IMAGINOKUPA #1

Comida Popular

“Comida Popular” é como ficou conhecido o imóvel ocupado no beco 77 do bairro periférico Libertador. É uma pequena casa de dois pavimentos transformada em um restaurante com várias peculiaridades.
O imóvel foi abandonado nos anos 70, após o boom econômico da região, o que fez com que várias famílias migrassem para casas maiores ou mais próximas do Centro da cidade. Quase 35 anos depois, um grupo de jovens aventureiros acessaram o imóvel com o intuito de pintar grafittis nas paredes para servir de cenário para um videoclipe, mas se depararam com as paredes completamente tomadas por vegetação, impedindo a prática com as latas de spray. Naquele momento o clima era de frustração e aquelxs jovens se sentaram no segundo andar para traçar estratégias de como transformar o local em um bom cenário para a música de protesto que eles cantavam.
No decorrer das conversas, xs jovens estranharam o fato de haver tamanha vegetação em um local abandonado há anos, e começaram a investigar as plantas que cresciam ali. Algumas foram reconhecidas rapidamente, como a Ora-pro-nobis que subia desgovernada pelas pilastras externas. Outras, como o Peixinho, foram reconhecidas com certa dificuldade por alguns deles que já haviam provado a iguaria.
Acontece que a notícia se espalhou em diversos grupos, e foi montada uma força-tarefa para catalogar as plantas existentes naquele local. No grupo que se formou haviam biólogxs, cozinheirxs, nutricionistas, artistas de diversas áreas, eletricistas e pessoas desocupadas, que não se definiam por uma área de trabalho específica. Após várias reuniões no local, e com o catálogo de plantas quase completo, foi descoberto um sistema de captação de água que mantinha úmida todas as plantas, além de uma certa “fauna” que manteve a reprodução e a adubação dos pequenos vasos por todo esse tempo. As grandes portas de vidro auxiliavam a entrada da luz. Era um verdadeiro ecossistema auto-gerido que havia sido criado pela própria natureza no decorrer dos anos.
O grupo de pessoas, inspirado pela descoberta, decidiu por transformar o local em um restaurante público. A ideia era servir almoço a preços irrisórios ou até de forma gratuita. Formou-se Comitês onde o trabalho do dia era dividido, e havia rotatividade de pessoas entre os Comitês para que todxs pudessem aprender e/ou ensinar novas habilidades, seja na cozinha, no plantio ou na manutenção do local.
79% das refeições servidas na “Comida Popular” têm sua origem na própria ocupação, sendo o restante oriundo de parcerias com outros locais que fornecem arroz, fubá e azeite, por exemplo. O Peixinho frito no fubá é um dos pratos favoritos das pessoas que frequentam o local. O prato vem com 3 folhas grandes, arroz, grão de bico, tomate, alface e ervilha.
O local é mantido apenas com os ganhos da hora do almoço, e isso ajuda a financiar as pesquisas sobre a flora local, também a manutenção e a compra de alguns suprimentos de limpeza e higiene. A ocupação tem sido um ponto de referência na periferia da cidade, e foi acolhido pela comunidade local como um dos espaços mais importante da região. Foi, inclusive, o apoio comunitário que impediu o despejo do grupo gestor e da atividade de restaurante pelo menos em 5 ocasiões, onde os antigos donos do imóvel exigiam, entre outras coisas, que um valor de aluguel fosse pago.
“Comida Popular” segue firme com as atividades, atraindo trabalhadorxs, estudantes e curiosos de diversas regiões que fitam compreender como funciona a ocupação. Atualmente, a Força-Tarefa conta com aproximadamente 17 pessoas que se revezam voluntariamente entre os Comitês de Limpeza e Higiene; de Plantio e Colheita; de Elétrica e de Água; de Preparo e Manuseio e o de Captação e Propaganda. Este último Comitê produz cartilhas sobre plantio, preparo e alimentação com Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANC’s), Nutrição Vegana, formas de gestão coletiva e informes sobre a ampliação das redes de influência formadas juntamente à outros Coletivos e Ocupações.
O beco 77 do bairro Libertador nunca mais foi o mesmo depois da descoberta dos jovens.

Treino de desenho

Desde o final do ano passado eu tenho tentado desenhar casas que eu salvo do Pinterest, utilizando sempre uma mesma estética, praticamente os mesmos materiais e tals. Tem sido uma atividade bem massa e eu consigo perceber uma evolução no quesito desenho de observação e na utilização da imaginação para compor e colorir.
Ano passado ou retrasado, não me lembro, tinha feito uma pintura em aquarela de um conjunto de casas ocupadas. Eu curti muito o desenho e a pintura, mas acho que o céu hoje não me agrada a forma e as cores que utilizei. Depois publico foto dela (acho que me esqueci de publicar ela aqui, rs). Mas isso me deu uma certa vontade de estudar mais, de arriscar mais.
Ano passado cheguei a fazer 4 desenhos/pinturas de casas utilizando marcadores chanfrados e bico de pena com tinta nanquim. Foram experiência interessantes, pude desenvolver bem a imagem e também aprendi muito a usar os marcadores a base de álcool. São os mesmos marcadores “tons de pele” que eu tinha comprado um tempo atrás e que até cheguei a fazer alguns desenhos com eles em um breve teste. Minha amiga Jay tinha comentado que os marcadores a incomodavam pelo fato de que ficam muito “marcados” na imagem (e, de fato, ela faz umas passagens de tons bem suaves, muito diferentes da marca que os marcadores deixam no papel), e eu fiquei pensando em como poderia tentar escapar desse tipo de efeito mais grosseiro. Ainda que várias destas primeiras imagens possuam traços bem marcados, com o tempo eu fui aprendendo a utilizar melhor as potencialidades destes marcadores. As fotos a seguir mostram a sequência dos desenhos no sketchbook que eu separei exclusivamente para isso.

House-sketcher depois de estudar melhor

Depois de um tempo pintando somente com as cores “tons de pele” do kit que eu tinha comprado, decidi investir em mais cores, pois me sentia muito limitado aos tons de marrom. Infelizmente esses marcadores são muito caros, e acabo comprando 1 ou 2 unidades apenas. Mas eu descobri que o ideal é sempre comprar cores parecidas, um tom claro e um tom médio/escuro, pois assim fica mais fácil fazer as passagens entre as cores.
E eu fico falando tudo isso sobre cor, mas eu nem sei se isso necessariamente faz sentido, pois sendo daltônico essa parte técnica é um pouco mais complicada.
Após estes estudos, eu acabei comprando um curso de desenhar casas no Doméstika. É um curso bem básico, mas que eu curti muito. Me senti bem confiante, por exemplo, de desenhar as casas sem fazer esboço com lápis, já começar com o bico de pena e o nanquim, na tora. Me senti muito profissional fazendo isso, rs. Também acho que o curso me ensinou a utilizar melhor o espaço do papel, centralizando a casa e deixando espaços vazios no entorno também. Isso deixa o desenho mais leve. Outra coisa foi a utilização da cor branca. No curso, o professor utiliza uma Posca branca para fazer uns efeitos de luz que eu achei bem interessante. Ele também ensina bem a fazer a degradê com os marcadores, transformando a borda grosseira da tinta em algo beeeem mais suave. Outra coisa foi a confiança em agregar elementos do meu imaginário no desenho. Antes eu seguia a foto à risca, alterando poucas coisas. Nos próximos sketches vocês perceberão que as casas possuem mais elementos e mais ousadia também. Acho que curti esses modelos.

Todos os desenhos foram digitalizados e levemente tratados para se assimilarem melhor ao que está no sketchbook. Subi um pouco o contraste, diminuí o brilho e dei uma calibrada nas cores (mas para um daltônico, pode ser que esteja tudo diferente, hahaha). Quando vocês me fizerem uma visita, peça para ver meus sketchbooks, e aí vocês podem tirar as próprias conclusões.
O projeto final lá do Doméstika pode ser visto clicando aqui.
Enfim, gostaria que vocês pudessem me fornecer opiniães e comentários sobre esse processo também. O que acharam?