisa. A tinta de cor clara em superfície escura precisa receber várias mãos de tinta para que o branco fique branco. Nesse caso, após a passada da camada de tinta, aproximamos o soprador térmico para secagem instantânea da tinta, e assim receber outra camada de branco. Nesse processo, eu e @_marcoscortez produzimos as camisas do Estúdio de Tatuagem Skins, de Conselheiro Lafaiete. A trilha sonora é do Freddy Madball, com as músicas “The New Black” e “Y que?”.

 

 

Tentarei sempre criar vídeos dos processos de produção. Se houver algo que você queira ver, me dá ideia pelos comentários.

Seção de Livros

Passando para avisar que está inaugurada a seção de Livros e publicações na loja online.

Será um espaço para comercializar algumas obras literárias de amigos e algumas publicações que pretendo fazer em breve. O “Catálogo de spray para daltônicos” e “Teste Ishihara” são duas publicações/livro de artista/provocação que eu fiz uma cópias há alguns anos e estou com vontade de produzir mais. Será uma ótima oportunidade para fazê-lo.

Na seção de Livros, o primeiro título disponível é o livro gerado a partir da Tese do xBarrãox, grande amigo meu, companheiro de décadas, nonsxe.

As informações técnicas seguem abaixo e o livro pode ser adquirido pela loja online.

photo_2019-12-17_17-54-49

Título: No intuito de produzir influência educativa – Educação moral, polícia de costumes e prostituição feminina em Belo Horizonte (décadas de 1920 e 1930)

Autor: Lucas Carvalho De Aguiar Pereira

Editora: Letramento

Páginas: 208

Publicação: 2019

Descrição do produto:

A obra explora um período em que a importância dada ao problema da prostituição pela polícia e por grupos sociais distintos ganhou outras dimensões, concorrendo para a organização de uma polícia de costumes e para a criação da Delegacia de Fiscalização de Costumes e Jogos. Esta instância policial elaborou prescrições para a prostituição, que se transformaram em uma espécie de projeto pedagógico. Assim, o problema do livro foi desenvolvido em três capítulos, nos quais analisa-se: o processo de legitimação das propostas de intervenção da polícia na prática da prostituição feminina, sob o ponto de vista da educação moral; as práticas de policiamento, que estiveram ligadas diretamente a esse processo, como as prisões correcionais, as medidas de vigilância e a admoestação; e as estratégias de racionalização e especialização da polícia civil, criando projetos de formação intelectual dos policiais.

Sobre o autor:

Lucas Carvalho De Aguiar Pereira é licenciado em História pela UFMG, mestre em educação pela UFMG e doutor em História Social pela UFRJ. É professor do IFMG Campus Betim. Dedica-se a pesquisas relacionadas às questões de gênero, educação dos corpos e das sensibilidades, modernidade, prostituição, subjetividade, instituição policial e mundos do trabalho.

Sobre vídeos

Ultimamente ando me arriscando na produção de vídeos. São tutoriais, processos, fragmentos de rolés, algumas aulas… Tudo será disponibilizado no canal do Youtube e no IGTV.

É uma ótima forma de registro do processo de trabalho, pois ver o produto sem saber por tudo o que passou antes de se tornar aquilo se perde um pouco da experiência.

O primeiro vídeo é um processo de corte e pintura de um stencil de 4 camadas. Foi todo filmado em Time-Lapse.

 

O segundo vídeo postado são de fragmentos de rolés, com cenas tomadas entre 2012 e 2019, em diversas cidades. São pequenos trechos de colagem de cartazes lambe-lambe e de stickers.

 

No canal do Youtube seguirei postando vídeos, tem muito material guardado aqui, que eu filmei há muitos anos e não sabia o que fazer com isso. Também estou me arriscando na edição, não conheço muito, mas estou fazendo o que posso.

Mais planos

Chegando na reta final de apresentação do TCC, prestes a me formar em Licenciatura em Artes Visuais, o planejamento para os próximos meses começa a maquinar na minha cabeça. Eu já estava pensando em algumas mudanças na estrutura e mobiliário do meu atelier, com a finalidade de liberar espaço para adquirir novos equipamentos e aproveitar melhor o espaço ocioso em alguns lugares.

Começando pela cozinha, necessito urgentemente de um armário ou despensa para guardar utensílios domésticos e mantimentos. Já estamos olhando isso e é capaz da gente adquirir algo barato, para quebrar o galho até conseguirmos uma estrutura melhor. Também é necessário equipar o espaço para a produção de chocolates e bombons, comprar um aparador mais alto para a coluna agradecer no final do dia.

A sala de serigrafia também será alterada. Preciso contratar um serralheiro para criar uma estrutura de apoio para as telas de serigrafia ficarem guardadas suspensas. Também uma estrutura para apoiar as telas de maneira horizontal para secar emulsão no escuro. A ideia é, também, investir em uma mesa de luz a vácuo para gravar as telas, eliminando a utilização de livros como peso, e até para gerar uma gravação mais precisa também. Além disso, adquirir mais dois berços de impressão de estampas e uma mesa mais extensa, para colocar as telas descansando enquanto imprime outras cores. Talvez essas mudanças serão o investimento mais alto no atelier, mas que, no final, vai valer muito a pena.

Na sala principal, a ideia é adquirir mais módulos de estantes para guardar o restante dos livros e mais algumas outras miudezas que estão sem espaço. O móvel da sala também será eliminado, pois não aguentou o peso dos discos de vinil e da televisão e cedeu em diversas partes. Ainda precisamos estudar as possibilidades nesse local.

No quarto de produção, preciso de mais módulos para guardar materiais, ou alguma estrutura tipo mapoteca de gavetas que suporte papéis e matrizes. Atualmente eu uso uma cômoda, que está comigo há mais de 15 anos, e recentemente ela também não aguentou o peso dos papéis, cedendo em diversas partes. A ideia da mapoteca é justamente comprar uma que suporte o peso, e que suporte papéis de grandes formatos, tipo A2, pois eu não tenho onde guardá-los. Também é necessário colocar uma mesa de vidro ou tábua de corte em cima da mesa de trabalho, para esticar tinta de gravura e cortar stencil. Também há a possibilidade de cortar stencil em algum suporte portátil, mas este precisa ser grande, pois estou com projetos megalomaníacos para produzir. Também é necessário a compra de cadeiras e bancos, preferencialmente dobráveis, que possam ser guardados. Há a necessidade, também, de pendurar os quadros nas paredes que não possuem infiltrações (tomando todo cuidado para não mofar os quadros), e construir suportes para os rolinhos de borracha e, assim, liberar os cabideiros para roupas, bolsas e aventais.

Na parte externa, necessito pintar o muro, e já estou olhando isso com alguns amigs para fazer um mural coletivo. Também, colocar plantas para aproveitar a área externa, bem como bancos , caso alguém queira situar-se por lá. Na área externa, também colocarei um tanque para lavar telas, já estou vendo isso com um amigo, e quando instalado, poderei limpar o chão, que anda encardido de tinta, emulsão e químico de serigrafia.

Para finalizar essa parte de reformas, preciso terminar a pintura das portas e janelas, iniciadas ano passado, e que foram descontinuadas. Também, pintar com stencil a parte interna para decorar o espaço, alguns padrões de tom sobre tom, estou estudando ainda como farei, mas acho que vai rolar.

Tudo isso, porque estou com muitos planos de produção e de aulas e quanto mais eu puder investir no espaço, mais eu boto fé que trabalharei. Eu gosto de fazer o que faço, e acho que isso tudo vai ajudar a dar um gás nas minhas ideias.

A Loja Online anda um pouco parada, mas em breve eu volto a colocar novidades.

Sobre o futuro

Uma das coisas que mais tem me incomodado nesses últimos dias é o fato de tentar compreender a minha total falta de interesse em seguir a carreira de professor. Já são vários anos trabalhando com educação não-formal, e desde o ano passado que estou no processo de me formar em licenciatura em artes visuais. E neste exato momento, penso que irei concluir apenas pelo fato de que eu devo terminar o que comecei, pois não tenho mais vontade de ser professor. Calma, não que eu queira parar de compartilhar minhas experiências, assim como o faço em programas, projetos sociais e em meu próprio atelier, mas me dá um certo pânico pensar no ambiente escolar, e como minha saúde fica debilitada ao tentar lidar com isso. Recentemente, em um momento de tensão, minha voz falhou dentro da sala de aula, enquanto tentávamos reprogramar 8 horas de oficinas, em um período de apenas 2 horas, pois a diretora da escola havia se esquecido que iríamos trabalhar naquela semana. Suei muito, e o desespero em tentar fazer as coisas de forma corrida não me deixaram trabalhar. Minha voz falhou, e por mais água que eu tomasse, já era tarde demais. Foram quase 2 dias sem conseguir emitir um som, e você não tem ideia do quanto eu queria falar. Algumas amigas ficaram preocupadas com a minha situação, e hoje eu fico lembrando que a minha voz também deixou de sair durante quase 2 semanas, neste mesmo ano de 2019.

Alguns fatores como stress, o desequilíbrio emocional/psicológico, afetam diretamente as cordas vocais, e eu não consigo desvincular parte dessa culpa ao processo educacional que eu tenho refletido por causa do meu TCC. Me causa um certo desespero pensar que eu, como um futuro professor da educação básica, terei que lidar com várias frustrações decorrentes do cotidiano escolar. Falta de estrutura, falta de materiais, falta de interesse, ser questionado pela instituição, por pais, por alunos, e por colegas de trabalho, carga horária de trabalho muito intensa, e compreender muito mais fatores negativos que positivos em todo esse sistema. Eu não quero buscar pequenas vitórias para me sentir satisfeito com meu trabalho, nem me dedicar a algo que traga essa carga de stress, que me fará gastar muito mais com terapias e tratamentos psicológicos, que com minha saúde preventiva.

Escrevendo meu TCC, começo a entender que a educação não-formal, apesar de insegura em termos financeiros, pois nem sempre há demanda, é algo que me traz satisfação. Um profissional precisa ter autonomia de trabalho, precisa ter liberdade de atuação. Somente assim se consegue desenvolver a ideia de uma educação que faça sentido.

A carga de pressão causada pelo ambiente escolar é algo que me desagrada, e eu realmente penso que ninguém deveria trabalhar nessas condições, ninguém.

Livros Usados

Já viram que está rolando uma seção de livros usados na Loja Virtual? Clique no link abaixo e veja as opções. Em breve eu vou atualizar com novas opções!!

 

https://laidea.minestore.com.br/categorias/livros-usados

 

site_livros

Existe vida além do shopping

photo_2019-09-02_08-50-23

A enfermeira Fulana trocou o cinema pelo Netflix e cortou shows e teatro da rotina. Beltrana deixou de passear com os filhos em shoppings para ir a praças e parques públicos levando o próprio lanche.

Este trecho foi retirado do jornal “O Tempo” de 01/09, de uma matéria de capa que fala sobre crise financeira, cortas gastos e fazer bicos. Aparentemente nada de anormal na matéria, mas esse trecho em específico me fez repensar duas questões.

A primeira delas é “trocar o cinema e o teatro por Netflix”, como se ambos fossem exatamente a mesma coisa. No cinema (e eu digo bons cinemas, não esses de shoppings) você assiste a bons filmes, tem uma qualidade de som e imagem, ajuda a financiar filmes interessantes, muitas vezes independentes, que te fazem refletir sobre algo. Ao sair do cinema, você estará na rua, podem sentar-se em uma praça, conversar/debater sobre o filme, estreitar laços de amizade, ocupar o espaço urbano de uma maneira sadia. Ao sair do cinema, há milhões de outras programações gratuitas esperando público. No teatro a mesma coisa. Você colabora com grupos e artistas, com ideias, discussões, compreende o trabalho das várias pessoas envolvidas no processo da peça. Netflix é algo muito impessoal. Você assiste (há um pagamento também, porém mensal), geralmente compra algo em um desses aplicativos de comida (Rappi, iFood, UberEats, Glovo…), e logo depois vai dormir (ou fazer sexo, ou qualquer outra coisa). O que importa nessa minha fala é que tudo se repete, é sempre dentro de casa, local fechado, fazendo as mesmas coisas. A cidade é dominada por carros, enquanto deveria ser dominada por pessoas e atividades. E eu tenho minhas dúvidas se isso é realmente uma “economia”.

A segunda delas é o fato de que somente com uma crise financeira as pessoas descobrem que há uma vida urbana que vai além de shoppings centers e suas praças de alimentação e lojas. Ainda não consigo compreender a ideia de que as pessoas vão a esses lugares para passear, pois shoppings são locais de compra, tudo ali é pensado e planejado para que você compre. Praças e parques são locais de passeio, de descanso, de atividades ao ar livre, de encontros, de desfrute, de lazer. Eles foram feito e pensados para isso. São locais que quebram o caos e o cinza da cidade caótica, é onde você respira melhor, pode sentar-se e observar a movimentação da vida urbana. Belo Horizonte não é o lugar mais adequado para isso, eu sei, pois fora da Avenida do Contorno, a quantidade de praças e parques significativos é muito baixa. No bairro Padre Eustáquio, por exemplo, são consideradas praças uma rotatória e o estacionamento da igreja. Esses locais não possuem espaços verdes em abundância, nem locais satisfatórios para sentar e descansar, além de estarem situados em locais caóticos. Praças e parques significativos devem ocupar o espaço de um quarteirão, onde os moradores locais podem passear e descansar, podem exercitar-se, ler, observar, relaxar. Fugir desse caos que é BH. Você já parou para pensar se no seu bairro há praças ou parques que são significativos? Grandes e ocupados pelos moradores? Com áreas verdes, locais para sentar, gramado e arborizados?

Eu não culpo @s pais por levar os filhos para passear no shopping, afinal, tenho quase certeza que o bairro em que el@ mora não deve haver praças e nem parques. Eu até imagino el@ descendo para a garagem de seu prédio, entrando na SUV com os filhos, e dirigindo por BH buscando algum lugar em que ela consiga estacionar próximo a uma praça ou parque, para que os filhos possam se divertir. É difícil achar, sobretudo na área central, onde se concentram essas estruturas. “Espaços urbanos são perigosos, há muita gente, de diversas classes sociais, não há segurança, não há limpeza” dizem @s pais na minha imaginação, por isso el@ busca os shoppings. El@ paga um estacionamento e não existem flanelinhas. El@ desce do carro, caminha pelo estacionamento entre os carros, pois os estacionamentos não possuem locais seguros para pedestres (e aparentemente ninguém se incomoda com isso), e lá dentro há várias opções de vitrines para ver, filmes campeões de bilheteria, praça de alimentação com comida merda, ar condicionado, seguranças, e el@ realmente entende que aquele passeio é a melhor forma de entretenimento e lazer.

É uma lógica que eu não entendo.

photo_2019-09-02_09-10-55
La Plata, Argentina. Fotografia aérea
photo_2019-09-02_09-26-44
Belo Horizonte, Google Earth

La Plata é uma cidade em que, em teoria, serviu de base para o mapa urbano de Belo Horizonte. Uma coisa que me impressiona muito são as quantidades de áreas verdes e de regularidade viária que La Plata possui. Tenho dois amigos que fizeram intercâmbio lá e posso perguntar sobre a cidade para falar melhor posteriormente. Olhando do alto, Belo Horizonte possui pouquíssimos parques e praças, pois são coisas que, se feitas de forma significante, se destacam em meio ao cinza da área construída. A diferença é gritante. A área que corresponde ao bairro Padre Eustáquio nem demonstra sinal de que há algum espaço ali considerado praça ou parque. Onde estão as áreas verdes de BH? Esse processo de não haver espaços públicos de boa qualidade, amplos e acessíveis, talvez tenham feito com que os shoppings sejam mesmo os locais adequados para para passear. Há banheiros, chão regular, temperatura constante, locais para sentar-se, locais para comer… E Belo Horizonte se torna cada vez mais esse caos. Ninguém aguenta mais não. Transformaram em regra o que era para ser exceção. Enquanto seguir essa política urbana de construir praças em rotatórias, e fingir que há praças em estacionamentos de igrejas, a cidade seguirá essa masmorra. Dediquem 2  quarteirões em cada bairro para áreas verdes. Isso sim é qualidade de vida.

 

 

Adendo: BH se mostra carente de espaços públicos significativos, basta ver as ciclovias da cidade. Elas se tornam pistas de corrida e de caminhada. Não há espaços para a prática esportiva nos bairros.

Reflexões sobre a oficina no Memorial

No dia 27/07 eu fui convidado para propor uma oficina voltada para crianças no Memorial Minas Vale. Enviei duas propostas e a equipe do educativo curtiu a proposta de uma oficina de impressão de estêncil. Colocamos as diretrizes: média de idade entre 7 e 12 anos, público passante, estêncil com referências ao acervo do local, máximo de 15 pessoas na oficina para não tumultuar, oficina com 2 horas de duração. Tudo certo. Eu e minha esposa fomos ao Memorial fotografar algumas peças para usar de referência e tivemos várias surpresas. Não sei se é o meu preconceito com Museus e Galerias, ou com o Circuito da Pça da Liberdade, ou com as grandes empresas que dominam tudo, mas o local me impressionou bastante. Muitas obras sobre Minas Gerais, praticamente contando a história da Estado, tem pintura rupestre, objetos, maquetes, referências contemporâneas, literárias, tem coisa do Sebastião Salgado, sala multimídia… te confesso que me deu um certo pesar de não conhecer este espaço antes.

A oficina foi em um sábado e eu passei toda a sexta feira cortando estêncil para a oficina. A maior parte das matrizes foram sobre pinturas rupestres. Fiz também o mapa regional de Minas Gerais em três matrizes, fiz um de uma decoração do Memorial e outro de um objeto bem específico, mas que representa bastante MG.

Chegamos em ponto e começamos a arrumar a mesa. Alguns membros da equipe do educativo me auxiliaram durante o processo, bem como minha esposa, parte essencial da fluidez do trabalho.

photo_2019-08-02_08-58-42

Logo foram chegando o público do museu, e muitos já chegavam cedo para a oficina, para não perder lugar. A partir daí foram as duas horas mais curtas pelas quais eu já passei na minha vida. Chegavam e chegavam pessoas, traziam seus filhos, perguntavam coisas, pediam papel, eu e Natália, minha esposa, naquela correria de tentar atender todo mundo, explicar como funcionam as técnicas de impressão, como fazer com a tinta, etc. Nusga, quando vi já estava quase na hora de encerrar a oficina. Crianças e adultos de todas as idades acabaram fazendo a oficina. Isso mesmo, não se limitou à faixa entre 7 e 12 anos. Tinham crianças mais novas, adolescentes, jovens, adultos, muitos pais fazendo acompanhando filhos mais novos, sobrinhos e sobrinhas, muitas pessoas de outros estados passaram por ali, e eu pensando em quão rica pode ser uma experiência assim em uma manhã de sábado. Uma mãe presente me disse que gosta de ir fazer essas oficinas porque são os momentos em que ela consegue distrair do cansaço do dia a dia. Outro pai foi ajudar o filho, e o filho não gostou, então ele mesmo foi fazer a pintura/impressão dele. Vários familiares perguntando sobre os materiais, pois viram que são coisas simples de se fazer, e que, apesar da bagunça, entretém as crianças muito mais que um celular brilhando na cara delas. Algumas crianças se sujavam, pintavam com as mãos, outras eram mais sérias, queriam fazer algo esteticamente interessante, outras fizeram várias composições. Cabuloso. Muitas crianças vieram me agradecer ao final da oficina, e nisso eu me derreto. Adoro quando me agradecem por algo que eu compartilhei/ensinei/ajudei. Talvez seja o grau de satisfação que me eleva e me faz entender que estou na área certa, apesar dos pesares.

Enfim, só tenho a agradecer a todxs que participaram e ajudaram nesse rolé. Foi muito massa.

Reflexões sobre proposta de material didático

Sobre a minha proposta intitulada “Experimento Desapego Cubista Coletivo” que foi planejada no último semestre, surgiram-me algumas questões no decorrer da aplicação, e que irei tentar refletir um pouco sobre. A ideia inicial era criar uma roda de desenho de observação com a composição ao centro, em que o suporte, o material, o sensitivo e o ângulo de visão do observador/desenhista alterariam a todo tempo, fazendo com que o processo seja coletivo e completamente despreocupado com a questão estética, focando muito mais no processo de observação e de produção, que no resultado em si. Essa troca de materiais era feita sempre com um comando meu, que estava na posição de professor.

A proposta foi colocada em sala de aula no ambiente universitário e aplicada para meus colegas de curso que, e eu agora compreendo, são muito mais abertos à experimentações artísticas que pessoas de outros contextos. Eu utilizei restos de materiais e de papéis, e distribuí diferentes canetas, canetinhas, marcadores, giz, lápis, etc. para todos. A princípio correu tudo muito bem, apesar de ter ficado um pouco longo demais. Após o término da atividade, alguns colegas fizeram observações interessantes e que me fizeram mudar, um pouco, a forma de aplicação da proposta. Alguns me falaram para dar autonomia de comando para outras pessoas da roda, para encurtar o tempo da proposta, para compreender outras formas de aplicação, e para adaptar tudo isso a um ambiente escolar.

O resultado foi bem interessante, mas um pouco longe do que seria o resultado esperado na minha proposta inicial. Como eu tinha imaginado, depois de um tempo, os observadores deixaram de prestar atenção na composição para se concentrar no que já estava desenhado no papel, e como eles iriam intervir naquele suporte dali em diante. Isso não foi uma surpresa para mim. O que me intrigou foram os relatos em que muitos já não queriam mais desenhar naquele suporte porque, assim, estragaria/atrapalharia o que já estava desenhado. Essa parte me deixou um pouco confuso, mas também intrigado, pois o desapego ao resultado era uma parte importante da proposta. Concentrar-se no processo, no que poderia ser feito, em como intervir dali em diante, era uma prática que eu esperava como forma de imaginação, de criatividade e uma fuga da questão formal da arte, com todas suas técnicas e pragmatismos. E acho que isso aconteceu até certo ponto, mas perdeu-se em determinado momento. A estética formal venceu.

Na última quinta-feira, 27/06, fomos a uma escola da rede municipal para aplicar, em um contexto escolar, as nossas propostas. Algumas dificuldades surgiram bem de imediato, como a quantidade de alunos, o formato/tamanho da sala e as carteiras. Foi completamente diferente trabalhar com 16 alunos universitários, estudantes de licenciatura em artes, e com 30 jovens da 8ª série. Por mais que eles foram bem receptivos comigo, com a proposta que eu levei e com meus colegas que estavam lá para me dar um suporte, conseguir uma organização foi complicado, sobretudo depois do recreio. A sala possuía um formato retangular, era estreita e a organização circular dos alunos ficou um pouco estranha. As carteiras ficaram grandes demais para esse círculo e, em certo ponto, atrapalharam a dinâmica da proposta. Foram distribuídos papéis aleatórios, marcadores, canetinhas, giz de cera e foi feita uma composição improvisada no centro da sala. Os alunos compreenderam bem a proposta, e estavam observando a composição enquanto desenhavam. A cada comando de troca de suporte, haviam gozações sobre os desenhos de outros colegas, e eu a todo tempo tentava lembrá-los que beleza é subjetiva, que depende de cada um, e que a beleza estética não era uma preocupação que devíamos ter ali, naquele momento.

Alguns compreenderam e seguiram fazendo a proposta, mas grande parte estava mais preocupada em encontrar “defeitos” no desenho alheio que realizar a proposta em si. Não que tenha sido frustrante, mas eu realmente esperava outra coisa. A questão de desenhar “bem” ou “mal” nunca me importou, e isso não faz parte das propostas que eu coloco nas oficinas que eu dou. Cada um desenvolve o desenho à sua maneira, e é isso que cria o seu estilo. É isso que cria a diversidade de traços, a diversidade de olhares e, para mim, é o que torna a arte interessante. Não me importo com rigor técnico em aulas de artes.

Em determinado momento, eu pedia para os observadores trocarem de lugar, para mudar um pouco o ângulo de visão, o ponto de vista. Foi nesse quesito que eu acho que as carteiras atrapalharam um pouco, pois com elas em círculos atrapalhavam a entrada e saída. Pode ter sido bom o fato de esse ter sido o tempo de descanso e de relaxamento entre eles, pois afastavam um pouco da proposta naquele trânsito caótico entre corpos, e isso é uma questão que eu ainda preciso pensar mais. Quase chegando na metade, eu nomeei um dos alunos para dar os comandos, e eles foram revezando entre si para dar 3 ou 4 comandos sobre a mudança de suporte e de material. Essa parte foi de total autonomia. Eles decidiam qual o comando, o tempo de permanência em cada comando, e quem seria o próximo a comandar. Achei bem interessante o fato de que não houve brigas e discussões nesse momento, e eles aceitavam numa boa o que o colega propunha.

Ao final da atividade, conversamos brevemente sobre o resultado, alguns ficaram com os desenhos, outros me devolveram. Os que ficaram, pegaram o suporte que eles mesmos iniciaram o desenho. Naquele momento já haviam várias intervenções e quase não dá para distinguir quem desenhou o que. Para eles, o que eles começaram era propriedade deles. Independente se outros interviram ali. O resultado do processo foi importante para eles. Talvez muito mais que o processo, que o desenvolvimento. E eu ainda preciso repensar a minha proposta para chegar a esse desapego. Acho que não consegui com nenhuma das duas aplicações. Ainda estamos presos ao formalismo técnico, à uma hierarquia estética. Mas fico feliz que tenha sido bem recebida por todos.

As fotos dos universitários e dos alunos do fundamental estão misturadas.

Tipo, tipo, tipo Colômbia. 10 horas em Bogotá.

Bogotá, capital colombiana, é um lugar que me surpreendeu muito. Passei menos de 10 horas na cidade, e só pude observar o caminho do Transmilênio do Aeroporto até La Candelaria, e um rápido passeio caminhando por este bairro que é o Centro Histórico. Uma coisa me surpreendeu logo de cara em Bogotá: a quantidade de ciclistas. Tem muita bicicleta em Bogotá, tem um sistema de ciclovias bem extenso, e é um daqueles rolés que você se apaixona à primeira vista e solta aquela famosa expressão “Eu moraria aqui numa boa!”.

Chegando no La Candelaria, ficamos rodando meio que sem rumo. Um bairro bonito, com arquitetura bem classicona, muuuuita arte urbana, muita gente nas ruas, muitos ciclistas, um trânsito meio intenso. Este bairro é muito colorido, ele é vivo e me pareceu um local interessante para colocar alguns stickers, para marcar minha passagem por lá.

Nos deu vontade de circular mais, conhecer outros lugares, subir o Cerro de Montserrat, mas tínhamos pouco dinheiro, precisávamos voltar ao aeroporto, e caminhando pelas ruas todo o tempo confundíamos passeio com a rua, por isso quase fomos atropelados por um ônibus. Foi um passeio muito curto. Basicamente conhecemos a vista do trajeto do Transmilênio, um pouco do bairro La Candelaria, e alguns poucos lugares de comidas típicas. Acho que vale um retorno à Bogotá para entender como funciona a cidade e ver realmente o que a cidade tem para oferecer.

¡Hasta Luego Bogotá! Nos vemos pronto!

Feira do Núcleo paNe!!

Olá amigxs, bom dia.

Dia 27/04, das 13h as 20h, eu participarei de uma Feira de Impressos na Usina da Cultura, no Centro Cultural Nordeste (Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga). Será um dia cheio de atividades, com uma programação bem massa. Parte dos organizadores, também eram produtores do Mercado Faísca, que eu expus durante muito tempo, então pode ter certeza que o evento será fino.

Clique aqui para visualizar a página do evento no Facebook.

57618445_1005115553015098_3279137926256001024_n

 

Aguardo vocês lá!!

A vida é desafio, já dizia Racionais…

Desde 2009 que eu trabalho com oficinas de arte, mas o trabalho com crianças, jovens e adolescentes é mais recente. Esse tipo de trabalho tem me dado um pouco de ansiedade em seu formato, pois são muitas dúvidas que eu tenho sobre minha atuação, e sobre os jovens que estudam comigo em alguns projetos.

Eu me considero uma pessoa paciente com a maioria das coisas. Acho que muitos processos possuem tempo certo para acontecer, e que tentar acelerar só o transformará em algo ruim, ou não prazeroso. Ter que fazer algo por obrigação torna o processo difícil, e saber que tudo o que você faz será julgado por terceiros também dificulta o processo. Na maioria das coisas que eu faço, tento fazer com tempo e paciência, para conseguir um resultado satisfatório.

Se eu colocar na minha cabeça que eu quero pedalar durante 6 horas seguidas, ou conquistar algum desafio do Strava, por exemplo, eu me preparo para isso, e dedico algum tempo para lograr com meus objetivos. Nem sempre consigo. Há fatores que às vezes me impedem de conseguir pedalar o quanto almejo. Problemas mecânicos, clima, preparo físico, acidentes… Mas não é por falta de paciência, e se não consigo eu entendo que eu me esforcei.

Na arte a mesma coisa. Posso passar horas, dias, semanas e meses trabalhando em uma única coisa, praticando, treinando, buscando alternativas para fazer um único trabalho, tudo feito de forma paciente, pensada, buscando um resultado que seja satisfatório para mim. Às vezes me dá uma agonia precisar criar uma estampa, por exemplo, e saber que ela ficará pronta só depois de algum tempo.

Eu me dedico. Eu pratico, eu treino, e busco aprender o que eu ainda não domino (se é que as técnicas podem ser dominadas). Acho que aí se encontra minha maior dificuldade como professor, educador, oficineiro. Para a maioria dos meus alunos, em apenas uma tarde de aulas eles já deveriam aprender tudo que é possível dentro de um técnica, já sair desenhando e pintando super bem, caprichado. Não se importam com o processo, com o treino, com a prática, com os estudos. Tudo deveria ser imediato. Eu tento pedir paciência, conto histórias sobre o meu processo, começando quando eu era bem novo, copiando com papel carbono os personagens de Cavaleiros do Zodíaco que estavam impressos em revistinhas. Demorou muito tempo até que eu conseguisse desenhar sem copiar. Demorou mais tempo ainda até que eu entendesse que isso é uma coisa que gosto, e que eu gostaria de aprender e compartilhar o conhecimento adquirido. Eu já devia ter meus 23 anos quando decidi cursar artes, mesmo sem saber desenhar. Na Universidade me sentia meio reprimido por estar ao lado de pessoas super talentosas, e eu nem chegava perto de ter habilidades como as de meus colegas.

Eu gostava do processo de produzir, mas não gostava de planejar, nem de criar. Sempre achava que eu estava aquém de todo mundo. Mas o fato de começar a ensinar me deu outra visão sobre tudo isso. Aprendi na marra que o processo é lento, e que devemos ser pacientes. Nunca tive a oportunidade de fazer um curso de desenho antes, meu olho não era treinado para isso, e só depois dos 27 que eu passei a compreender isso melhor.

A prática, o treino, o estudo e, principalmente, a paciência faz com que a gente consiga chegar onde queremos. Isso eu entendo perfeitamente bem. Mas eu ainda questiono como fazer com que xs jovens entendam isso? Tudo tem que ser imediato, tem que ser preciso. Eu realmente não sei como trabalhar isso com elxs. Recentemente eu proibi xs jovens de uma oficina minha de usar borracha, pois eles desmanchavam tudo o tempo todo. Ensinei a fazer esboços, planejar o desenho, ir tratando, fazendo acabamento e arrumando aos poucos, até conseguir chegar no resultado final. Foi uma oficina interessante. Elxs estavam aflitos por não poderem usar borracha, estavam ansiosos por causa da imagem toda embolada e rabiscada. Mas ficaram surpresos com o resultado final, acabado, limpo. Quando fui perguntar à elxs se eles gostaram, se foi interessante ter paciência e construir o desenho aos poucos, elxs me disseram que se tivessem borracha eles teriam feito igual, e de forma mais rápida. Eu sei que elxs não fariam igual, mas elxs não sabem disso. Independente do resultado, o processo delxs é rápido, curto, e talvez essa velocidade em fazer e desmanchar seja mais importante que o resultado final.

photo_2019-03-16_13-13-44
Desenhando rostos

Pensei em fazer alguns trabalhos de desenho de forma mais livre e desapegada, mas eu ainda preciso encontrar uma maneira de fazê-los desapegar dessa coisa realista, desenho e borracha o tempo todo. Fico pensando em várias práticas que fizemos no ambiente Universitário de uma Escola de Artes, e fico pensando se daria certo. Afinal, em uma Escola de Artes, a maioria ali está disposto à esse tipo de experimentação, de reflexão e de discussão. Não sei se os jovens com quem eu trabalho teriam essa disposição de experimentar, de desapegar do desenho tradicional/clássico para surfar em outras ondas. Não sei se o espaço onde trabalhamos seria receptível à isso, pois na Universidade de Artes a maioria dos espaços são de experimentação e provocação. Dentro de uma comunidade, por exemplo, a moral e os costumes estão ligados à outros processos que não se abrem tanto para experimentações.

Ainda que a letra da música tenha pouco a ver com esse dilema onde me encontro, o título é bem propício: A Vida é desafio.