Xilogravura, turma 1

Passadas 3 aulas com a primeira turma do Curso de Xilogravura, escrevo agora sobre tudo que rolou até agora.

O cronograma está sendo cumprido à risca, e acho que conseguimos ver muito material audiovisual, matrizes e gravuras impressas para ter uma pequena noção do mar de possibilidades existentes na técnica da xilo.

Na primeira aula, conversamos sobre o termo “xilogravura”, o que significa, e como se diferencia de outras técnicas de reprodução da imagem. Vimos vários vídeos sobre o processo, folheamos livros, vimos muuuuitas imagens, e iniciamos o processo de fabricação de Baren, ferramenta de impressão manual.

IMG_20180524_182550_153

Na segunda aula, seguimos no processo de construção do Baren, e iniciamos a marcação do desenho na matriz de linóleo. Foi uma aula um pouco menos cansativa, mas o pano escolhido para montar o Baren estava um pouco grosso, e não foi possível terminá-lo neste dia.

Finalmente, na terceira aula e com o pano certo, finalizamos o Baren, e já começamos a melhor parte, que é a de cavucar a superfície do linóleo para gravar a imagem. Agora sim o assunto ficou sério. Conversamos sobre segurança, sobre estilos, como amolar as ferramentas, qual a finalidade das diferentes ferramentas e como devemos manusear as matrizes durante o processo de gravação.

Em todos os dias de curso eu ofereço lanche vegano feitos pela Abarca Cattering, da minha amiga Dani, e tem dado ótimos resultados. Comida gostosa deixa as pessoas mais alegres e dispostas.

Nas próximas duas aulas já iniciaremos o processo de gravação em madeira e o de impressão. Ansioso para esse dia chegar e poder mostrar o resultado dos trabalhos.

20180524_170336

Sobre a técnica de estêncil

Estava dando uma olhada nos meus arquivos e me deparei com a foto do meu primeiro estêncil, feito em 2007. É uma estrela com as letras EZLN logo abaixo. Cortei esse estêncil para poder pintar uma camisa e ter, finalmente, a tão sonhada camisa do Movimento Zapatista. Depois da camisa, comecei a espalhar essa imagem por Belo Horizonte, e mal eu sabia onde que tudo isso iria chegar.

2509 024
Primeiro estêncil.

Minha curiosidade pela técnica foi muito além do que eu imaginaria. O ato de cortar uma placa de radiografia me dava tanto prazer, que eu tinha começado a cortar de tudo quanto é imagem. Alguns deles foram para as ruas, outros ficaram confinados às paredes do meu quarto (meu quarto era um caos imagético, todo mundo intervinha lá).

 

Nessa época, eu achava que já estava no auge da produção, tendo chegado ao limite e esgotado as possibilidade de exploração da técnica. Mero engano. Na internet circulavam várias fotografias de arte produzida com estêncil de um sujeito chamado Banksy. Este artista britânico, com suas obras irônicas e críticas à sociedade atual, me fez perceber que eu não estava nem próximo de um limite, quanto mais de um auge. Eram verdadeiras intervenções em diversos tamanhos, formatos e cores, com contraste, luz, sombra, detalhes. Me lembro de ficar caçando na internet cada vez mais imagens desses graffites, que me deixavam cada vez mais perplexo.

Acho que foi nessa época que eu comecei a perceber, também, os trabalhos do Cidadão Comum (Hoje, apenas Comum) pelas ruas de Belo Horizonte. Eram cartazes produzidos com estêncil, impressões em várias combinações de cores, rica em detalhes e sempre com a inscrição do autor em algum lugar da imagem.

Foi a partir daí que eu comecei a experimentar o uso de mais cores e alguns formatos maiores. Na época eu também não tinha acesso à tintas melhores, e usava sprays horríveis, desses de depósito de bairro. E isso não ajudava muito no processo. Não consegui encontrar muitas fotos de trabalhos assim, mas nessa época eu deixei de arriscar nos muros da cidade para estampar em camisas que eu vendia a preços simbólicos.

 

Nessa mesma época, comecei a arriscar a pintar as camisas com pincel a fim de complementar as estampas feitas com estêncil, colocar alguns detalhes, uma luz, algo que a deixasse mais artística. Isso deu tão certo, que culminou na melhorias das minhas habilidades com desenho, e foi quando ingressei na Escola Guignard, no curso de Artes Plásticas. Foi na faculdade que eu tive contato com esse mundo da arte, e é possível ver um salto nas questões técnica e estética das matrizes.

 

Comecei a ter mais cuidado com os detalhes, e a ter mais paciência na hora de produzir uma matriz. Testei outros suportes também, como discos de vinil e telas de pintura, e cada vez me davam ideias de tentar algo novo. Nessa mesma época comecei a produzir imagens com a finalidade comercial, fazia muitas coisas com temas de filmes, músicas, séries, temas políticos ou apenas decorativos. Com os discos de vinil, também era possível vendê-los na forma de relógios de parede.

 

Em 2012, após passar um semestre em Ciudad Juárez, México, e conviver com artistas de diversos coletivos (Rezizte, Puro Borde, Hunab Ku, CLVR…), foi quando eu finalmente compreendi a finalidade estético-política que se pode alcançar com o estêncil. O contexto em que vivíamos (Gastos desnecessários com Copa do Mundo e Olimpíadas, Despejos, Gentrificação, Manifestações…) fez com que “minha” criatividade (digo “minha” porque todo o resultado do meu trabalho a partir desta época foram frutos de ideias, discussões e eventos compartilhados e vividospor todxs que fazem/faziam parte da minha vida) borbulhasse, e eu passaria um bom tempo trabalhando em matrizes que foram o marco inicial do “La Idea” nas ruas.

Conduzido pelos cartazes do Rezizte, que retratavam a vida fronteiriça (US/MX), e pegando um gancho nos trabalhos do Comum, iniciou-se uma produção em larga escala de cartazes produzidos com estêncil. A primeira ideia foi fazer um menino jogando bola de chinelo, para mostrar que o futebol está além daquele que é vendido pela FIFA e pela mídia. Juntamente com a criança, estariam dizerem contra a Copa do Mundo. A segunda ideia foi pegar a fotografia que saiu na capa de um jornal do Rio de Janeiro, onde um indígena da Aldeia Maracanã olha para o céu, após sair a notícia que o Museu do Índio seria demolido para dar lugar a um estacionamento no Maracanã. A terceira ideia, e talvez o que seria a imagem mais conhecida do “La Idea” foi o rosto do El Marquéz, lutador de Lucha Libre, de Ciudad Juárez, e símbolo do Coletivo Puro Borde. Foi uma maneira de homenageá-los. Desta forma, a vida nas ruas começava a tomar forma. As matrizes eram feitas em diversas cores, eram bem chamativas, e possuíam tamanho A2.

 

Depois desses, vieram várias ideias de fazer cartazes sobre outros temáticas, e ainda ampliar a quantidade de lutadores. Essa insistência rendeu várias postagens nas redes sociais, e eu via uma resposta positiva quanto aos cartazes que eu produzia, afinal, eles começaram a ser requisitados para venda.

 

Faltam alguns trabalhos que eu não consegui achar fotos no caos virtual do HD, mas assim que eu der uma organizada, darei um jeito de colocar aqui.

Para terminar essa jornada no desenvolvimento da técnica, minha última empreitada no estêncil foi tentar reproduzir obras de arte, da maneira mais próxima possível. É claro que igual nunca ficará, mas eu tentei ser bem fiel ao original (imagem virtual).

10835234_897945193595889_1155534451273689951_o

Essa reprodução de uma obra de Hokusai foi minha primeira tentativa de cópia. É bem complicado tentar chegar em uma combinação de cores que seja plausível, mas a riqueza em detalhes me ensina que é preciso ter calma, paciência e precisão na hora de cortar um estêncil. Foram 9 matrizes em tamanho A3, 11 cores em spray e muitos minutos de trabalho minucioso. Eu fiquei bem satisfeito com o produto final, muitas pessoas compraram e acho que também curtiram bastante essa reprodução. Se não me engano, isso foi feito em 2014. De lá para cá, minha produção deu uma diminuída, mas em 2018 é algo que eu irei retomar. Acho que não estou nem perto de esgotar as possibilidades da técnica. Vejo trabalhos do ELK, da Austrália, ou do SHIT, aqui de BH mesmo, que estão ultrapassando vários limites, e chegando cada vez mais longe no desenvolvimento da técnica. Imagino que eles também tenham começado como eu, formas simples, letras, e na insistência e persistência conseguiram chegar onde estão hoje.

Vejo uma evolução tremenda em todas essas fotos que eu publiquei, e nunca imaginei onde eu poderia chegar. Continuo sem imaginar, e não vai ser agora que eu vou parar.

Quanto ganha UberEats de bike? e a minha experiência

Pedalar é uma atividade que faço com imenso prazer, seja por lazer, por profissão ou por esporte, e comigo não existe tempo ruim quando o assunto é bicicleta. Como muitos sabem, no fim de Dezembro do ano passado eu me inscrevi para fazer entregas para a UberEats, e logo na primeira semana de Janeiro eu iniciei as atividades. No início as expectativas eram ótimas, e eu tinha planos ótimos para conseguir uma grana extra, vários objetivos em mente e a certeza de que eu estava entrando em um bom negócio. Pena que isso durou pouco. Nas primeiras semanas, meu desespero era pelo fato de não existir muita demanda (e você vai entender minha lógica em breve), e vários entregadores passarem mais tempo parados que fazendo entregas, mas aos poucos eu fui entendendo como funciona o aplicativo em questão.

Quando o assunto é bicicleta, as coisas são um pouco mais burocráticas, e parece ser difícil fazer com que esse serviço funcione bem. Como funciona o UberEats? O cliente faz um pedido através do aplicativo e paga com o cartão de crédito, débito ou PayPal, tudo de forma online. O restaurante conveniado recebe o pedido, e o aplicativo busca entregadores para recolher o alimento e transportar para o cliente. Uma terceirização do processo de entrega. Até aí tudo parece normal. Mas, para o terror dos ciclistas, o aplicativo possui um filtro em que apenas entregas curtas (de até 3 ou 4km de distância entre o restaurante e o cliente) são repassadas para bicicleteiros. Ou seja, tem que ter muita boa vontade das pessoas de pedirem delivery em locais próximos à sua residência. Caso a distância seja maior, automaticamente a entrega vai para algum motociclista. Aí começa o primeiro problema para a bicicleta.

Como funciona o pagamento? O pagamento é feito semanalmente, toda quarta-feira o dinheiro ganhado na semana anterior cai na conta. De acordo com a Uber, cada entregador recebe pela viagem R$2,22 por retirar o pedido no restaurante + R$1,11 por entregar o pedido para o cliente + uma taxa variável de R$0,70 por quilômetro rodado com o pacote. Do valor da entrega, a Uber desconta 30% como “taxa da Uber” (ou 25% no caso de motoqueiros), sendo que o valor mínimo de cada entrega é de R$5,00 – Taxa da Uber. Ou seja, o mínimo que um entregador ciclista vai ganhar por entrega é de R$3,50. Para uma entrega curta, a Uber “completa” o valor da viagem para chegar aos R$5,00, e daí retirar sua taxa.

uber.jpg
Demonstrativo de ganhos com uma entrega

De início isso me pareceu interessante. Então, se eu fizer 15 entregas por noite, trabalhar por 5 noites, eu teria feito 75 entregas na semana, e isso renderia R$262,50 semanais ou R$1050,00 mensais. Estaria de bom tamanho para uma renda extra, pedalando 5 noites sem atrapalhar minhas atividades diárias. Mas não é bem isso que acontece.

O ponto de encontro da maioria dos ciclistas que eu conheço é na Praça da Savassi, em frente a loja da Oi. Local de muitos restaurantes e é onde acontece a maior demanda de entregas. O problema maior em relação à isso, é quando chega uma solicitação de retirar um pedido em bairros distantes, como Serra, Luxemburgo, Floresta, Gutierrez e não ganharmos um centavo a mais por esse deslocamento, já que a entrega, nesses casos, será bem curta uma vez que o restaurante fica próximo da residência do cliente. Além disso, conta-se ainda o deslocamento de volta para a Savassi, já que os locais de entrega das encomendas não possuem demandas para ciclistas. Ou seja, não há discernimento em valores quanto ao deslocamento do ciclista para retirar um pedido, e quanto ao retorno ao lugar de alta demanda. Além de receber os mesmos R$3,50, muito tempo é perdido na ida e na volta.

Quando eu comecei, não me importei muito com esses valores, pois tinha em mente que eu poderia pedalar muito para conseguir manter essa média de 75 entregas por semana. Mera ilusão. O aplicativo UberEats não possui muita demanda de entregas, e menor ainda é a demanda por entregas curtas, nesse caso, entregas feitas por ciclistas. Trabalhei durante muito tempo das 19h a 00h, e a diferença de entregas no decorrer dos dias é imensa. Sexta, sábado e domingo são os dias de maior demanda, que com muita sorte se chega a 10 entregas. Houve uma sexta que eu fiz entregas até as 2 da madrugada e conseguir completar 13 entregas. Mas isso é com muita sorte e muito tempo livre, além de uma bike boa, que aguenta os trancos, o peso e os morros. Nos outros dias da semana, a quantidade de entregas varia muito, mas nunca passa de 7. Às vezes você consegue 2 entregas, às vezes 5, algum dia dá sorte de ter poucos entregadores e chega a 7, mas nunca é uma quantidade que realmente valha a pena se dedicar. Tentei trabalhar algumas vezes na hora do almoço, mas a demanda é muito baixa (1 ou 2 entregas apenas), e o tempo parado esperando é enorme. Houve uma quinta-feira a noite que eu não fiz 1 entrega sequer, e você não imagina o tempo perdido, que eu poderia ter feito outras coisas… Em uma semana, o máximo de entregas que eu consegui fazer certa vez foram 36. Nem metade do que era o meu objetivo.

Além da baixa demanda para ciclistas, o tempo de espera em alguns lugares costuma ser longo. Uma vez o restaurante me deixou quase 40 minutos esperando pois a comida não ficava pronta. Além disso, muitos clientes, por privacidade e segurança, não colocam número do apartamento no aplicativo, e os entregadores são obrigados a se virarem para encontrar o local. Onde tem porteiros fica mais fácil achar, mas nem todo porteiro conhece as pessoas que moram ali. No aplicativo tem um chat que dá para avisar o cliente que você está na portaria esperando, mas os clientes também não respondem. A UberEats possui um suporte que os entregadores podem entrar em contato para avisar sobre esse tipo de situação, e o próprio Suporte liga para o cliente para avisar. E eu já passei por vários perrengues nesse sentido. Em três oportunidades o cliente colocou o endereço errado no aplicativo, e eu tive que me deslocar para outro local completamente diferente. A Uber não pagou 1 centavo por esse erro que me causou um deslocamento desnecessário, além do tempo em que eu poderia pegar outra entrega. Eu não sei bem como funciona esse reajuste de endereço, mas você faz a viagem para o endereço informado no aplicativo, depois faz outra viagem para o endereço novo, e nada disso é complementado em termos de dinheiro. Cansei de ir na Central da Uber reclamar esses míseros centavos, me dizem que será creditado no próximo ciclo de pagamentos, e eu sigo sem receber nada. Eu realmente não entendo como isso funciona.

Em uma entrega através do aplicativo, eu nunca consegui mais de R$4,00. A diferença entre uma viagem de 60 metros e uma de 3.32km é de apenas R$0,45, e eu comecei a tratar isso como uma forma de desrespeito. No início eu achava bem de boa a Uber completar os R$5,00, para toda entrega valer R$3,50, mas para conseguir ganhar mais que isso, pode desistir…

uber_395
Viagem de 3.32km
uber_60metros
Viagem de 60m

Além de tudo isso, fiquei comparando os ganhos de um ciclista com os ganhos de um motoqueiro. Outro dia um motociclista me mostrou seus ganhos semanais no aplicativo, e com alguns poucos dias de trabalho já beirava os R$300. Esse valor é bem próximo do tanto que um ciclista consegue no mês. E ele estava me falando que, apesar dos gastos com manutenção e gasolina, a demanda para moto é bem maior, pois circula em toda a cidade, e fazem entregas curtas, longas, médias. Além disso, a Uber fazia muitas promoções para motoqueiros ficarem online no aplicativo e ganhar R$40,00 por hora. Um ciclista custa para fazer R$35,00 em um dia de trabalho, ralando muito durante 6 ou 7 horas, e um motoqueiro ganha R$40 por hora conectado? Como é possível? Se não bastasse isso, havia um período de “Tarifa Dinâmica” em que o valor das entregas em determinada faixa de horário era multiplicado por 1.5, por 2, por 2.5. E isso fazia com que o trabalho valesse um pouco mais a pena. Isso aparece para muitos motociclistas e para muitos ciclistas. Eles me mostraram em seus aplicativos que havia um calendário com as datas das Tarifas Dinâmicas. Nunca apareceu para mim. Haviam ciclistas que só trabalhavam quando havia Tarifa Dinâmica, e em dias comuns nunca davam as caras. Sempre achei muito arbitrário isso. A UberEats também envia mensagens com “Promoções Relâmpagos” em que cada entrega em determinado dia e hora iriam valer 2x ou 3x o valor original dela. O problema é que se haverá Promoção Relâmpago das 18h as 19h, a mensagem chega no celular as 18:10h, e o deslocamento até a Savassi já gastaria mais uns 30 minutos, fazendo com que não valha a pena o esforço de participar. Apenas uma vez houve Promoção Relâmpago quando eu já estava trabalhando. Cada entrega valeria 3x o valor. Nesse período fiz apenas 1 entrega, e recebi os mesmos R$3,50, nada além disso.

Esse valor que a Uber paga ao entregador pelo serviço me intriga muito, pois o valor que o cliente paga pela entrega (frete no aplicativo) não significa que seja o valor que a Uber paga ao entregador (R$2,22 + R$1,11 + (R$0,70xkm). Em uma simulação simples, verifiquei quanto custaria o frete de um restaurante que está situado a 400m metros da minha residência, e eis que o frete cobrado em todas as minhas simulações de diferentes comidas e diferentes restaurantes possuem o valor mínimo de R$7,90. Ou seja, do valor que o cliente pagou pelo frete, R$2,90 são pelo “serviço” da UberEats. Dos R$5,00 restantes, a Uber retira sua “taxa” de 30%, restando apenas R$3,50 ao entregador. É menos da metade do valor do frete.

nino_ubereats
Simulação no aplicativo
nino_maps
Distância entre o restaurante e a minha casa

Enfim, poderia destacar aqui vários outros problemas em relação à isso: o aplicativo bloqueia entregadores que tiveram que cancelar pedidos orientados pelo suporte; alguns entregadores furtam lanches ou simplesmente não entregam; o aplicativo não entende que subir morro de bicicleta é um processo lento e isso faz com que o cliente ache que estamos atrasando a entrega… Por aí vai. A Uber não entende que o uso da bicicleta também gera gastos (alto desgaste de freios e cabos, revisão, pneus, desgaste de peças internas, suporte de celular, carregador reserva, mochila para entregas, pacote de dados do celular, alimentação) e muito desgaste físico, e segue sem dar valor algum para essa modalidade.

Outro ponto intrigante diz respeito ao discurso ecológico que envolve a utilização da bicicleta. Passei por algumas situações interessantes: um casal me parou na rua certa vez para elogiar o serviço de delivery feito por ciclistas; vários clientes agradeceram e elogiaram muito o serviço feito por ciclistas, incluindo a disposição em subir morros muito íngremes; e em 3 ocasiões o cliente me esperou na porta de sua residência com copo de água, mostrando muita empatia com o trabalho. Não é de hoje que a utilização da bicicleta carrega um discurso sustentável, e as empresas aproveitam esse recurso para chamar a atenção. Muitas pessoas que fazem pedido pela UberEats acreditam estar contribuindo com o meio ambiente, e pagam R$7,90 satisfatoriamente acreditando no trabalho do entregador. Mal sabem que a Uber não se importa e ainda por cima aproveita disso para ganhar alguns clientes.

Ao invés de promover “Promoções Relâmpago” ou “Tarifas Dinâmicas”, a Uber deveria começar a dar mais valor aos entregadores pagando um valor justo pela entrega. Se ela tem condições de pagar R$40 a hora para um motociclista ficar online, te garanto que ela tem recursos para pagar o valor real da entrega (R$7,90 menos os 30%). Se surgir um concorrente que aceite ciclistas, tenho certeza de que nenhum seguirá na Uber, mas enquanto não há concorrência, os ciclistas se matarão por R$3,50…

 

 

A Saga do Muro

Passou-se muitos meses desde quando eu iniciei a pintar o muro da casa de uma amiga e o término da pintura. Fico impressionado com a minha velocidade na hora de fazer algum trabalho. Deve vir da paciência do ato de gravar, mas na minha concepção, arte feita sem paciência, com pressa, não me satisfaz.

O muro era um muro antigo, alto, com dois portões grandes, uma portaria, e ladrilhos em relevo. A minha ideia inicial era pintar utilizando a forma e o relevo dos ladrilhos (isso me atrapalhou muito) tentando fazer algo que fosse mais “orgânico” e com influências do mural de Portinari da Igreja da Pampulha.

photo_2017-09-17_12-03-21
O famoso Muro

Desde quando eu comecei a pintura vários imprevistos surgiram. Eram dias de calor demais, e eu acabava ficando enjoado. Eram dias de muita chuva, e eu não trabalhava nesses dias. Às vezes tinha que fazer outros corres, às vezes tinha que comprar mais tinta, às vezes não ia ter ninguém em casa. Comecei a pintura, e pacientemente fiz 4 tons de azul, marquei algumas coisas com o branco e comecei a pintar.

20171016_140011.jpg
Marcação

O fundo seria predominantemente azul, em vários tons, com duas árvores no entre portões. O processo de pintura do fundo foi o mais demorado. Pacientemente pintando lado a lado de cada relevo do ladrilho, depois de algumas semanas, finalmente o fundo tomou forma.

 

Depois de terminar o fundo azul, veio a parte das árvores. Uma parte bem complexa para mim. Devido ao meu daltonismo, tive muitas dificuldades em conseguir fazer com tinta branca + pigmentos vários tons de verde e vários tons de marrom. Para piorar a minha situação, eu tinha me apegado muito à forma dos ladrilhos, e não consegui fazer uma árvore que ficasse boa, que desse um bom contraste.

 

Juntamente com a dona da casa, chegamos a conclusão de que a árvore não estava legal. Em conjunto com as nuvens feitas no fundo azul, ficou parecendo escolinha infantil. Impossível discordar dessa afirmação. Deixei de lado tudo isso, para me concentrar nos portões. Sem pressa eu iria bolar um plano para arrumar o que não estava legal.

Os portões foram a parte mais fácil. No fundo, sapequei vários tons de azul em spray, claramente “imitando” a Igreja da Pampulha. Cortei um estêncil com a imagem de um pássaro, o mesmo pássaro da Portinari, e fiz um padrão nos portões, alternando a cor do pássaro dependendo do fundo. Feito sem maiores dificuldades. Aproveitei, também, para remover as nuvens.

 

Para trabalhar na árvore, Natália <3, a pessoa das boas ideias, conseguiu me fazer desapegar da forma dos ladrilhos e passar a usar spray, material que eu já estava mais acostumado, e que, de fato, me ajudou com o resultado final.

DSC09784
Resultado Final

O resultado final foi um aprendizado para mim. Aprender a desapegar de uma ideia que não deu certo e buscar soluções para melhorar. O resultado ficou satisfatório para mim, para os moradores da casa e para a Nat, e eu não podia deixar de agradecer todos eles pela paciência, pelas ideias, pela disponibilização do espaço e pelo tempo que passamos juntos conversando, pintando, tomando um café e bolando as ideias. Valeu demais Sofia, Denize, Andreia, Willy, Nat, e todo mundo que passou para dar uma força.

É vida que segue!!

Ano Novo – Vida Nova

Nada melhor do que começar o ano com novos projetos em mente, circular velhas ideias, associar novos planos e tentar transformar tudo isso em algo produtivo. Apesar de ser graduado em Artes Visuais, tenho dúvidas sobre o quanto eu me dedicaria para viver nesse meio, por isso fico buscando outras formas de gerar renda, e tenho quase certeza de que eu não compraria esse estilo de vida correndo atrás de editais, participando de exposições e tentando sobreviver à esse mundo muito perverso do Circuito de Arte.

Gosto muito de produzir, gosto do trabalho, do esforço, de um stencil bem cortado, uma matriz de xilogravura bem cavucada, do processo litográfico, serigráfico, gosto de colar cartazes, perambular pela cidade descobrindo pontos para expor meu trabalho, reparar no que está exposto também. Minha relação com a arte é isso: produzir, expor, perceber. A partir disso conheci muitas pessoas, muitas imagens, muitas ideias, compartilhei experiências, oficinas, técnicas, e me agrada o lugar onde me encontro hoje. Não almejo sucesso, fama, riqueza, reconhecimento. Não quero nada disso. Quero fazer o que gosto de fazer, e tocar minha vida a partir disso.

Em 2018, decidi colocar em prática essa ideia. Vou fazer o que eu gosto de fazer. Como assim? Através deste blog, vou narrar todos os meus processos, todas as minhas dificuldades, vou compartilhar cada momento dessa minha nova vida profissional, regada de ideias e planos.

Em 2018 colocarei em prática minha ideia de ser autônomo no serviço de Bike-Courier. Desde 2008 que eu pedalo “todo santo dia”, carregava muito peso na bicicleta na época da faculdade, e atravessava a cidade para poder estudar. Agora é a hora de começar a fazer convênios e transformar esse serviço em realidade. Já andei fazendo algumas entregas de forma autônoma, e atualmente estou fazendo entregas para Uber Eats, mas isso ainda não me dá ganhos o suficiente para manter meus gastos. Criei uma planilha para agendamento de serviços de entregas, que pode ser preenchida no menu. Após preencher a planilha, eu entrarei em contato com o orçamento. Os preços que eu imaginei variam por localidade. A ideia é cobrar uma taxa de R$5,00 para buscar a encomenda e uma taxa variável por cada quilômetro desde o ponto de recolhimento até o destino.

Outro projeto relacionado à bicicleta é a questão das viagens, ou ciclo-turismo, ou ciclo-viagens, ou bikepacking. Apesar de pedalar há muitos anos, foi na passagem de ano de 2017 para 2018 que eu tive minhas primeiras experiências na estrada. Trajeto de 62km em direção à Serra do Cipó. É indescritível a sensação de se locomover entre cidades utilizando o movimento do corpo. Ora você se cansa, ora você descansa, mas no final de várias horas de pedalada, você já está bem firme em seguir em frente, sem medos ou receios. Minha ideia é publicar também minhas experiências nas estradas.

Sobre a arte, meus planos são produzir mais, postar sobre minhas técnicas, meus processos, e mostrar a finalidade de cada peça que eu produzo. Além de gravuras, eu possuo uma produção de pinturas em telas, e de estamparia. As estampas foram os trabalhos que eu tentei me dedicar mais nos últimos anos, pois camisas são mais fáceis de vender que quadros ou telas. Meus investimentos nessa área vão crescer, e espero conseguir escrever sobre tudo aqui.

Um amigo, Daniel de Carvalho, criou uma identidade visual para La Idea, e eu preciso retomar com ele esse processo. As logos criadas por ele estarão na loja online e neste blog, além de toda peça publicitária para divulgar meus serviços.

Eu tenho várias ideias de estampas, posters e adesivos que precisam ser colocadas em prática. Muita coisa foi feita e está armazenada no computador, esperando o dia em que se tornarão físicas.

Enfim, está inaugurado oficialmente este blog. Espero que tudo dê certo.