Sobre a minha proposta intitulada “Experimento Desapego Cubista Coletivo” que foi planejada no último semestre, surgiram-me algumas questões no decorrer da aplicação, e que irei tentar refletir um pouco sobre. A ideia inicial era criar uma roda de desenho de observação com a composição ao centro, em que o suporte, o material, o sensitivo e o ângulo de visão do observador/desenhista alterariam a todo tempo, fazendo com que o processo seja coletivo e completamente despreocupado com a questão estética, focando muito mais no processo de observação e de produção, que no resultado em si. Essa troca de materiais era feita sempre com um comando meu, que estava na posição de professor.
A proposta foi colocada em sala de aula no ambiente universitário e aplicada para meus colegas de curso que, e eu agora compreendo, são muito mais abertos à experimentações artísticas que pessoas de outros contextos. Eu utilizei restos de materiais e de papéis, e distribuí diferentes canetas, canetinhas, marcadores, giz, lápis, etc. para todos. A princípio correu tudo muito bem, apesar de ter ficado um pouco longo demais. Após o término da atividade, alguns colegas fizeram observações interessantes e que me fizeram mudar, um pouco, a forma de aplicação da proposta. Alguns me falaram para dar autonomia de comando para outras pessoas da roda, para encurtar o tempo da proposta, para compreender outras formas de aplicação, e para adaptar tudo isso a um ambiente escolar.
O resultado foi bem interessante, mas um pouco longe do que seria o resultado esperado na minha proposta inicial. Como eu tinha imaginado, depois de um tempo, os observadores deixaram de prestar atenção na composição para se concentrar no que já estava desenhado no papel, e como eles iriam intervir naquele suporte dali em diante. Isso não foi uma surpresa para mim. O que me intrigou foram os relatos em que muitos já não queriam mais desenhar naquele suporte porque, assim, estragaria/atrapalharia o que já estava desenhado. Essa parte me deixou um pouco confuso, mas também intrigado, pois o desapego ao resultado era uma parte importante da proposta. Concentrar-se no processo, no que poderia ser feito, em como intervir dali em diante, era uma prática que eu esperava como forma de imaginação, de criatividade e uma fuga da questão formal da arte, com todas suas técnicas e pragmatismos. E acho que isso aconteceu até certo ponto, mas perdeu-se em determinado momento. A estética formal venceu.
Na última quinta-feira, 27/06, fomos a uma escola da rede municipal para aplicar, em um contexto escolar, as nossas propostas. Algumas dificuldades surgiram bem de imediato, como a quantidade de alunos, o formato/tamanho da sala e as carteiras. Foi completamente diferente trabalhar com 16 alunos universitários, estudantes de licenciatura em artes, e com 30 jovens da 8ª série. Por mais que eles foram bem receptivos comigo, com a proposta que eu levei e com meus colegas que estavam lá para me dar um suporte, conseguir uma organização foi complicado, sobretudo depois do recreio. A sala possuía um formato retangular, era estreita e a organização circular dos alunos ficou um pouco estranha. As carteiras ficaram grandes demais para esse círculo e, em certo ponto, atrapalharam a dinâmica da proposta. Foram distribuídos papéis aleatórios, marcadores, canetinhas, giz de cera e foi feita uma composição improvisada no centro da sala. Os alunos compreenderam bem a proposta, e estavam observando a composição enquanto desenhavam. A cada comando de troca de suporte, haviam gozações sobre os desenhos de outros colegas, e eu a todo tempo tentava lembrá-los que beleza é subjetiva, que depende de cada um, e que a beleza estética não era uma preocupação que devíamos ter ali, naquele momento.
Alguns compreenderam e seguiram fazendo a proposta, mas grande parte estava mais preocupada em encontrar “defeitos” no desenho alheio que realizar a proposta em si. Não que tenha sido frustrante, mas eu realmente esperava outra coisa. A questão de desenhar “bem” ou “mal” nunca me importou, e isso não faz parte das propostas que eu coloco nas oficinas que eu dou. Cada um desenvolve o desenho à sua maneira, e é isso que cria o seu estilo. É isso que cria a diversidade de traços, a diversidade de olhares e, para mim, é o que torna a arte interessante. Não me importo com rigor técnico em aulas de artes.
Em determinado momento, eu pedia para os observadores trocarem de lugar, para mudar um pouco o ângulo de visão, o ponto de vista. Foi nesse quesito que eu acho que as carteiras atrapalharam um pouco, pois com elas em círculos atrapalhavam a entrada e saída. Pode ter sido bom o fato de esse ter sido o tempo de descanso e de relaxamento entre eles, pois afastavam um pouco da proposta naquele trânsito caótico entre corpos, e isso é uma questão que eu ainda preciso pensar mais. Quase chegando na metade, eu nomeei um dos alunos para dar os comandos, e eles foram revezando entre si para dar 3 ou 4 comandos sobre a mudança de suporte e de material. Essa parte foi de total autonomia. Eles decidiam qual o comando, o tempo de permanência em cada comando, e quem seria o próximo a comandar. Achei bem interessante o fato de que não houve brigas e discussões nesse momento, e eles aceitavam numa boa o que o colega propunha.
Ao final da atividade, conversamos brevemente sobre o resultado, alguns ficaram com os desenhos, outros me devolveram. Os que ficaram, pegaram o suporte que eles mesmos iniciaram o desenho. Naquele momento já haviam várias intervenções e quase não dá para distinguir quem desenhou o que. Para eles, o que eles começaram era propriedade deles. Independente se outros interviram ali. O resultado do processo foi importante para eles. Talvez muito mais que o processo, que o desenvolvimento. E eu ainda preciso repensar a minha proposta para chegar a esse desapego. Acho que não consegui com nenhuma das duas aplicações. Ainda estamos presos ao formalismo técnico, à uma hierarquia estética. Mas fico feliz que tenha sido bem recebida por todos.
As fotos dos universitários e dos alunos do fundamental estão misturadas.
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação
Processo de desenho de observação